terça-feira, 12 de março de 2013

BARÃO*

* Por Flávio Gomes

O Barão morreu.


Tinha 92 anos o pai do Emerson, do Wilsinho e do automobilismo brasileiro.

Não sejamos menos do que sinceros nessa hora. Não fosse Wilson Fittipaldi, o Barão, o Brasil não seria coisa alguma no automobilismo.

Fundador da CBA, foi Fittipaldi quem criou as Mil Milhas Brasileiras, inspirado na Mille Miglia italiana, e foi ele quem popularizou as corridas pelas ondas da rádio Panamericana, depois Jovem Pan.

Foi ele quem transmitiu as aventuras de Chico Landi no GP de Bari no fim dos anos 40, sem nem saber se o som estava chegando ao Brasil.

Foi ele quem organizou, promoveu e realizou dezenas de corridas nos anos 50 e 60 que deram uma cara ao automobilismo do país e frutos, muitos frutos.

E foi ele o pai de Emerson, o mais importante piloto da história do Brasil, o Rato, que saiu da cinquentinha para o Gordini, e para o Malzoni, e para o Fitti-Porsche, e para a F-Ford, e para a F-1, e para o bi mundial, e para a Indy, e para o bi nas 500 Milhas.

Emerson resume em sua trajetória uma história inteira de um país sobre rodas, e seu pai tem total responsabilidade por isso. A paixão pela velocidade foi injetada em seus meninos ainda na infância e neles ficou. Wilsinho tinha 13 anos quando o Barão fez as primeiras Mil Milhas. Emerson, 10. Eles nunca souberam o que era viver longe de um autódromo e de um carro.

Ao mesmo tempo, o Barão era radialista. Narrou a conquista do título de seu filho em Monza, em 1972, num dos mais belos momentos da história do rádio universal, pela Jovem Pan. Era um dos apresentadores do “Jornal da Manhã” na Pan, com seu vozeirão imponente a comentar as notícias e a dizer “repita” para os locutores na hora certa.

Apresentei o “Jornal da Manhã” algumas vezes e trabalhei na Pan bastante tempo ao lado dos velhos locutores que dividiram a bancada com ele, Cyro César e Franco Netto, em particular. Sua figura austera, contavam, não combinava com o comportamento de garoto no estúdio. Um moleque que passava o jornal inteiro fazendo traquinagens e caretas até que os locutores explodissem em gargalhadas durante a leitura de notícias importantes e sérias, como a morte de alguém, ou um desastre em algum lugar. Aí, quando o locutor não aguentava mais e caía na risada, ele assumia o microfone com toda pompa e gravidade, como que para colocar ordem naquela bagunça, e pedia: “A hora”. O locutor, com lágrimas nos olhos de tanto rir, dizia. E o Barão: “Repita”. O locutor repetia.

Aí Fittipaldi chamava os comerciais. E todos explodiam de rir fora do ar, e imploravam para o Barão parar de fazer aquelas coisas porque um dia seriam todos demitidos.

Wilson Fittipaldi, o Barão, morreu num ano simbólico. O primeiro ano sem Jacarepaguá, o primeiro ano em que o Brasil tem apenas um piloto no grid da F-1 desde 1971 (em 1978 só Emerson começou, mas depois chegou Piquet).

Talvez, Barão, o automobilismo que você criou esteja morrendo, também.

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