terça-feira, 26 de novembro de 2013

INTERNADAS*

* Por Flávio Gomes

É esquisito quando não chove em Interlagos. Depois de dois dias debaixo d’água, justo hoje ficou seco. E ninguém tinha ido nem até o estacionamento lá embaixo sem pneu de chuva, portanto as referências, informações, acertos e mandingas eram todas para água, água e mais água.

Só que não choveu, e como eu (e o resto do mundo) disse ontem, no seco não teria graça, como não teve.

Vettel até que largou mal, Rosberguinho se animou e saltou na frente, mas a alegria durou o quê? Uma volta? Sim, uma volta, nem isso, porque antes de fechar a primeira Tião passou o alemão da Mercedes na reta, como se Nico estivesse parado. E adeus.

Fechou o ano com recordes muito importantes. Foram 13 vitórias na temporada, igualando Schumacher em 2004. E nove seguidas, ampliando a marca já alcançada nos EUA e empatando com Alberto Ascari, para os que consideram que o italiano ganhou nove consecutivas entre 1952/53 — excluindo as 500 Milhas de Indianápolis, já que os pilotos europeus não corriam lá, embora a prova fizesse parte do calendário da F-1, numa daquelas maluquices do passado sobre a qual já falamos bastante.

Sebastian tem agora 39 vitórias na carreira, e com mais duas iguala Senna. É o quarto maior vencedor da história, atrás de Schumacher, Prost e do brasileiro. Fechou o campeonato com 397 pontos, 155 a mais que o vice-campeão, Alonso. Se alguém descobrisse hoje, por exemplo, que nas últimas seis provas ele usou um motor V12 de 5.000 cc e tirasse os pontos das últimas seis vitórias, ainda assim Vettel seria campeão. Se a Red Bull corresse com apenas um carro neste ano, seus 397 pontos seriam suficientes para dar ao time o título mundial de construtores, já que a Mercedes, vice, ficou com 360. A Ferrari fez 354.

Sendo assim, não há muito o que contestar.

Voltemos à corrida. Foi agitadinha, como são as de Interlagos, com sol ou com chuva, ou com casamento de viúva. Porque a pista é curta e tem dois bons pontos de ultrapassagem depois de grandes retas, o S do Senna e o Lago, onde, com vácuo, asa móvel, KERS e vento de popa até o Meianov passa alguém. Então, foi o que se viu, algumas boas brigas, algumas disputas interessantes e pequenos dramas.

O maior deles de Massa, que largou bem, andou em quarto até quase a metade da corrida, mas tomou um drive-through por ter cortado a linha branca de entrada no box numa volta normal, erro de cálculo, mesmo. Caiu para oitavo e não conseguiu se recuperar. Terminou em sétimo. Foi uma pena porque ele e Alonso combinaram que se o espanhol estivesse na frente e uma troca de posições resultasse em pódio para o brasileiro, isso seria feito, na sua despedida da Ferrari.

Massa, assim como a maioria, saiu de pneus médios para duas paradas. Apenas Button e Gutiérrez largaram com duros. Duros que, para alguns carros, como a Mercedes, foram melhores que os médios. São os mistérios da pista paulistana. Os mercêdicos sofreram no início da prova, sendo ultrapassados com alguma facilidade. Hamilton ainda foi punido por tocar rodas com Bottas, num exagero dos comissários, embora o toque tenha arrebentado a roda do finlandês, que abandonou. No final, Rosberguinho fechou a prova em quinto e Comandante Habilton, em nono.

Outro pequeno drama foi o de Grojã, que estourou o motor na terceira volta. “Umas 70 antes do final”, brincou o francês. Mais um, de Kovalainen, que não conseguiu se entender com o procedimento de largada da Lotus, fez uma corrida medíocre e completou seu segundo GP como substituto de Raikkonen sem pontuar. Foi a primeira vez no ano que o time preto-e-dourado não marcou na temporada.

No mais, foi uma corrida normal. Webber passou Alonso para assumir o segundo lugar na volta 13, perdeu a posição no primeiro pit stop (parou na 23, duas depois do espanhol), mas recuperou três voltas depois, na pista, sem a menor dificuldade. Os dois pilotos da Red Bull ainda tiveram um momento meio pastelão na volta 47, quando Vettel fez sua segunda parada e faltou um pneu. A equipe demorou para encontrar o dito cujo nos boxes e Webber chegou para trocar também, tendo de esperar um pouco mais do que o normal. Mas nem a trapalhada colocou em risco a quarta dobradinha rubrotaurina no ano. Foi fácil como cortar manteiga com faca quente.

No fim, quem esperava que Vettel poderia ceder a vitória ao Canguru Desolado que se despedia da F-1 está esperando até agora, mas que não se acuse o alemão de não ter sido elegante. Piloto não gosta disso, que o outro deixe ganhar. Ainda mais os dois, que não se bicam. Uma atitude como essa seria vista como demagógica, cínica e calhorda. No fim, foi tudo normal, como deveria ser.

Webber completou seus últimos metros num F-1 sem o capacete e as luvas, que sabe-se lá como ele conseguiu tirar com o carro em movimento. Espantou-se com o barulho. “Sem o capacete, a gente escuta umas coisas que não gostaria de ouvir”, falou. Verdade, tem-se a impressão, num carro de corrida, sem capacete, que tudo vai quebrar ou explodir a qualquer momento. Lágrimas? Talvez. “Foi o vento”, disse. Voltou para os boxes enquanto Vettel fazia seus “zerinhos” diante das arquibancadas, assim como Massa, que queimou borracha para dizer adeus ao seu time.

Fim de papo em 2013, e Interlagos registrou nas dez primeiras posições Tião, Canguru, El Tercerón, Bonitton (que fez uma prova excepcional, tendo largado em 14°), Rosberguinho, Maria do Bairro (outro que andou demais, 19° no grid, deixando a McLaren pela porta da frente), Massacrado, Heisenberg (nos pontos de novo, e vai mesmo para a Force India), Comandante Habilton e Ricardão.

Fim de temporada sempre carrega um certo ar de melancolia, mas é assim mesmo. E a F-1 e sua gente precisam de descanso. Dois meses, talvez nem isso, para boa parte do pessoal, enquanto outra boa parte, talvez a maior, segue trabalhando loucamente nas fábricas para montar os carrinhos que veremos no ano que vem.

Que, esperamos todos, deve ser melhor que 2013. Este só foi bom mesmo para Tião, o Alemão. “Pena que acabou”, ele disse. E como recriminar o menino?

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