* Por Lívio Oricchio
Seguindo a ordem de classificação no Mundial de Pilotos a vez agora é de Romain Grosjean, da Lotus.
Afinal, você é francês ou suíço, lhe perguntei, creio que em Valência. “Nasci na Suíça e minha mãe e minha esposa são francesas. Você pode escolher a minha nacionalidade.”
Três pódios naquela que podemos considerar a temporada de estreia na Fórmula 1 não é mau, mesmo que o companheiro tenha somado 207 pontos e ele, 96. Marcou pontos em 10 Gps. Esse foi o lado bom da história. O ruim: envolveu-se em vários acidentes. Em muitas ocasiões a responsabilidade foi sua.
Grosjean é inequivocamente rápido. Mas sua ansiedade o desestabiliza, em especial no início das corridas. Eric Boullier, diretor da Lotus, é um dirigente fora do padrão da Fórmula 1. Se te conhece, conversa sem estabelecer aquele paredão blindado tão comum no evento. Disse-me que seu desafio era conter o ímpeto de Grosjean, fazê-lo entender que nem tudo se decide na primeira volta do GP.
A dúvida que muita gente tem na Fórmula 1, e é a minha também, é se Grosjean evoluirá a ponto de preservar ou ainda melhorar seus dotes de velocidade com a necessária racionalidade exigida pela competição.
Seu lugar na Lotus não está confirmado. Se dependesse apenas de Boullier, tudo já estaria resolvido: Raikkonen e Grosjean seguirian como a dupla da equipe. Ocorre que Boullier já sabe que até seu cargo está ameaçado, agora. Gerard Lopez, proprietário do grupo de investimento Genii, dono da Lotus, tem dívidas, em especial com a Renault, fornecedora de motor e o sistema de recuperação de energia (Kers). Custa a bagatela de 16 milhões de euros por temporada. Até onde sei, já são dois anos sem pagamento.
A Lotus está sendo negociada. Há um grupo de investidores apoiado por Bernie Ecclestone que pode assumir o time que tem em Estone, Inglaterra, bela estrutura. Passei um dia na equipe. E se esse negócio sair, nem Boullier nem Grosjean continuam.
O suíço ou francês teve momentos de júbilo e de consternação, como na largada do GP da Bélgica, em que por muito pouco não decapitou Fernando Alonso. A ousadia desmedida lhe custou a suspensão de um prova. E poucas vezes vi alguém encarar com tanta dignidade a punição.
Na minha avaliação Grosjean recebe nota 6.
Nico Rosberg
Engraçado. Tenho amigos que o respeitam bastante como piloto. Outros nem tanto. Não o vejo como um Hamilton, por exemplo, de quem perdia com regularidade na época de companheiros na Mercedes-Benz-McLaren Team (MBM) no kart. Vão compartilhar agora uma escuderia de Fórmula 1, a Mercedes. Será um imenso desafio para Nico. O maior da carreira.
Este ano obteve a primeira vitória e a primeira pole. Mas a evolução do carro da Mercedes ficou muito aquém do que fizeram Red Bull, Ferrari e McLaren. E Nico pôde mostrar menos o seu valor. Em 2013, vai pegar o vácuo do crescimento da Mercedes gerado com a chegada de Hamilton e a própria reestruturação da equipe, em curso. Mas, como falei, mostrar o que pode tendo como referência um dos maiores talentos da Fórmula 1, Hamilton, não será fácil.
No começo do ano quando a diferença do desempenho da Mercedes para os concorrentes era bem menor que no meio e no fim da temporada, Nico foi bem. Mas posso dizer uma coisa? Vendo os treinos de perto, fiquei com a nítida sensação de que com aquele carro pilotos como Vettel, Alonso ou Hamilton fariam muito mais.
