segunda-feira, 25 de março de 2013

“Desculpe, Webber, mas a vitória é minha”*

* Por Rodrigo Mattar



Mal começa mais uma temporada da Fórmula 1 e as polêmicas que vêm permeando a categoria máxima com alguma frequência nos últimos tempos aparecem mais cedo do que se imaginava ou esperava. A culpa, como aconteceu das outras vezes, é das equipes, que infelizmente querem desempenhar um papel muito maior do que os pilotos querem, devem ou podem fazer dentro da pista.

Tudo bem que as escuderias têm a sua importância na categoria, principalmente na parte política e na elaboração dos regulamentos técnicos. Mas os leitores e leitoras do blog hão de concordar que essa história de não poder haver disputa interna entre os pilotos de um mesmo time já deu o que tinha que dar.

Neste domingo de GP da Malásia, o clima ficou pesado em duas escuderias. A Mercedes, leia-se Ross Brawn, colocou Nico Rosberg na seguinte situação: “Fique atrás de Hamilton, na sua, quietinho, que os dois carros recebem a bandeirada.” O alemão, provando o quanto a atual geração de pilotos da Fórmula 1 é repleta de ‘coxinhas’, obedeceu e não partiu para dentro de Hamilton. O que Brawn fez neste domingo não foi muito diferente de nada do que fizera quando comandava a estratégia da Ferrari para favorecer Michael Schumacher em detrimento de Rubens Barrichello.

Hamilton mereceu a 3ª posição porque fez uma ótima corrida e teve méritos para conquistar o resultado. Mas será que Rosberg, em condições normais de temperatura e pressão, não teria chances de superá-lo? Pergunta que, pelo visto, não será respondida. E para provar que a atitude de Ross Brawn não foi das mais corretas, Niki Lauda queixou-se publicamente, querendo que houvesse competição entre os dois pilotos dos carros prateados – o que, no meu ver, seria o mais justo e o ideal.

Só que não existe justiça e o mundo ideal no automobilismo.

E na Red Bull hein? O que dizer do que aconteceu no time do touro vermelho, que sempre bateu no peito para dizer que ‘os pilotos lutam pela vitória em pé de igualdade’. Conversa das mais fiadas, porque Sebastian Vettel desobedeceu uma ordem via rádio, que determinara que desta vez a vitória deveria ser de Mark Webber. Houve briga, por duas voltas, entre os carros #1 e #2 pela liderança, desesperando toda a cúpula do time – leia-se Christian Horner, Helmut Marko e Adrian Newey. A situação pesou quando Vettel passou por cima da tal ordem e superou o australiano para vencer a corrida, num revival do famoso entrevero entre Gilles Villeneuve e Didier Pironi na Ferrari, no distantíssimo ano de 1982.


Como consequência do clima belicoso, o video acima mostra Webber, num gesto nada sutil, mostrando o dedo médio para Vettel e externando o seu descontentamento, mantido  com sua cara de desaprovação no pódio e suas declarações após a corrida, descendo a lenha no companheiro de equipe – e na Red Bull, também.

“Depois da última parada, o time me disse que a corrida tinha acabado, nós tiramos o pé e fomos para o final”, explicou. “Eu também queria disputar, mas, no fim, a equipe tomou uma decisão, que é o que nós sempre dizemos antes do início da corrida, de como provavelmente vai ser: nós cuidamos dos pneus e levamos o carro até o fim”, continuou.

“No fim, Seb tomou suas próprias decisões hoje e terá proteção, como de costume. E é assim que é”, disparou. “Eu tirei o pé e comecei a cuidar dos pneus, e aí a disputa começou”, lembrou. “Fiquei decepcionado com o resultado da corrida de hoje”, finalizou o australiano.

Sem ter muito o que dizer a respeito de sua atitude, que lhe valeu a 27ª vitória na Fórmula 1, igualando outro tricampeão, o escocês Jackie Stewart, Vettel não teve outra saída a não ser pedir “desculpas” a Webber pela ultrapassagem e pela vitória. “Devia ter me comportado melhor”, admitiu o alemão. Concordo: em vez de ficar de ‘mimimi’ no rádio, como fez num determinado momento da corrida, que tentasse superá-lo no braço, como de fato o fez. Mas que não se arrependa de suas atitudes.

Chega a ser, no mínimo, uma ironia que um piloto que tem três campeonatos nas costas e outro nenhum, que ele chegue ao ponto de se desculpar por uma vitória que, no fim das contas, ele desejou e conquistou. No fundo, Vettel não quis se sentir 100% culpado de tudo – e nem é. Repito: a culpa é toda da Red Bull, como no passado já foi de outras equipes que tomaram atitudes semelhantes, tornando o clima pesado entre os pilotos. Desnecessário enumerar tais ocorrências, porque a própria história da Fórmula 1 nos mostrou quais foram os casos e os pilotos que pagaram caro com estas atitudes.

E assim, a categoria máxima vai se distanciando dos seus fãs. Que sujeito, em sã consciência, vai trocar algumas horas de sono reconfortante por uma corrida onde um vencedor, para posar de santo, se “desculpa” porque venceu? Desde quando é errado ganhar? Não faz parte deste esporte? Um vencedor, vinte e tantos perdedores? Ah… tenha santa paciência!

Vettel não precisava disso e a Fórmula 1 também não. Perde o tricampeão, perde a categoria, perde o esporte.

Daqui a pouco, serão os torcedores que vão dar uma de Mark Webber e mostrar o dedo aos pilotos e equipes, porque se existe o desrespeito ao público, ele poderá um dia correr o sério risco de ser recíproco e a audiência virar as costas para as corridas da categoria.

Se é que já não virou…

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