terça-feira, 14 de maio de 2013

LOS MOSSOS Y LAS MOSSAS*

* Por Victor Martins


Substituição no trono da Espanha: sai Juan Carlos, entra Fernando. E é capaz de perguntar à população e uma porcentagem considerável acreditar que Alonso é a solução para os problemas pelos quais o país passa desde a recessão econômica. Se bem que o povo que foi ao autódromo catalão deu uma banana para os ideais separatistas e foi ao delírio com a vitória do asturiano esqueceu a vida dura. Hay que celebrar.


Pues que lo celebre. A atuação do hijo mayor foi soberba, como costuma ser nas situações em que tem se desvencilhar dos adversários e ir para cima sem hesitar. Se Vettel ficou cozinhando el pollo sem ameaçar Rosberg no começo – e se entende que não tinha carro para isso –, Alonso não tardou em passar o alemão tão logo voltaram dos pits. Daí, foi manter o bom ritmo mesmo com os pneus em frangalhos para alcançar a glória e o reinado.

Longe de qualquer pachequismo ou a pieguice inerente, a volta de retorno aos pits com a bandeira na mão e o comportamento do público se assemelharam às vitórias de Senna em Interlagos, e isso tem de ser destacado porque o negócio hoje é muito diferente em termos de comportamento porque a F1 impõe uma padronização coxinha e babaca aos pilotos e ao seu produto – vide aquele pódio que parece o Roda a Roda Jequiti. Mal comparando, a Espanha é hoje o que o Brasil foi há 20 anos, com alta taxa de desemprego, economia em recessão e pouca perspectiva de evolução. O esporte é a válvula de escape, e ao esportista, nada mais gratificante que vencer em casa e comemorar da forma mais espontânea.

Alonso, de fato, tem do que sorrir. Nas corridas em que tudo transcorreu normalmente, venceu. Na Austrália, a Ferrari levou o bote da Lotus na estratégia – algo que tentou repetir hoje e só conseguiu o segundo posto porque o calor era excessivo e o carro de Räikkönen não é tão rápido quanto os dos vermelhos. Na China, venceu a partir da terceira volta. Talvez daí venha tamanha confiança e desdém para o abandono na Malásia e o problema no Bahrein – o mesmo número que teve em 2012 e que já o poria na linha de risco do título. Realmente é claro que a Ferrari tem o melhor carro em corrida.

A Lotus já tem essa consciência e trabalha Kimi na base da cabeça. Já que não dá para vencer, que se tente algo diferente, considerando que o carro, amável com os Pirelli, permite. O resultado normal seria terminar atrás de Massa, então o segundo é mais do que o esperado. Com estes pódios que arrebata, o finlandês vai bebendo champanhe e se mantendo nas cabeças. Está só quatro pontos atrás de Vettel, que venceu duas provas em cinco corridas. Aliás, a disputa de posição com Sebastian foi um dos pontos altos desta boa corrida em Barcelona, que quebrou os paradigmas das estatísticas: nenhum dos três do pódio largaram entre os três primeiros.

Falando em Vettel, a diferença de quase 40 segundos para Alonso na bandeirada também deve ligar o alarme na Red Bull. Não é nada normal que, em condições similares de tática de pneus, o alemão acabe tomando uma média de 0s58 por volta, considerando que no primeiro trecho de corrida se manteve à frente do rival espanhol. Também não pode colar qualquer excusa da Red Bull que se tratou de um resultado atípico: as temperaturas do ar e da pista não eram nada absurdas e o composto dos pneus é de conhecimento da equipe. Digamos que, no geral, a Red Bull ainda tem um carro melhor que o da Lotus. Mas é muito mais volúvel.

Teve nego aí, bocudo, que veio com o papo de que Massa mal passaria do oitavo lugar largando em nono e com o discurso preparado de que a degradação dos Pirelli era imensa antes da corrida. Queimou a língua e ardeu no inferno. Felipe teve uma largada ótima, passando a sétimo, e levou um par de voltas para passar Pérez por volta lá na reta do miolo. Nisso, teve uma sorte: como Rosberg prendia Vettel, Alonso, Räikkönen e Hamilton, não perdeu tempo e logo encostou no pelotão da frente. Passou Hamilton e, inteligentemente, foi chamado para parar antes dos demais, onde ganhou o posto de Kimi. Aí, tornou atrás de Vettel, que perdeu a posição para o espanhol. Gradativamente, voltou ao seu ritmo de perda de tempo com o decorrer da prova, mas surpreendentemente não foi tão grande. Com a parada a menos do finlandês, não teve como brigar pelo segundo lugar.

De qualquer forma, um lugar no pódio para Massa apaga os desempenhos medianos que teve nas últimas provas e o mantém ali no bolo. “Você tá louco em dizer que ele vai lutar pelo título, né?” E eu disse isso, cazzo? Felipe tem um campeonato para terminar ali em quarto ou quinto. Pode não ser lá grande coisa, mas só o fato de estar realmente ali à frente de Webber e perto de Hamilton demonstram uma melhora sensível. O problema é que Massa tem a mesma síndrome de Barrichello: não conseguir engatar uma série de corridas com performances acima da média.

Se Oscar Maroni quiser abrir um meretrício, deveria colocar o nome de Dona Mercedes. Porque passaram a mão nos caras com gosto hoje. Hamilton, então, tomou até de Maldonado certa hora. Camarada que larga em segundo e termina em 12º, chegando a andar dois postos acima, tem de chorar com um carro que só serve para uma volta rápida. Rosberg, então, fez milagre em terminar em sexto e segurar a rapa no começo. O ritmo de corrida das flechinhas é pior que o da Toro Rosso – e isso deveria ser considerado uma ofensa para os taurinos da Série B, que com Ricciardo andam muito bem; só pecam no início, quando o carro não apresenta aderência alguma. Lewis já clamou, ajoelhado e depois de ser amordaçado no coito, que o pessoal tem de voltar urgentemente para a mesa de planejamento e desenho e ver onde é que está o erro para que o desgaste seja tão acentuado.

Webber foi quinto, mas parece que vai e aluga o carro da Red Bull para correr, tipo cliente. Ninguém percebe que está ali. Credo. Di Resta foi sétimo em um desempenho realmente mediano da Force India – sim, esperava-se mais. Sutil foi acometido por outra zica do pântano depois de uma largada excepcional, pulando de 13º para oitavo. Por muito tempo apareceu com a melhor volta da prova. No fim, ainda foi 13º, atrás de Hamilton, no pré-coito. As McLaren ficaram em oitavo e nono com Button e Pérez, devidamente comportados, e Ricciardo foi décimo, andando novamente bem. Gutiérrez, que chegou a liderar a prova, num momento de psicodelia e catarse, até que andou direitinho e foi o 11º. A Williams está lá por estar. O resto é aquilo de sempre, um terror em forma de quatro rodas.

Daqui duas semanas vem Mônaco, e para lá a Pirelli vai levar os supermacios. Se a vida já não é facil, andar com os pneus que se desfazem em quatro ou cinco voltas será um desafio e tanto. E num circuito diferente de tudo dos demais, o negócio pode embaralhar um pouco. Até a McLaren pode aparecer bem. Até lá, o peito estufado de Alonso vai pensar em, depois do reinado, conquistar o principado.

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