As pessoas os veem na Fórmula 1 como arrogante. Comigo sempre foi cortês. Faz questão de cumprimentar, não usual nesse meio. Este ano, em Montreal, fui assistir ao Cirque du Soleil e na entrada um cidadão me tocou no ombro com força. Estava com a namorada. Era Nico. Em 2011, quis saber de mim algumas histórias sobre a passagem de Montoya pela Fórmula 1, experiências do colombiano com a imprensa.
Pela temporada Nico leva 7.
Sergio Perez
Sabe uma das razões de o mexicano não ter sido cogitado com seriedade para substituir Massa em 2013, a certa altura do campeonato? Perez não se adaptaria nunca à filosofia da Ferrari. De eventualmente um piloto, sem chance de título, trabalhar para o outro. Tenho amigos na Sauber, como já escrevi aqui. Viajamos juntos com regularidade por eu voar com a Swiss, a partir de Zurique, sede do time.
E eles me contam, discretamente, respeitar a gana de obter resultados de Perez, mas discordam de seus métodos, ou seja, parece um menino mimado. Tão jovem e tão cheio de autoridade. Imaginem alguém assim na Ferrari. Não funcionaria mesmo.
É rápido. Bom piloto. Mas provavelmente menos do que pensa ser. Até ser anunciado pela McLaren, realizava bom trabalho: segundo na Malásia, terceiro em Montreal e segundo em Monza. A partir do Japão, contudo, passou em branco seis etapas.
Tenho certeza de que, a essa altura, Ron Dennis, sócio da McLaren, deve estar preocupado. Mas é cedo para imaginarmos que Perez não irá se dar bem na McLaren. O que é certo, desde já, é que a relação com Button não será das mais fáceis, com toda a classe do britânico.
Perez tem nota 6.
Nico Hulkenberg
Taí um piloto com potencial para crescer na Fórmula 1. Quanto? Minha experiência mostra ser impossível saber. Mas apostaria boas fichas nas suas qualidades. Depois de um início de temporada hesitante, mostrou-se mais tarde bem mais eficiente que o companheiro, o conceituado Di Resta.
Se a Sauber refizer o bom carro deste ano, Hulkenberg poderá disputar belo campeonato. Dessa geração de novatos, Grosjean, Perez, Kobayashi, Di Resta, Maldonado, Bruno, Ricciardo, Vergne, Pic, vejo Hulkenberg como o de maior potencial para chegar a uma equipe de ponta em 2014.
Nota pela temporada: 8
Kamui Kobayashi
Veloz, simpático, simples, bom de corrida, fraco de classificação, ótimo de o time trabalhar. Com tudo isso, está sem lugar na Fórmula 1 em 2013, por enquanto. Kamui é, sem dúvida, o melhor piloto japonês que já apareceu na Fórmula 1. Ainda alterna ótimas performances com outras confusas. Torço para continuar na competição.
Nota de Kobayashi: 6
Michael Schumacher
Já escrevi tanto, este ano, sobre o piloto mais completo que vi correr. Infelizmente quem lê o que penso imagina que não valorizo Emerson, Piquet, Senna. Senhores, por favor. Se hoje sou jornalista especializado em automobilismo é porque tivemos os três, de quem fui fã, não apenas um profissional designado para cobrir seus eventos como profissional de comunicação.
Acompanhei de perto quase todas as 306 corridas de Schumacher na Fórmula 1. Creio não ter ido a no máximo 8 delas. A experiência me permitiu conhecê-lo bem como piloto e um pouco como homem. O entrevistei muitas vezes. Graças a ele próprio e sua assessora, a sempre solícita comigo Sabine Kehn.
Sabe a sensação que tive, em especial este ano, depois de ver Schumacher se arrastar nas pistas e ir pedir emprego na Sauber e na Ferrari, depois de ser dispensado pela Mercedes? A de um fã que vê o ídolo se perder tecnica e psicologicamente. O pior não foi o desempenho bastante ruim de Schumacher, mas sua falta de consciência do porquê daquilo.
