* Por Fábio Seixas
A F-1 tem um novo tetracampeão.
O mais jovem e o mais incisivo de todos.
E o mais questionado: um tetracampeão com cara de garoto.
Jornalistas muitas vezes banalizamos alguns termos. “História” e “era” são dois grandes exemplos.
Mas hoje é o caso de usá-los. Em alto e bom som, em letras garrafais.
Na Índia, Vettel fez história. Aos 26 anos, já pode batizar uma era na mais importante categoria do automobilismo.
Gostem ou não, vivemos a Era Vettel.
Que, lá vai a minha tese, é produto direto da era anterior.
Vettel cresceu vendo Schumacher destruir recordes. Tinha 14 anos e era kartista quando o compatriota foi tetra. Dava seus primeiros passos nos monopostos quando seu ídolo cravou o hepta.
Para ele, é normal ser um rolo compressor de recordes. Não há outra forma de ser.
Sorte da Alemanha.
A corrida que sacramentou seu quarto título seguido, algo que só Fangio e Schumacher haviam conseguido até hoje, foi um resumo da segunda metade da temporada.
No GP da Índia, em nenhum momento Alonso esteve em condições de ameaçá-lo. O espanhol terminou num melancólico 11º lugar.
A largada aconteceu com 30°C no ar, 34°C no asfalto e feia poluição sobre Buddh.
Vettel manteve a ponta, Alonso se deu mal e Massa brilhou.
O alemão até teve algum trabalho nos primeiros metros, se defendendo duas vezes de ataques de Hamilton. Mas prevaleceu.
Alonso foi tocado por Webber, que antes já havia acertado Raikkonen. Perdeu um pedaço do bico, o espanhol.
Massa lembrou seus melhores momentos. Livrou-se dos enroscos, foi passando um a um e, na curva 4, já era o segundo colocado.
Uma posição que lhe valeria a liderança na terceira volta, quando Vettel entrou nos boxes para se livrar dos pneus macios. Alonso também entrou e trocou o bico danificado.
Eis que o tricampeão se viu numa condição rara nos últimos anos: 17º lugar na terceira volta de uma corrida. Todo cuidado é preciso.
Lá na frente, a turma começou a parar. Hulkenberg entrou na sexta volta. Button, na sétima _e estranhamento colocou um novo jogo de macios. Na oitava, Rosberg e Raikkonen. Na seguinte, Massa e Hamilton.
A escalada de Vettel ia bem, obrigado.
Ele retomou a posição de Massa nos boxes e, na 11ª volta, já era o quinto colocado. Na 12ª, passou Grosjean. Na 13ª, Ricciardo.
“Só há um carro entre você e Webber: Pérez”, disse a Red Bull pelo rádio.
Na 21ª, Vettel resolveu o problema. Abriu a asa e passou o mexicano na curva 4. Vice-líder.
Alonso? Tinha vida difícil. À esta altura, era o 14º colocado (!?), após perder posição para Gutierrez (!!??).
Virou uma corrida estratégica. De um lado, os pilotos que largaram com pneus médios, apostando num primeiro stint mais longo. De outro, a maioria, a turma que saiu com macios e trocou para médios logo no começo.
Webber era o maior expoente do primeiro grupo. Vettel, o do segundo.
Isso durou até a 29ª volta, quando o australiano enfim trocou pneus. Retornou em segundo.
Tudo normal de novo, pois: dobradinha da Red Bull, mas com Vettel na liderança.
Na 31ª, começou a segunda janela de pits para o pessoal do top 10. Massa, Hamilton, Alonso e Di Resta entraram. Vettel parou na sequência.
Na 33ª, acreditem, Webber: foram apenas quatro voltas com os pneus macios. Ele conseguiu voltar atrás do companheiro.
(E isso tira toda e qualquer dúvida sobre aquele pit do alemão logo no começo da prova: os macios não duravam nada nos carros da Red Bull.)
A ideia dos calçados com os médios era, a partir de então, ir com eles até o final.
Mas não deu pra Webber. Na 40ª volta, informado que tinha problemas no alternador, ele encostou e parou.
“Você tem certeza?”, perguntou, nervoso e incrédulo, ao engenheiro.
Ficou estranho. Será?
A briga só ficou franca, sem janela de pits dali pra frente, a pouco menos de 20 voltas do final.
Na 43ª, o top 10 tinha Vettel, Raikkonen, Rosberg, Grosjean, Massa, Hamilton, Pérez, Hulkenberg, Sutil e Di Resta. Nem sinal de Alonso.
Na 52ª, Rosberg passou Raikkonen.
Com carros mais leves e pneus em diferentes estágios de vida, ganhamos algumas briguinhas boas no final da prova.
Massa encostou em Grosjean na luta pelo terceiro lugar. Raikkonen, que perdera ritmo nas voltas anteriores, batalhava para não ceder posições para Hamilton e Pérez.
Não deu para Massa. Mas deu para Pérez e Hamilton _e Raikkonen não teve outra opção a não ser entrar nos boxes a duas voltas para o fim.
Vettel cruzou a linha de chegada com impressionantes 29s8 sobre Rosberg. Grosjean completou o pódio.
Fechando o top 10, Massa, Pérez, Hamilton, Raikkonen, Di Resta, Sutil e Ricciardo.
Com o resultado, o alemão foi a 322 pontos contra 207 de Alonso. Diferença de 115, com 75 em jogo.
Mas vencer apenas na matemática não teria tanta graça.
Vettel disse durante a semana que gostaria de ser campeão com uma vitória.
Conseguiu também isso.
Ele consegue tudo.
Consegue até quebrar o protocolo.
Fez zerinhos em plena reta de chegada, parou, subiu no RB9, reverenciou-o, escalou o alambrado, jogou as luvas para um público que, em três anos, assistiu a três vitórias suas.
E que bom que desta vez não houve vaias. Vettel merece todos os aplausos.
Não tem culpa de ser gênio enquanto ainda é garoto.
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