* Por Fábio Seixas
O GP não foi dos melhores.
Menos agito do que este blogueiro esperava, o mesmo número de abandonos de Melbourne, a chuva não apareceu, a vitória foi selada logo nos primeiros metros.
Lá na frente, vitória de Hamilton, seguido por Rosberg e Vettel.
Mas a notícia para o público brasileiro ficou um pouco mais atrás. Uma grande notícia. O exorcismo de um fantasma. A reafirmação de um piloto.
Massa desobedeceu.
Você leu certo.
Massa desobedeceu.
Após anos de subserviência de pilotos brasileiros a seus companheiros de equipe, Massa deu de ombros aos pedidos da Williams para deixar Bottas lhe passar nas voltas finais da corrida.
Simplesmente ignorou. Manteve seu ritmo. Segurou a posição. Cruzou na frente do companheiro.
Encontrou expressões carrancudas nos boxes? Causou mal estar com o companheiro? Vai ser chamado para uma conversa séria? Sim, provavelmente.
Mas e daí? Vai ser visto com outros olhos pela Williams e por toda a F-1. E isso vale muitíssimo.
Um alívio...
Depois de um sábado debaixo d'água, a corrida aconteceu com pista seca, 32ºC no ar, 50ºC no asfalto e 60% de umidade.
Na largada, Hamilton manteve a ponta. Vettel tentou impedir Rosberg, jogou o carro para a direita, mas não conseguiu: perdeu a posição. Ricciardo também largou muito bem e deixou o tetracampeão para trás.
Massa ganhou quatro posições. Bottas, punido com três posições no grid por bloquear Ricciardo na classificação, foi ainda melhor: passou oito carros.
Magnussen tocou em Raikkonen, e o finlandês levou a pior, com o pneu traseiro esquerdo furado. Acidente de corrida.
E Bianchi e Maldonado bateram. O francês acabaria levando um stop & go pelo choque.
O top 10 ao fim da primeira volta, Hamilton, Rosberg, Ricciardo, Vettel, Alonso, Raikkonen, Hulkenberg, Magnussen, Button e Massa.
Na segunda volta, Button passou Magnussen. Massa fez o mesmo na quarta volta, mas levou o troco.
Falando em troco, Vettel deixou Ricciardo para trás.
E a emoção acabou aí. A partir de então, pouquíssimo agito na pista, nada além de pits stops e blablablás pelos rádios.
O primeiro foi justamente da Williams. Bottas tentou uma primeira aproximação de Massa, e o brasileiro reclamou: "Vocês viram o que ele fez?"
O finlandês não ficou lá muito contente e retrucou: "Eu tenho mais ritmo do que ele".
Mas obedeceu, ficou na dele.
É, amigos, algumas coisas mudam com o tempo...
Maldonado abandonou, fazendo companhia a Pérez, que nem saiu.
Na nona volta, Magnussen abriu os pits entre a turma da frente. Um grupo que ele deixaria em breve: foi punido pela batida em Raikkonen, o que arruinou a corrida do dinamarquês. Excesso de mimimi, na minha opinião.
Duas voltas depois, o terceiro abandono: Bianchi.
Na 12ª, pit para Alonso. Ricciardo entrou na seguinte. Os dois se encontraram na pista, travaram um belo duelo, com vitória do australiano.
Vettel e Button pararam na 14ª. Rosberg, na 15ª. Hamilton, na 16ª. Hulkenberg entrou na seguinte, fechando a primeira janela de pits.
O top 10 ficou então com Hamilton, Rosberg, Vettel, Ricciardo, Alonso, Hulkenberg, Button, Massa, Kvyat e Bottas.
Veio, então, mais um rádio-controle. A Red Bull pediu para Ricciardo aliviar o ritmo. "Quero ficar por perto. Se alguma coisa acontecer ali na frente, quero fazer parte", chiou o australiano.
Na 20ª volta, o quarto abandono: Vergne.
Na 23ª, Kvyat abriu a segunda janela de pits, colocando os pneus duros.
Enquanto isso acontecia, a Mercedes alertava Hamilton para poupar o motor. Seria uma constante durante a prova, os alertas dos boxes ao inglês.
