* Por Rodrigo Mattar
Para quem esteve em Interlagos, foi um espetáculo melancólico. Nove carros na pista e o Brazil Open de Fórmula 3 acabou com um único piloto vencendo as quatro corridas da programação: Lucas Foresti, com o Dallara Berta da Cesário Fórmula, dominou todo o evento, antes de voltar para a Europa, onde disputará o Campeonato Inglês de Fórmula 3 de 2011.
Acho válido se realizar uma competição deste porte, desde que as equipes também estejam imbuídas do mesmo objetivo. De que adianta ter tão escasso número de participantes, sabendo que desses nove pilotos, quatro estavam alinhados por uma única equipe – a Cesário Fórmula. No total, eram apenas quatro times inscritos e, como eu já dissera noutra postagem, desta vez não veio nenhum piloto de fora.
O Brazil Open, a rigor, foi um treino de luxo onde Victor Guerin e Pipo Derani também “desenferrujaram” os braços para poder viajar rumo à Europa neste ano e outros pilotos, como João Jardim, Bruno Bonifácio e Guilherme Silva buscarem adaptação aos monopostos mais potentes do que os seus equipamentos anteriores. João Jardim, por exemplo, esteve na Fórmula Future neste ano.
Uma pena, mas uma pena mesmo, é que a Fórmula 3 sul-americana tenha se transformado no que temos presenciado nos últimos anos. Grids baixíssimos, interesse zero dos pilotos de outros países do continente e, pior, uma debandada cada vez mais frequente de equipes que poderiam estar na categoria, como a de Amir Nasr e a PropCar de Dárcio dos Santos, mas que dependem de dinheiro para permanecer na disputa e não conseguem reunir nem metade da verba necessária para manter ativo um carro que é fabricado na Itália e um motor desenvolvido e preparado na Argentina.
A F-3 precisa de socorro, como toda a base do automobilismo nacional. O kart passa ainda por uma crise sem precedentes e o ponto culminante dessa crise foi que ano passado não existiu o Campeonato Paulista, tal como eu e muitos de nós chegamos a conhecer, com uma legião de pilotos ótimos – alguns excepcionais – mostrando talento no kartódromo de Interlagos. Surgiram opções menos custosas, como as competições de Aldeia da Serra e da Granja Viana, que pulverizaram o interesse.
E com o kart decadente, não se consegue fazer uma categoria de base feito a Fórmula Future começar com um número decente de pilotos. Em nenhuma de suas seis rodadas, este novo campeonato que estreou ano passado conseguiu colocar mais de 12 carros numa pista. Houve provas com sete inscritos, o que atesta a decadência da base do automobilismo no Brasil.
Bons foram os tempos em que dispúnhamos da Fórmula Ford, onde Hélio Perini arregaçava as mangas e fazia, de fato, um trabalho sensacional. A Fórmula Chevrolet também foi um bom esteio, partindo do princípio da “tropicalização” dos monopostos quando a categoria começou a passar por um período de crise. E me reservo o direito de não tecer comentários sobre a Fórmula Renault, pois a sua extinção lógica e evidentemente contribuiu para parte desse descalabro que vivemos.
Some-se ao vazio de Interlagos a situação em que se encontra o próprio autódromo desde que Octávio Guazzelli assumiu sua administração. Consta que o mato começa a crescer na margem da pista, num panorama muito semelhante ao vivido numa outra praça de igual importância, já sucateada pelo descaso dos governantes, que caminha para a extinção e – pior – não tem ainda um substituto definitivo.
Enquanto isso, deflagra-se nos bastidores, com o perdão da expressão, uma guerrinha absolutamente babaca e inócua sobre qual administração filiou mais pilotos que a outra ou que emitiu mais carteirinhas que a outra.
Isso não interessa. Números não significam absolutamente nada num momento como este.
Interessa a nós (por nós, incluo público, imprensa, patrocinadores, donos de equipe, pilotos e preparadores) regulamentos mais cristalinos – e que sejam cumpridos, calendários divulgados com antecedência e autódromos com o mínimo de dignidade para que se realizem corridas neste país.
O Brasil tem oito títulos mundiais de Fórmula 1, cinco conquistas na Fórmula Indy, seis vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, um Mundial de Endurance, dois de FIA GT, vitórias em Le Mans, Macau, Daytona e o escambau. Onde quer que tenha brasileiro na pista, tem sempre alguém beliscando uma vitória.
Mas o respeito por nós anda se perdendo.
Por que será?
Por que o automobilismo brasileiro formou uma geração que não foi capaz de repetir o que Emerson, Piquet e Ayrton fizeram por nós entre 1972 e 1991?
Fica a pergunta. Clamando por respostas lúcidas.