* Por Felipe Motta
Hoje terei uma longa viagem pela frente mas gostaria de deixar algumas linhas sobre o futuro de Felipe Massa. O domingo em Monza, aliás, o fim de semana completo, foi bastante indicativo de sua saída da Ferrari. Há anos convivemos com o debate sobre sua permanência ou não na equipe. Desta vez, os rumores parecem dar a ideia da realidade.
É importante dizer que parte do texto é baseada em análises de situações, comportamentos e interpretações, portanto não gostaria de ser dono da verdade. De qualquer forma, deixarei claro quando estiver interpretando algo.
Durante todo o fim de semana pairou a dúvida: Massa estaria fora ou não da Ferrari. Na sexta-feira, a imprensa italiana em peso, puxada pela Sky, informava que o brasileiro deixaria o time e que Kimi Raikkonen retornaria.
Parecia-me uma situação diferente da quantidade de boatos infundados que já acompanhei na F-1, especialmente no que diz respeito a Massa. No entanto, foi depois da corrida, justamente uma das melhores dele no ano, que ficou claro que o cenário mudou.
Antes de entrar na história do Massa, queria resgatar o que se passou com Raikkonen na Ferrari em 2009. Ele passou o ano dizendo que tinha contrato e que não sairia. E sabemos que Kimi não faz teatro. Quando venceu em Spa, tinha semblante muito alterado e disse: "é, vamos ver o que rola e tal". Ali estava claro que o ambiente tinha mudado. Estava ao lado de um jornalista suíço e outro finlandês. Quando vimos aquilo, nos olhamos e dissemos: "já era, ele está fora".
Ontem, aqui em Monza, parecia ver o replay do filme de Kimi em 2009. Massa fez bela corrida (não venceu como Kimi, mas era hora para sorrir) e na coletiva mudou muito o discurso. Ele sempre colocou Ferrari acima de tudo. De repente, passou a falar de si próprio.
“Estou tranqüilo. Não tenho medo nenhum de sair da Ferrari. Importante é pensar no melhor para o meu lado. Se for para ir para outra equipe, continuar na Ferrari ou até sair da F1, caso não haja mais vaga, pensarei 100% no que for melhor para o meu futuro. E espero tomar a decisão mais correta.”
“Preciso escolher a melhor equipe possível para eu correr. Ferrari é uma superequipe, então é difícil achar outra equipe como ela. Por isso é importante analisar todas as opções.”
“Se algo já foi definido pela Ferrari, pelo Montezemolo, eu não sei. Mas o importante é que eu pense no meu futuro. Se for para continuar na equipe, ótimo, é sempre maravilhoso correr em um time como esse. Mas se não der já mostrei meu talento, já mostrei do que sou capaz para as outras equipes também. Vamos ver as opções que eu tenho, tanto na Ferrari, quanto em outra equipe, pois nada é impossível no momento.”
Detalhe: falou isso numa boa, como se estivesse bem resolvido, com definição madura em sua cabeça, ainda que seja honesto ao afirmar que a escolha não chegou até ele. Isso não aconteceu.
Quando a entrevista acabou, virei aos meus colegas e comentei: "pra mim, está fora". Sim, era uma sensação, não uma informação, mas de alguém que conhece bem o entrevistado. Nunca fiz as contas de quantos GPs cobri ao certo, mas este é o meu 10º GP da Itália. Chutarei, ao menos, 150 GPs, o que gera 600 entrevistas em fins de semana com o Massa. Nessas condições aprendemos a ler o semblante, entrelinhas e pormenores das declarações, ainda que estejamos sujeitos a erros, claro.
Saí de lá com essa sensação, entrei ao vivo na jornada do futebol da Jovem Pan e disse ao narrador Nilson César, que tem como bordão o "me diga no feeling", que meu feeling era que o brasileiro já estava fora.
Após todos as entrevistas fui ao banheiro escovar os dentes e o jornalista que mais respeito no paddock, Michael Schmidt, estava lavando as mãos. Eu disse que achava que Massa estava fora e ouvi dele: "também acho. Kimi assinará em breve". Minutos depois, sua revista, a mais séria da F-1, Auto Motor und Sport, deu que Raikkonen assina nesta semana.
A hora de Massa seguir seu caminho sem o macacão vermelho se aproxima. E agora é aguardar o que pode acontecer.
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