Na 25ª, Magnussen entrou. Na 26ª, Button. Na 28ª, Alonso e Massa. Na 29ª, pausa para o bocejo, Ricciardo fez sua segunda parada.
A melhor briga, ou a única, era a de Grosjean, 13º, tentando passar Kobayashi, que fazia uma corridaça com o calhambeque da Caterham. Na 31ª volta, o francês ganhou a posição.
Começou, então, um papo sobre chuva. Torcedores do mundo todo se deram as mãos, esperando um pouco de emoção.
Mas, apesar de algumas tímidas gotas no miolo da pista, de algum zunzunzum aqui e ali, o asfaltou permaneceu seco. E continuou o lenga-lenga dos boxes...
Vettel entrou na 32ª. Kobayashi e Rosberg, na seguinte. Hamiton, o líder, na 34ª, colocando os médios, assim como seus perseguidores.
Na 35ª, Sutil encostou em plena reta dos boxes. O quinto abandono. Gutierrez ficou pelo caminho logo depois, o sexto a deixar a prova.
A 15 voltas do fim, quando já rolava a terceira janela de pits, Hamilton tinha 11s110 sobre Rosberg.
Foi quando a Red Bull fez lambança com Ricciardo. Liberaram o australiano antes que o mecânico tivesse encaixado a roda dianteira esquerda. Ele teve de ser empurrado de volta à posição e, quando retornou, já estava uma volta atrás do pelotão.
Azar demais? Não. Porque na sequência ele tocou em algo ou alguém na pista, danificou a asa dianteira e o pneu dianteiro direito. Teve de voltar aos boxes.
Acabou? Não. Ele levou um stop & go por ter sido liberado dos boxes de forma insegura.
Que domingo, viveu o australiano...
Bottas fez seu terceiro e último pit na 45ª e saiu bem próximo do companheiro.
Formou-se, então, um trenzinho. Button-Massa-Bottas.
E a coisa ficou interessante.
Massa chegou em Button, na disputa pela sexta posição. Mas durou pouco, não chegou a haver uma briga. O inglês abriu vantagem.
Vettel entrou na 50ª. Rosberg, na seguinte. Hamilton, a quatro voltas do fim.
Ricciardo, lembram dele? Abandonou a prova, igualando o número de abandonos de Melbourne.
A três voltas da bandeirada, enfim, a cobra fumou.
Alonso e Hulkenberg fizeram a 53ª volta lado a lado, com várias trocas de posição. O espanhol venceu e ficou com a quarta posição. Uma disputa leal, a melhor da corrida.
E a Williams liberou Bottas e Massa para o duelo. Mais: deixou claro para o brasileiro que, desta vez, era o finlandês que tinha um carro mais veloz.
"Deixe ele passar", disse a equipe. Mais explícita, impossível.
Um momento-chave para a carreira do brasileiro na F-1.
Deixar passar seria vestir novamente o macacão ferrarista. Impor-se seria mostrar posição, firmeza, amadurecimento.
Bottas tentou, tentou, mas não conseguiu dar o bote. A Williams, então, pediu que eles mantivessem as posições.
Claramente, estava temendo um choque.
O finlandês cruzou a linha de chegada 0s461 atrás do brasileiro.
Pelo rádio, demonstrou toda a sua insatisfação. "Tenho 100% de certeza de que eu chegaria no Button", disse.
Talvez chegasse. Talvez Massa tenha sido egoísta. Mas por mais antidesportivo que isso pareça, é a conduta dos grandes na F-1.
Com o resultado, Rosberg foi a 43 pontos no Mundial. Hamilton tem 25, seguido por Alonso, com 24, e Button, com 23.
Bottas é o oitavo, com 14 pontos. Massa somou seus primeiros pontos com a Williams: tem 6, na décima posição.
Entre os Construtores, a Mercedes tem 68 contra 43 da McLaren e 30 da Ferrari. A Williams aparece em quarto, com 20.
Se a corrida foi morna, os próximos dias devem ser quentes nos bastidores.
Neste caso, ainda bem.