Em algumas conversas profissionais com ele eu dizia a mim mesmo, depois de ouvi-lo: “Meu Deus, Schumacher tem certeza de que o problema não é ele, mas o carro, o time, os adversários…” Numa das minhas colunas, redigi: “Schumacher, pare de correr, por favor. Se não por você, pelas pessoas que o admiram”. Será que estava mesmo se divertindo, este ano, andando tão atrás, envolvendo-se em tantos incidentes? Tenho minhas dúvidas.
Nota pelo ano: 4
Paul Di Resta
Sentiu o golpe, este ano, ao ver Nico Hulkenberg sair-se, na segunda metade do campeonato, melhor que ele. Viajamos juntos, às vezes, para Nice, por Di Resta residir em Mônaco. Já conversamos informalmente. Meus amigos jornalistas o veem com reservas, pois não demonstra muito interesse nas entrevistas.
É bom piloto. Mas talvez menos do que se pensava.
Pelo ano, ganha nota 6.
Pastor Maldonado
A sinceridade desse cidadão é única. Bate papo com você como se fosse um amigo. Incrivelmente tem consciência de tanta coisa que quem o vê apenas pilotar não imagina ser possível. Não hesita em assumir riscos. E como é rápido, amigos. Pena aquela pessoa sensata das conversas não se transferir para dentro do cockpit. Erra com frequência elevada. Imagine que depois de vencer com brilhantismo o GP da Espanha, permaneceu nove etapas sem marcar um único ponto! É muita coisa. Em 20 provas, chegou apenas cinco vezes entre os dez primeiros. Pouquíssimo para o carro que possuía. Espero que aprenda com os equívocos deste ano. Torço por seu sucesso.
Nota pelo ano, muito em função de vencer em Barcelona: 7
Bruno Senna
Viviane me contou, numa das entrevistas mais tocantes da minha carreira: “O Berger foi assistir ao primeiro teste do Bruno com um carro de corrida, Fórmula BMW, e depois me disse: ‘O Bruno leva jeito para a coisa’. Quase caí sentada. A partir desse momento passei a apoiá-lo.”
Bruno tinha 20 anos já. Idade que muitos pilotos estão, hoje, chegando à Fórmula 1. Dá para entender as dificuldades de Bruno? Os concorrentes estão muito mais preparados. Têm bem mais horas de voo, sempre importante. Formaram-se seguindo o padrão clássico e o que melhor resultado gera: kart e monopostos crescentes em potência e nas idades ideais.
Tenho comigo que a maior dificuldade de Bruno na Fórmula 1, tirar o máximo de performance do pneu Pirelli na volta lançada na classificação, relaciona-se com essa sua formação técnica deficitária. Nesse momento o piloto tem de confiar plenamente em si e no equipamento, acreditar ser possível frear cinco metros adiante, por exemplo.
Com as diferenças de milésimo de segundo da Fórmula 1 atual, essas pequenas imperfeições na volta de classificação de Bruno o deixam alguns décimos de segundo para trás, suficiente para não fazê-lo avançar mais do 13.º, 14.º lugar, na média. E começar a corrida a partir dessas colocações no grid significa quase dar adeus às chances de melhores resultados.
Com tudo isso, Bruno ainda marcou pontos em 10 das 20 etapas, este ano. Seu ritmo de corrida contrasta com o da definição no grid. Bruno é rápido, constante e comete poucos erros. Não deu mostra, até agora, de ser um campeão do mundo em potencial, mas para quem começou a correr tão tarde, se formou de maneira tão incompleta, Bruno vai além da expectativa.
Não ter o contrato renovado na Lotus e na Williams repercutiu negativamente na Fórmula 1. Tanto que Bruno até já testou um carro do DTM, o conceituado Campeonato Alemão de Turismo, caso não seja o escolhido por Force India e Caterham, onde ainda tem possibilidades. Tomara que permaneça na Fórmula 1.
Bruno tem nota 7.