segunda-feira, 4 de março de 2013

Questão de força maior*

* Por Luiz Fernando Ramos


É incorreto tentar encontrar uma única razão para a efêmera passagem de Luiz Razia como piloto titular da equipe Marussia em 2013. Alguns erros cometidos pelas pessoas que o apoiavam não ajudaram em nada. Mas o evento decisivo aconteceu no meio desta semana, quando Jules Bianchi perdeu a vaga na Force Índia. Ali virou uma questão de força maior.

E esta força maior atende pelo nome de Nicolas Todt, uma das pessoas mais influentes dentro do paddock. É filho do presidente da FIA. É um dos empresários de mais sucesso lá dentro. Está com Felipe Massa desde 2003 - e emplacou estas duas renovações de contrato mais recentes do brasileiro que não seriam inteiramente justificadas pelos resultados que ele obteve na pista.

“Toddynho”, como os torcedores do Brasil se referem a ele, também transformou o veloz mas estabanado Pastor Maldonado no eixo central da Williams, emplacando um contrato rentável (para ele e para o time) e tendo a estrela de ver seu piloto encerrar um longo tabu sem vitórias da equipe. Já havia conseguido em 2008 encerrar a ausência de pilotos do seu país na F-1 levando Sebastien Bourdais para a Toro Rosso - o único a correr pelo time sem ter passado pelo programa de jovens pilotos da categoria. O cara é eficiente no seu ofício.

Pois no início desta semana, Nicolas tinha tido uma pequena derrota profissional depois que a Force Índia preteriu Jules Bianchi em favor de Adrian Sutil. Ficou com um cliente frustrado, tido como uma grande promessa mas que não conseguia lugar para correr. As mazelas de Razia com a Marussia caiu como uma luva para ele emplacar Bianchi no time. Bom para ele, bom para o piloto (que vai massacrar Max Chilton no duelo interno como acredito que o brasileiro também faria) e, afinal, bom para a equipe também.

Pelo que apurei, Bianchi traria um pouco menos de dinheiro do que estava estipulado no contrato de Razia, algo entre um e dois milhões a menos. Mas o dinheiro estava na mão, já separado para a negociação que não se concretizou com a Force Índia. Assim, o time teve a garantia de receber agora o que precisava receber. E ganha uma importante moeda de troca para uma possível negociação de fornecimento de motores com a Ferrari - Bianchi faz parte do programa de jovens pilotos dos italianos.

Nada disso teria acontecido se o contrato de Luiz Razia permanecesse válido ao longo deste mês. Uma pena vê-lo com seu sonho se dissipando por alguns erros cometidos pelas pessoas que o ajudavam neste projeto. O fato do site dele ter “oficializado” sua contratação antes mesmo do time não pegou bem. Outras coisas também devem ter acontecido para que a equipe não tivesse paciência com o atraso da segunda parcela prometida - o que não seria algo de anormal quando se trata de grandes valores. De alguma forma, a Marussia parecia não estar segura que o dinheiro chegaria, mesmo com atraso.

Digo uma pena pelo fato dele ter demonstrado no ano passado muito mais méritos de estar na Fórmula 1 do que vários pilotos que lá estão. Andou muito mais na GP2 do que Esteban Gutierrez, Max Chilton e Giedo Van der Garde. Tivesse tido patrocinadores fortes como estes três possuem, ainda estaria na Marussia. Seria interessante se conseguisse uma nova chance. Até porque, esta parecia boa demais. Chilton era um companheiro de equipe fácil de bater. E a Marussia deu sinais na pré-temporada de que pode incomodar e até mesmo superar a Caterham, o que no ano passado era uma exceção à regra.

Sorte de Bianchi. Sorte de Nicolas Todt.

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