* Por Reginaldo Leme
A vitória da Mercedes numa pista de muita freada, aceleração e, portanto, não muito branda quanto ao consumo de borracha, pode significar uma mudança no panorama do Mundial. Faltando ainda nove etapas, Lewis Hamilton, apesar de todas as chances perdidas enquanto a equipe sofria com um desgaste de pneus bem mais acentuado que o dos carros rivais, já consegue encostar em Raikkonen e Alonso, que até pouco tempo atrás eram os únicos com chance de evitar o quarto título consecutivo de Sebastian Vettel. Se a gente lembrar que, apesar da liderança da Red Bull, desde a terceira corrida do ano é a Mercedes que tem o carro mais veloz (sete poles nas últimas oito), com uma eventual ajuda dos novos modelos de pneus, pode estar pintando aí uma nova força para mudar a cara do campeonato.
Em ritmo de corrida o carro dono de sete poles (4 de Hamilton e 3 de Rosberg) não resistia a mais do que algumas poucas voltas de duelo. Houve uma dessas em que Hamilton largou na primeira fila e perdeu sete posições até entrar no box para o primeiro pit stop. Só quando a F-1 chegou a Mônaco, uma pista de baixo consumo de pneu, veio a primeira vitória com Nico Rosberg, que largou na pole e manteve a ponta. Foi aí – também é importante lembrar – que estourou a bomba do treino secreto que a Mercedes havia feito com a Pirelli na pista de Barcelona dias antes do GP de Mônaco. O resultado na corrida de rua nada tinha a ver com o teste, mas o que isso viria a beneficiar a Mercedes dali em diante era o que preocupava as equipes rivais.
As coisas não mudaram tanto a curto prazo, mas logo depois a Mercedes dominou o GP da Inglaterra em Silverstone, com possibilidade até de uma dobradinha. Que não aconteceu porque estourou o pneu de Hamilton liderando a corrida. Mas Roberg voltou a vencer. Na Alemanha, apesar de mais uma pole de Hamilton, as coisas não correram bem para a Mercedes. Mas veio a Hungria e, finalmente, Hamilton venceu a primeira dele na equipe alemã. Aliás, a primeira de um piloto inglês com um carro Mercedes desde Stirling Moss em 1955. Pode se alegar que o circuito da Hungria é muito parecido com o de Mônaco em termos de velocidade e curvas de baixa. Mas a vitoria foi tranquila demais. Isso cria uma expectativa para as duas próximas, em Spa-Francorchamps e Monza, pistas de alta velocidade. O chefe da equipe Ross Brawn admite que os novos pneus devem beneficiar alguém e prejudicar outros, mas é cedo pra dizer quem vai se dar bem. Mas ele gostou de ver que “os carros que vinham se comportando muito bem passaram por alguma dificuldade”.
A sorte da Red Bull é que, enquanto a Mercedes fazia apenas poles, Vettel soube aproveitar o bom equilíbrio do carro para vencer no Canadá e Alemanha. Graças a isso, mantém uma liderança ainda tranquila (172 pontos, contra 134 de Raikkonen, 133 de Alonso e 124 de Hamilton). Mas a Fórmula-1 está com pneus novos e, assim como a Ferrari já admite que para ela a mudança foi ruim, pode ter sido melhor para a Mercedes do que para a Red Bull. Vettel fez um modesto terceiro lugar na Hungria e Webber foi quarto (nesse caso, prejudicado pela falta do kers). O que deixa muito claro que a Ferrari foi quem mais perdeu é o fato de o presidente Luca di Montezemolo ter retomado as críticas aos treinos secretos de maio e, desta vez, acusando diretamente a FIA de não ter tido coragem de punir a Mercedes.
Quanto à Lotus, bem, aí é questão de carro bem nascido, equilíbrio inabalável em qualquer tipo de pista e, por tudo isso, Raikkonen já roubou de Alonso a vice-liderança do campeonato. O problema da Lotus será a falta de dinheiro para continuar a desenvolver o seu bom carro no restante do campeonato. A equipe tem dívidas e, mesmo tendo vendido uma participação para o fundo Infinity, anda atrasando até os salários de Kimi e Grosjean. Este é apenas mais um motivo para Kimi cair fora. Hoje é ele o sonho de consumo de qualquer grande equipe.
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