quinta-feira, 6 de março de 2014

O que a pré-temporada nos mostrou*

* Por Luis Fernando Ramos


Foram 34 dias desde que a luz verde se acendeu em Jerez até a bandeira quadriculada encerrar as atividades de ontem no Bahrein. Eu estava lá no pontapé inicial e não deixa de ser significativo que o primeiro carro a ir para a pista, logo às 9hs da manhã da terça 28 de janeiro, tenha sido uma Mercedes. Começaram os testes na frente e devem começar o ano da mesma forma. Mas o que mais a pré-temporada nos mostrou? Confira:

1) O ano começa com três divisões
O primeiro efeito da nova regra de motores foi dividir a F-1 em três categorias: os carros com Mercedes na frente, os com Ferrari no meio e os com Renault atrás. Existem intersecções - a Ferrari está melhor que a Force Índia -, mas o quadro é esse para o início do ano. Resta saber se e quando as coisas vão se equilibrar.

2) Nova geração de carros não deve nada à anterior
O melhor tempo de Felipe Massa no Bahrein foi menos de um segundo mais lento que o tempo da pole position de Nico Rosberg na corrida do ano passado. Existem alguns atenuadores: o brasileiro usou os compostos supermacios, o alemão o composto médio (cujo equivalente desse ano seria o macio). E a marca de Massa foi feita no final da tarde, com temperatura mais amena. Ainda assim: em cima da expectativa dos modelos atuais ganharem de três a quatro segundos em performance até o final da temporada, os novos F-1 têm tudo para acabar o ano andando mais rápido que os antigos.

3) Pilotos voltam a precisar de sensibilidade no pé
Mais que explorar os comandos de um sistema que traz energia extra durante a maior parte da volta, os pilotos da Fórmula 1 estão se adaptando a um carro com tanto torque que exigem muita sensibilidade na reaceleração. Para uma geração que se acostumou com garros “grudados” no chão pela aerodinâmica refinada, vai ser interessante ver se o número de erros vai aumentar.

4) Mercedes é a favorita para o título
Equipe de fábrica do motor mais eficiente, time que mais voltas completou na pré-temporada, andou sempre entre os primeiros, fez simulação de corrida já em Jerez, sofreu poucos problemas mecânicos, possui uma dupla de pilotos experiente e vencedora: o fato é que a Mercedes tem a faca e o queijo na mão para garantir o título deste ano. Ainda que Ferrari e Red Bull se recuperem, ela tem orçamento suficiente para manter o mesmo ritmo de desenvolvimento destas e administrar a vantagem que deve obter nas primeiras corridas da temporada.

5) Williams pode ter seu melhor ano em mais de uma década
A Williams não fica entre as três primeiras colocadas do Mundial de Construtores desde 2003 e deve começar na Austrália como uma das três melhores equipes do grid, junto de Mercedes e McLaren. Além disso, demonstrou na última semana de testes aliar performance com confiabilidade. Começando bem o ano, tem tudo para terminá-lo na melhor posição desde a saída da BMW.

6) McLaren vai voltar a ser grande
A McLaren poderia ter entrado numa espiral descendente após o fraco modelo do ano passado. Mas o time agiu rápido e o MP4-29 se mostrou um carro veloz em uma volta rápida desde o início - tanto que o foco na última semana no Bahrein foi desenvolver sua constância em ritmo de corrida. Mudanças também na administração, com Ron Dennis assumindo um papel mais presente; e na dupla de pilotos com a chegada do promissor Kevin Magnussen. O time de Woking vai andar entre os primeiros este ano, justamente a base que precisava para começar com tudo a parceria com a Honda a partir de 2015.

7) Ferrari pode incomodar
Os italianos têm a dupla de pilotos mais forte do grid e fizeram a enésima reforma na sua equipe técnica para abocanhar o título. Mas começaram claramente atrás dos motores Mercedes em termos de desempenho. Só que não muito. Se coordenar bem o uso de seus recursos no desenvolvimento do F14T, o time italiano terá tempo para recuperar um eventual terreno perdido no início do ano. Com Fernando Alonso e Kimi Raikkonen, o time tem ainda dois pilotos acostumados a tirar sempre o máximo do potencial do carro.

8) Red Bull não está derrotada ainda
Tetracampeã mundial, a Red Bull comeu o pão que o diabo amassou na pré-temporada. Os problemas dos motores Renault foram potencializados pelo empacotamento radical de componentes dentro do RB10 feito por Adrian Newey. O resultado foi um carro que mal andou e andou mal quando o fez. O time vai para a Austrália sem ter feito nenhuma simulação de corrida e sem trabalhar em cima da performance do carro. Mas a concorrência já reconheceu o potencial dele, com Hamilton afirmando que eles serão muito rápidos quando os problemas desaparecerem, Massa e Button compartilhando a mesma impressão. A temporada é longa, mas o desafio de recuperar o que devem perder nas primeiras corridas será imenso.

9) Force Índia deve reinar no meio do pelotão
Atrás das três citadas equipes com motores Mercedes e da Ferrari, o pelotão intermediário na Austrália terá a Force Índia sobrando diante de Sauber, Toro Rosso e de uma Red Bull e uma Lotus com carros que parecem incapazes ainda de terminar uma corrida. Ainda que estas duas últimas se recuperem ao longo do ano, o time de Silverstone tem uma boa chance de somar bons pontos no início para buscar uma posição respeitável no Mundial de Construtores ao final da temporada.

10) Marussia é a nanica com mais potencial
A equipe surpreendeu na última semana de testes obtendo bons tempos com seus dois pilotos. O time, que usa motores Ferrari, pode se aproveitar dos problemas de quem usa Renault para, com um pouco de sorte, beliscar seu primeiro ponto na Fórmula 1. Ainda que não consiga, parece pule de dez para bater a Caterham com facilidade neste ano.

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