quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O fim de um ciclo*

* Por Rodrigo Mattar


Um rompimento tão previsível quanto inesperado, principalmente por ser anunciado antes do imaginado: Felipe Massa não é mais piloto da Ferrari na Fórmula 1. As estatísticas não mentem: das 184 corridas de que tomou parte – até agora – o piloto brasileiro fez 132 pela Casa de Maranello. Não é pouco, comparando que muitos em toda a sua carreira não chegaram a este total, rodando por várias escuderias. Número #2 em GPs disputados pela equipe italiana, atrás apenas de Michael Schumacher, Massa confirmou hoje que está fora do time para a próxima temporada, anúncio feito no twitter do próprio piloto e no instagram, em três idiomas diferentes.

No curto comunicado, ele agradece pela amizade, pelas vitórias e os momentos ‘lindos’ que passou pela Ferrari. “A partir de agora, quero achar uma equipe que me dê um carro competitivo para buscar mais vitórias e vencer um campeonato, que é o meu sonho”, concluiu em sua postagem.

Tarefa difícil… muito difícil… os principais cockpits já estão ocupados. A Red Bull, como é do conhecimento geral, terá Daniel Ricciardo ao lado de Sebastian Vettel. Mercedes e McLaren dificilmente rescindirão com seus pilotos a ponto de quererem Felipe Massa. A própria Ferrari dispensou os serviços do piloto brasileiro. Sobra a Lotus, que não é propriamente uma equipe 100% competitiva: se o fosse, Kimi Räikkönen não estaria lutando com todas as forças que tem para migrar justamente de volta para a equipe do cavalinho empinado, não acham?

Vamos combinar uma coisa, caros leitores: a chance de Massa ser campeão passou. Sejamos realistas: o ano de 2008 era ideal para que isso acontecesse. E o bonde da história já deixou o piloto brasileiro para trás. Não adianta chorar o leite derramado. Na época, teci comentários criticando a postura de Felipe em culpar apenas e tão somente o episódio do GP de Cingapura onde Nelsinho Piquet bateu com sua Renault no muro, como a causa mortis da perda de seu título.

Todos nós sabemos que não foi aquilo e só aquilo. Houve uma sucessão de erros. Dele, Felipe Massa e da própria Ferrari. O piloto fez uma corrida medíocre em Silverstone sob chuva e rodou sozinho na Malásia, quando era segundo colocado. Só esse resultado de Sepang já seria capaz de minimizar o prejuízo. Mas houve uma vitória perdida por quebra na Hungria e a história da mangueira de combustível em Cingapura. Culpar isoladamente o ato de Nelsinho Piquet por uma perda de título é e continua sendo demais pra minha cabeça e para a de muita gente.

Somem-se a esses fatos a história da mola na Hungria. Faço minhas as palavras de Nelson Piquet: o piloto nunca mais foi o mesmo após aquele incidente. Nem Piquet conseguiu ser competitivo após o acidente de Imola em 1987 – e ainda assim foi tricampeão do mundo porque era malandro (no bom sentido), inteligente e sobretudo o mais técnico piloto de sua geração. E, claro, o GP da Alemanha de 2010, com a lamentável situação do “Fernando is faster than you”, destruiu Felipe psicologicamente. Daí para diante, não havia como ele reverter a situação a seu favor e nem mesmo as boas relações que construiu dentro da equipe foram capazes de segurá-lo na Ferrari futuramente.

Acho que chegou a hora de sermos honestos: Felipe não tem mais lugar em nenhuma equipe de ponta na Fórmula 1. A Lotus pode ser um paliativo, mas ninguém tem garantias de que o time chefiado por Eric Boullier seguirá na toada dos últimos anos, quando Räikkönen, de fato, deu uma injeção de moral nos lados de Enstone como poucos pilotos seriam capazes de fazer. Uma hipótese bem plausível, por conta desse seu longo passado como piloto da Ferrari, seria o regresso à sua primeira equipe na categoria máxima, a Sauber.


O time helvético, que terá o novato russo Sergey Sirotkin em seus quadros, vai precisar de um piloto experiente para ‘tocar’ o projeto de desenvolvimento do novo carro com o motor turbo que a Ferrari vai fornecer para 2014. Nico Hülkenberg, embora muito talentoso, extremamente promissor e visto como uma peça a ser considerada no mercado de pilotos, não é capaz de liderar uma equipe num ano de transição – pelo menos no meu entendimento. Nem ele, e nem o mexicano Estebán Gutierrez, cuja presença na Fórmula 1 contestei com alguma veemência neste ano.

Então é isso: um ciclo se encerra. E tem mais: o futuro do Brasil na Fórmula 1 é preocupante. Os pilotos do país não conseguem mais espaço na categoria máxima, fruto – também – do dinheiro dominante em detrimento do talento e principalmente da ineficácia da CBA em conseguir fazer o esporte a motor seguir decentemente no país.

Sem formação de bons pilotos, não existe renovação.

Sem renovação, não há ídolos.

Sem ídolos, não há interesse.

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