* Por Luis Fernando Ramos
Para uma corrida pouco animada, aconteceu de tudo depois da bandeirada em Cingapura. Dois momentos que merecem reflexão, mas que geraram mais polêmica do que deveria no meio da Fórmula 1. Aliás, este é o mal do mundo atual: antes de falar bem ou mal disso ou daquilo, as pessoas deveriam sentar com calma e pensar, para opinar só depois.
Vamos começar sobre a polêmica carona que Fernando Alonso deu a Mark Webber na volta de desaceleração. Na transmissão da prova pelo Grupo Band de Rádio, fui perguntado pelo Odinei Edson se isto não daria punição. Fiz uma defesa apaixonada das caronas, um momento legal para o público ver na pista e pela televisão, e que os pilotos jamais se exporiam a um risco desnecessário. Emendei: seria muito “coxinha” se punissem os dois pilotos.
Já se passavam algumas horas depois da bandeirada e, como de costume, os monitores da sala de imprensa exibiam os highlights da prova. De repente aparece uma vinheta chamando para as imagens do “Webber-Alonso inccident”. Foi de prender a respiração.
Hoje, os dois pilotos se divertiram pelo twitter, condenando a punição pela carona. O australiano publicou uma colagem com várias caronas dadas na história da F-1, o espanhol uma montagem de um cartaz do filme “Táxi” com o rosto dos dois. De propósito ou não - apostaria na primeira opção - ambos ignoraram a verdadeira natureza da advertência que levaram: o risco a que expuseram os outros pilotos.
Parar na linha ideal na saída de uma curva não foi muito inteligente da parte de Alonso. E Webber teve de entrar no meio da pista para subir pelo lado esquerdo do carro, colocando assim o seu braço mais forte, o direito, na melhor posição para se agarrar na carenagem e fazer do transporte um evento seguro.
Fico imaginando se, ao invés da habilidosa dupla da Mercedes, quem viesse logo atrás seria um dos muitos inexperientes ou estabanados do grid. Estaria num ritmo menor, mas poderia estar distraído com aquelas tradicionais conversas engenheiro/piloto ao final da corrida. Aí faz a curva, tem um carro parado e um cara do lado. Podia ter terminado mal esta história.
O pior é que se Webber e Alonso tivessem feito o ponto de táxi no acostamento, como é comum nas vias públicas, o caso não daria muito o que falar. Alguns achariam ruim do mesmo jeito, mas a maioria acharia bacana, bonito, um exemplo de esportividade. Mas dê um episódio de imprudência na mão dos inconsistentes comissários da FIA para ver o samba do crioulo doido que criaram: deram uma advertência (o que foi pouco) e proibiram as caronas (o que foi muito). Seria melhor uma advertência e uma polpuda multa, mais uma conversa com os pilotos no próximo briefing para orientar como se comportar em casos assim (pare fora da pista, etc).
Sobre as vaias para Sebastian Vettel, penso que o texto do colega Felipe Motta resume muito do que eu penso. É uma babaquice vaiar um esportista depois de uma vitória que foi conquistada por méritos, esforço e, o mais importante, sem trapaça. Fico com a frase de Nelson Rodrigues: a vaia é o aplauso dos desanimados.
O mais interessante é que o alemão realmente não se importa com isso. Certamente acha chato, certamente gostaria que fosse diferente, afinal ele não passou anos ralando respirando todos os aspectos do automobilismo como um obstinado para ser desrespeitado. Mas no fundo ele está muito ocupado em fazer o que gosta e aprendeu a ler a reação de alguns torcedores como Nelson Rodrigues fazia: um tipo de aplauso que soa diferente, mas que reconhece a força do trabalho seu e da equipe Red Bull.
Vettel festejou sua primeira vitória na F-1 no pódio mais espetacular da temporada: o de Monza, sobre uma reta apinhada de torcedores festejando o triunfo de um piloto que corria com motores Ferrari e cuja sede era na Itália. Não sou o único a acreditar que um dia ele viverá o mesmo, mas com a intensidade amplificada por estar vestindo o macacão da Ferrari - o velho sonho do guri de Heppenheim que cresceu vendo o ídolo Michael Schumacher fazer isso.
Se isto acontecer, os mesmos que vaiam hoje estarão aplaudindo amanhã. Mais animados, sem dúvida nenhuma.
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