* Por Lívio Oricchio
Vale a pena voltarmos um pouco no tempo, até a temporada de 2008. A equipe Red Bull competia com Mark Webber e David Coulthard. O diretor técnico, Adrian Newey, foi o responsável pelo modelo RB4 equipado como motor Renault, assim como já havia coordenado o carro anterior da escuderia, o RB3-Renault, de 2007.
Naquele ano, 2008, Lewis Hamilton, da McLaren, foi campeão, com 98 pontos, seguido por Felipe Massa, da Ferrari, com 97. O piloto da Red Bull mais bem colocado acabou sendo Mark Webber, 11.º, com 21 pontos. Entre os construtores, a Ferrari ficou com o título, com 172 pontos, e a McLaren, com o vice, 151. A Red Bull obteve o distante sétimo lugar, com 29 pontos.
Na temporada seguinte, 2009, tudo mudou. David Coulthard foi substituído por Sebastian Vettel. E o jovem alemão disputou o título até a última etapa, no GP do Brasil. Perdeu para Jenson Button, da McLaren, 95 a 84. E a Red Bull terminou na segunda colocação, com 153,5 pontos, ao passo que a campeã, Brawn GP, fez 172.
O que ocorreu para a Red Bull ser protagonista de um instante para o outro na Fórmula 1? E provavelmente não ter conquistado o campeonato porque a Brawn GP desfrutava de um recurso aerodinâmico ilegal, o duplo difusor, autorizado pelo presidente da FIA, Max Mosley, por interesses políticos. A Red Bull foi obrigado a adaptar o RB5-Renault de 2009 ao uso do duplo difusor enquanto a Brawn GP concebeu seu monoposto, BGP001-Mercedes, para explorar o conceito.
Resposta: a mudança importante do regulamento técnico em 2009. Essencialmente, visava fazer o carro reduzir em 40% sua capacidade de gerar pressão aerodinâmica. “Trabalhávamos já há cerca de dez anos nos estudos dos mesmos desafios técnicos”, disse Newey. “A partir de 2009 tivemos a oportunidade de repensar tudo o que fazíamos. É o tipo de desafio que mais aprecio.”
Cenário semelhante
E o que irá acontecer em 2014? Nova mudança drástica do regulamento técnico. É nessas horas que a critividade de Newey melhor se manifesta. E a maturidade atingida pelo engenheiro aeronáutico inglês reduziu bastante a possibilidade de um projeto equivocado, como o que fez para a McLaren, em 2003, o modelo MP4/18-Mercedes.
O carro nunca chegou a disputar um GP. A organização de Ron Dennis teve de rever o monoposto do ano anterior para seus pilotos, Kimi Raikkonen e David Coulthard, disputarem o campeonato.
Escrevo tudo isso para dizer que se a vitória de Sebastian Vettel, da Red Bull, neste domingo no GP de Cingapura, impressionou pela facilidade com que foi obtida, a histórico de Newey, quando as regras experimentam alterações importantes, pode fazer com que as corridas, em 2014, se assemelhem bastante à do circuito Marina Bay.
Na 31.ª volta, Vettel cruzou a linha de chegada com uma vantagem de 1 segundo e 16 milésimos para Nico Rosberg, da Mercedes, então o segundo colocado. O safety car acabara de deixar a pista.
Na 40.ª volta, ou seja, nove depois da relargada, uma antes de Rosberg fazer sua segunda parada, a vantagem de Vettel atingiu 22 segundos e 104 milésimos. Isso quer dizer que abriu, em nove voltas, 21 segundos e 88 milésimos (22 segundos e 104 milésimos menos 1 segundo e 16 milésimos). Nesse segmento da prova, portanto, Vettel obteve uma diferença média de 2,3 segundos por volta. É impensável na Fórmula 1!
E se havia alguma dúvida na cabeça de James Allisson, da Ferrari, Ross Brawn, Mercedes, e Nick Chester, substituto de Allison na Lotus, quanto ao que poderiam conquistar este ano, neste domingo foi dirimida por completo. Será preciso uma combinação de fatores bastante rara para Vettel e a Red Bull não serem campeões este ano.
Esquecer 2013
Em outras palavras, o melhor a fazer é gastar as 40 horas por semana permitidas de estudos no túnel de vento com o modelo de 2014. Esquecer o campeonato em curso. Manter o grupo trabalhando nos monopostos atuais muito provavelmente não levaria o time a nada.
Com o carro que tem, capaz de fazer Vettel manter-se invicto nas três últimas etapas, Bélgica, Itália e Cingapura, ou seja, estabeleceu as três pole positions e venceu as três corridas, e a desistência de os adversários melhorarem seus monopostos daqui para a frente, a tendência é no mínimo as coisas permanecerem como estão: a Red Bull muito à frente.
Hoje a diferença de Vettel para Alonso, segundo na classificação, é de 60 pontos (247 a 187). Restam seis etapas para o encerramento da temporada. Se, por exemplo, depois do GP da Índia, dia 27 de outubro, o 16.º do calendário, Vettel abrir uma diferença de 75 pontos para o segundo colocado irá celebrar o tetracampeonato. Sim, porque depois restarão somente as etapas de Abu Dabi, Austin e Interlagos.
Vettel pode ser campeão nas próximas duas corridas, Coreia, 14.ª do ano, daqui a duas semanas, ou Japão, dia 13 de outubro? Na Coreia matematicamente não é possível. Depois teremos, ainda, mais cinco provas ou 125 pontos (25 x 5) em jogo. Mesmo que Vettel vença e Alonso não faça pontos, chegaria no máximo a 85 (60 + 25).
Já no GP do Japão não é impossível, ainda que pouco provável. Como depois o campeonato teria mais quatro corridas, ou 100 pontos em jogo, Vettel teria de ampliar na Coreia e no Japão a atual diferença de 60 para 100 pontos. Necessitaria de uma vitória e uma terceira colocação (25 + 15), que lhe dariam os 40 pontos. E ainda torcer para Alonso, se ele for ainda o vice-líder, não somar ponto algum.
Índia, local provável do tetra
É por isso que faz mais sentido acreditarmos que Vettel possa comemorar o quarto título seguido no GP da Índia. O histórico de seu avanço depois das férias da Fórmula 1, em agosto, invicto, ganhou tudo, sugere ser bem possível aumentar a atual diferença de 60 para 75 pontos para o segundo colocado até lá, tendo ainda duas corridas no meio do caminho, Coreia e Japão, para ajudá-lo.
Quem gosta de assistir a belos pegas na Fórmula 1 deve torcer para que o modelo de 2014 que Newey está produzindo para a Red Bull não tenha a mesma maior eficiência que todos os seus carros desde 2010. Já são quatro anos que a impecável organização e o supertalentoso Vettel dominam a competição.
Mas antes de chegar em 2014, a hora que Vettel bater o martelo e definir, este ano, a conquista de mais um título deixará no ar também o delicioso sabor da justiça: os melhores de novo foram campeões. Nada é mesmo ao acaso na Fórmula 1. Mas, o resultado de planejamento, trabalho, investimento e, basicamente, muita competência. Ingredientes que sobram na Red Bull.
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