segunda-feira, 18 de março de 2013

Liian helppo*

* Por Luis Fernando Ramos


Ele tomou um gole de champanhe, espirrou um pouco do que havia na garrafa para fora do pódio e tomou um outro mais prolongado. A naturalidade com que Kimi Raikkonen festejou a vitória no GP da Austrália foi a mesma com que o triunfo foi construído na pista. Na abertura de um Mundial em que todo mundo falou das dúvidas sobre o entendimento dos pneus, o finlandês da Lotus mostrou que ele já tinha todas as respostas.

"Nosso plano era fazer apenas duas paradas e conseguimos cumprir isso de maneira perfeita. A equipe trabalhou bem e tínhamos uma boa estratégia. Consegui poupar os pneus e poderia ter ido mais rápido se fosse necessário. Foi uma das minhas vitórias mais fáceis", admitiu Raikkonen no final da corrida.

Mais do que a avaliação do homem de poucas palavras, a contundência do seu triunfo fica clara vendo outros fatores. Ele largou apenas em sétimo depois do que um desempenho no treino classificatório que julgou “decepcionante”. Foi o único piloto das equipes de ponta que conseguiu para apenas duas vezes. E terminou a corrida com uma vantagem superior a 1min20s para seu companheiro de equipe, que dispunha do mesmo equipamento.

Tão inesperada quanto a vitória do finlandês foi o fracasso da Red Bull de Sebastian Vettel. O alemão começou o domingo marcando uma pole position contundente, na continuação da sessão que havia sido adiada pela chuva do dia anterior. Seu ritmo de corrida, porém, foi ruim e ele perdeu a liderança assim que parou nos boxes pela primeira vez. Acabou em terceiro lugar.

Logo à sua frente ficou Fernando Alonso, que esteve num daqueles seus dias inspirados: uma primeira volta agressiva e uma decisão estratégica de adiantar sua segunda parada o jogou da quinto lugar no grid para a segunda posição na corrida. Ele ainda tentou, mas não encontrou antídoto para superar a estratégia imbatível de Kimi Raikkonen. Mas saiu feliz da vida ao reverter a derrota momentânea no grid para Vettel e para Felipe Massa e terminar a prova na frente de ambos.

O brasileiro fez uma boa corrida, atrapalhada por um erro estratégico de não acompanhar a decisão de Alonso no segundo pit-stop. Mesmo assim, começa o ano de 2013 num patamar infinitamente acima do que havia começado o Mundial passado. Ele negou qualquer leviandade na decisão estratégica da Ferrari que o levou a cair da segunda para a quarta posição após a segunda bateria de pitstops da corrida de ontem, uma delas para o companheiro de equipe Fernando Alonso.

"Era difícil saber o que ia acontecer, porque não tínhamos noção dos pneus. Fazer duas paradas, como fez o Kimi, para mim era impossível. E também parar antes, como fez o Alonso, parecia um pouco arriscado. Nosso planejamento era tentar alongar o uso daquele jogo de pneus. Acabamos errando e perdemos duas posições importantes ", explicou.

O passado da Ferrari fez com que muita gente levantasse a suspeita de uma manobra orquestrada. Desculpe torcida brasileira, mas fazer isso é diminuir a qualidade do que fez Fernando Alonso. A estratégia inicial dos dois pilotos da Ferrari era a de parar pela segunda vez em torno da 23ª volta, mas o espanhol viu a chance de tentar ganhar a posição de Massa e de Vettel antecipando bem isto. É algo que tem até nome, o chamado "undercut". Massa não tinha como saber o efeito global disso no resultado final da prova, já que era a primeira corrida e ninguém sabia direito como os pneus se comportariam - na avaliação da Ferrari antes da corrida, parar antes poderia significar ficar com pneus desgastados demais no final da prova.

Outra maneira de enxergar como não foi uma "sacanagem orquestrada" contra Massa é notar que o brasileiro - e também Sebastian Vettel - tentaram o contra-ataque fazendo um "undercut" em cima de Alonso na última bateria de pitstops: Massa parou três voltas, o alemão duas antes do espanhol. Não funcionou porque Alonso tinha aberto uma vantagem grande o suficiente para não permitir isso. Méritos dele - e nenhum demérito dos outros. A Ferrari já interferiu na disputa entre os dois, mas insistir no discurso do jogo de equipe, neste caso específico, é coisa de gente que não entende de Fórmula 1.

Melhor seria destacar que o brasileiro se classificou à frente do espanhol no grid e teve um bom duelo com ele nas primeiras voltas, segurando a posição. Um sinal de que a temporada deste ano pode trazer uma paridade de performance entre os dois que praticamente inexistiu em 2012.

"Espero que isto aconteça a cada corrida. No final das contas, para vencer você tem que ser mais veloz que todos os pilotos. É para isso que eu trabalho. Alonso fez aqui uma grande corrida e tomou a decisão certa de parar antes naquele momento da prova. Mas certamente mostrei que estou num bom nível em relação a ele".

Apesar de ter subido no pódio em Albert Park na corrida de 2010, Massa considerou seu desempenho de ontem o melhor que já teve neste circuito. "Sempre foi uma vista em que eu sofri muito, especialmente com o desgaste dos pneus traseiros. Mas desta vez isso não aconteceu. Olhando o ano de 2012 e olhando o trabalho que fizemos neste final de semana, acho que foi um começo campeonato muito positivo".

* - "Muito fácil", em finlandês

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