* Por Lucas Santochi
Com exceção de Sebastian Vettel, se tem um piloto que saiu de Interlagos contente (talvez aliviado seja a melhor palavra) foi Felipe Massa. A virada que o brasileiro conseguiu no segundo semestre foi impressionante, fazendo corridas até mesmo melhores do que Fernando Alonso.
Felipe teve um ano de 2011 muito ruim, com desempenho abaixo do que um piloto da Ferrari precisa mostrar. Na etapa final daquela temporada, no Brasil, perguntei para ele na sua última coletiva de imprensa oficial o que ele levaria para o ano seguinte. A resposta: “Sobre 2011, acho que não tem nada de bom. Cancelar tudo e começar 2012 diferente”, disse.
Só que o campeonato de 2012 começou e a situação piorou ainda mais. Massa se arrastava na pista enquanto Alonso lutava pela ponta do campeonato. Os primeiros pontos dele vieram apenas na quarta corrida com o nono lugar no GP do Bahrein. A essa altura, o espanhol já tinha 43.
Ao final da primeira metade da temporada, na 10ª etapa do ano, em Hockenheim, Alonso era o líder da classificação geral com 154 pontos enquanto o brasileiro era apenas o 14º com 23.
O mundo caiu sobre a cabeça de Massa. As críticas na imprensa italiana foram pesadas, especialmente da revista “Autosprint” e no jornal “La Stampa”, que chegou a chamá-lo de “desperdício de gasolina”. Ao mesmo tempo, o nome de Sergio Pérez passou a ser aclamado, graças, especialmente, aos pódios na Malásia e no Canadá.
No Brasil, Felipe também foi muito criticado. Aqui no Tazio, inclusive. Mas era possível defender o desempenho dele? O próprio Massa admitia que não estava bem. Em uma passagem por São Paulo durante as férias de agosto para participar dos treinos da Copa Fiat, campeonato de turismo do qual ele é padrinho, o piloto da Ferrari não tentou esconder a má fase e disse que estava trabalhando para tentar reverter a situação.
“Todo ano tem um problema que temos que nos concentrar e passar por cima. É mais um problema e estou me preparando e me concentrando o máximo para ter uma segunda parte de campeonato melhor. E preparo não falta e vontade ainda mais para continuar a correr na Ferrari, na F1, e representar o Brasil”, disse na época.
E ele conseguiu. A partir daquele momento, ele marcou pontos em todas as corridas da temporada somando 99 nesta fase. Lembrando que em pelo menos três oportunidades ele teve que fazer jogo de equipe pela Ferrari (ao não atacar Alonso na Coreia, ao ter o lacre de sua caixa de câmbio rompido nos Estados Unidos para posicionar melhor o espanhol no grid e ao deixar o companheiro passar no Brasil).
(Observação: deixando claro que entendo e acredito que a Ferrari acertou, pelo menos nos casos da Coreia e do Brasil, em fazer jogo de equipe, algo que faz parte do automobilismo desde sempre e que a própria rival Red Bull já praticou em outras oportunidades, como na própria corrida em Interlagos.)
Caso Massa tivesse feito uma primeira metade de campeonato semelhante, ele teria somado 198 pontos ao final da temporada, o que o deixaria na quarta colocação do campeonato.
O ponto alto, claro, foi o terceiro lugar no GP do Brasil, em uma corrida em que ele teve uma atuação praticamente perfeita, ajudando seu companheiro em diversos momentos da prova e abrindo mão do segundo lugar, após chegar a cair para 11º por causa de um erro de estratégia nas paradas para troca de pneus. Provavelmente a sua melhor atuação desde o acidente que sofreu no GP da Hungria de 2009.
O choro no pódio ilustrou bem o tamanho do peso que ele estava carregando. Quem acompanha a carreira de Massa sabe que ele não é de deixar lágrimas correrem à toa. Em público, desta forma, foram poucas as vezes. E talvez tenham o ajudado a extravasar muito do que ele sentiu no seu pior momento, que, segundo pessoas ligadas a ele, quase acabou com a sua carreira não só na Ferrari, mas dentro da F1.
Da mesma forma que era difícil querer defender o brasileiro até agosto, é impossível não ver e admitir a sua evolução. E terminar o ano em alta é muito importante. Felipe ficará agora pelo menos três meses sob o seu resultado em Interlagos, o que pode ajudá-lo a reconstruir de vez a sua confiança e entrar em 2013 em uma condição mais competitiva.
Por outro lado, é bom que os torcedores não se esqueçam de que Massa continua tendo o grande Fernando Alonso como companheiro e sendo empregado da Ferrari, equipe que tem uma política interna muito clara de apostar apenas em um cavalo.
De qualquer maneira, no mínimo, ele terá agora a condição psicológica para reverter a péssima imagem que acabou sendo construída nos últimos anos não só internacionalmente, mas também com o torcedores brasileiros, fazendo uma temporada competitiva e brigando por vitórias. Em caso de nova queda de desempenho, outra chance como a que a Ferrari lhe deu ao renovar o seu contrato para 2013 será difícil.
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