* Por Flávio Gomes
Bem, vamos olhar para o lado positivo das coisas. Foi uma corrida legal, taticamente, com três “players”, como gostam de dizer aqui na comunidade. A saber, Vettel, Webber e Grosjean. A Red Bull saiu com possibilidade de usar duas táticas diferentes para seus pilotos. Tião para duas paradas, adiando ao máximo a segunda — claro que isso dependeria das circunstâncias da prova. Nosso hoje sorridente Canguru para três, para tentar um sprint final com pneus médios. Mas também dependia das circunstâncias. Se fosse possível, terminaria a corrida com dois, mesmo. E Grojã com dois pit stops previstos, numa estratégia mais convencional, que começou a funcionar com uma excepcional largada, mas não resistiu no final.
Vettel ganhou. Numerinhos: quinta seguida, nona no ano, 35ª na carreira. Palmas para ele, que ele merece. Abriu 90 pontos de Alonso, 297 a 207, e para ser campeão na Índia não precisa de muita coisa. Se chegar na frente do espanhol, babau. Se Alonso vencer ou chegar em segundo, façam as contas. Que são desnecessárias, a essa altura do campeonato. O tetra cantado há séculos é só uma questão de tempo.
Não viu a corrida?
Foi assim.
Grojã pulou de quarto para primeiro na primeira curva. Para variar, Webber não largou bem. Vettel, mais ou menos. Fechou a primeira volta em terceiro, seguido por Rosberguinho, Massa e Alonso. Hamilton rasgou um pneu na asa de Sebastian, o carro ficou todo detonado e ele acabou abandonando na nona volta. Massa e Alonso era algo interessante. O brasileiro iria abrir para o futuro ex-companheiro? Não abriu. Teve um rádio estranho da Ferrari, “strategy A, now, please”, foi o que ouvi. O “now” demorou. Só na 20ª volta Fernandinho deixou Felipe para trás. Depois da prova, Massa disse que não obedeceu a ordem dada várias voltas antes.
Agora é tarde para insubordinações, eu diria.
Mas, cá entre nós, ali não valia muita coisa. Voltemos aos “players”, então.
Webber foi o primeiro dos três a parar, na volta 12. Grosjean, na 13. Vettel, na 15. Noves fora, tudo igual depois da primeira janela, exceção feita a Hülkenberg, que ganhou as posições dos dois ferraristas e apareceu em sexto.
O melhor momento da corrida, no segundo escalão, aconteceu aí. Da 20ª à 24ª volta, depois que Alonso passou Massa, um trenzinho puxado pelos dois vermelhos trouxe para a festa Guti-Guti, Raikkonen, Pérez e Rosberguinho, que pagara um drive-through porque a Mercedes o liberou de um pit stop de forma, hum, um tanto precipitada. Quase bateu no mexicano maclariano nos boxes, possibilidade de uma merda federal. Um pouco mais à frente de todos, o incrível Hulk. Passa daqui, passa dali, as coisas se acomodaram.
Voltemos aos “players” (estou odiando essas aspas; serão eliminadas na próxima utilização do termo coxinha). Na volta 26, o marsupial rubrotaurino para de novo. Sai dos boxes em terceiro, a 15s de Grojã. Opa. Aí tem. Parou muito cedo. Não aguenta até o fim, óbvio. Vai para três paradas. Pode dar certo. O final vai ser alucinante, pensei cá com os botões do meu pijama.
Grojã começa a perder rendimento. Vettel vai chegando. Box para a Lotus, na 30ª volta. Webber passa, claro. Fica em segundo. Mas terá de parar de novo. Aí neguinho começa a fazer contas. Quando o Vettel parar, Grojã volta a ficar na frente dele, certo? Certo. Então, para logo, rapaz.
E foi aí que Tiãozinho deu o pulo do gato. Foi esticando o stint, esticando, esticando, até a volta 38. Voltaria atrás, sim. Dos dois, Webber e Grosjean. Mas o primeiro teria de parar de novo. E o segundo teria pneus oito voltas mais velhos. Não demorou muito para a estratégia se pagar. Na volta 41, Sebastian foi para cima de Romain e passou sem grande dificuldade. Webber estava 15s à frente. Com aqueles pneus trocados na volta 26, não terminaria a corrida nem por decreto papal. Parou na 43, calçou médios e teríamos, pois, dez voltas beleza pura, com o australiano voando para alcançar os dois. Vettel liderava, 3s3 à frente de Grosjean, que tinha 4s7 para Markão.
Mas não deu para ele. Porque quando nosso querido canguru finalmente chegou no francês da Lotus, na volta 47, tentou e não passou. Na seguinte, de novo. Na outra, necas. Mais uma, e picas. Com isso, Vettel abria mais de 7s para a dupla que andava coladinha. Webber só foi passar Grosjean na 52ª, e aí Inês era morta.
E assim nossos players foram para o pódio nessa ordem: Vettel, Webber (a 7s129) e Grosjean. Os coadjuvantes da brincadeira se divertiram, até. Nas últimas voltas, Alonso e Raikkonen passaram Hülkenberg, que chegou em sexto — mais um grande resultado, que só melhora sua posição na briga por uma vaga na Lotus. Gutiérrez segurou bem Rosberg e foi o sétimo, marcando seus primeiros pontos na F-1. Depois do alemão da Mercedes veio Button, que na última volta passou Massa, que tinha despencado depois de um drive-through por excesso de velocidade nos boxes.
E foi assim. Quem aguentou a madrugada viu um bom GP em Suzuka. O público no autódromo, enorme, também gostou. Eu gostei mais ou menos, queria ver o pobre Webber ganhando uma.
Não houve hostilidades entre os mecânicos de Tião e os do Canguru, porém. Foram vistos comemorando a dobradinha depois da corrida, brindando com cerveja quente e energéticos gelados. Parece que só tinha uma geladeira, e essa ficou para a turma do tetracampeão. Que não bebem, não fumam e não fazem sexo. Todos engomadinhos. Mas não dá para negar. Sabem como ganhar títulos.
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