* Por Luis Fernando Ramos
A Fórmula 1 é um meio cínico, onde celebra quem vence e reclama quem perde. Sempre foi assim, sempre será. Escapamentos soprados, difusores duplos, amortecedores de massa. Basta olhar para a história recente que sempre haverá alguém descontente, culpando algum elemento técnico para justificar, mais para os patrocinadores do que para a opinião pública, uma derrota na pista. Até mesmo os pneus já foram o pivô de uma discussão recente: em 2005, quando os Michelin era claramente superiores aos Bridgestone e a Ferrari foi pressionar os franceses nos bastidores para mudarem seu produto. Como se vê, ter mais de um fornecedor não basta para cessar o mimimi. Nada adianta.
Dito isto, é uma pena que tenha se politizado a discussão sobre os pneus atuais. Achei que Paul Hembery, sempre um cara sensato, errou na conversa aos jornalistas ao afirmar que, se mudarem os pneus, a imprensa vai reclamar dizendo que a Pirelli teria dado o título nas mãos da Red Bull. Dá a impressão que foi feito um pneu anti-Red Bull. Se for o caso, poderiam fazer no ano que vem um pneu que só funcionasse nos carros de Caterham e Marussia, para equilibrar a disputa. Não é por aí.
Eu gosto da maneira que os pneus italianos apimentaram as corridas. Quando puxo na memória as corridas do Mundial de 2010, dou graças a Deus que acabaram aquelas procissões chatíssimas, com disputas só até o primeiro pitstop (e olhe lá) e um trenzinho de carros conduzidos por pilotos frustrados pela impossibilidade quase absoluta de se ultrapassar.
Mas está claro que a Pirelli errou a mão no tempero deste ano. Em janeiro eu estive no lançamento dos compostos atuais e o discurso era de corridas com duas paradas nos boxes. A média do GP da Espanha foi próxima a quatro. Ou seja, chororô de times à parte, eles mesmos não chegaram nem perto de cumprir nesta prova o objetivo que tinham proposto.
Por um lado, isto nos deu a corrida mais animada em Montmeló dos últimos anos. Por outro, confundiu ou frustrou os torcedores já que, para a própria sobrevivência da borracha, as disputas reais de ataque e defesa foram mínimas. Não deve ser assim e os italianos sabem disso.
Infelizmente a mídia internacional em geral também está perdida nesta situação e não focando no mais importante: este é um daquele raros mundiais com um equilíbrio interessante entre vários carros. Olhem só:
Temos uma Ferrari que se sobressai em ritmo de corrida especialmente em circuitos que a velocidade de reta é fundamental, como em Xangai e Barcelona. E que larga muito bem. Com isto, as deficiências do time em classificação acabam relevadas a segundo plano e os bons resultados aparecem neste tipo de circuito.
Temos uma Red Bull que funciona ao contrário, um carro que é premiado em pistas onde é o equilíbrio aerodinâmico que conta. E que pena mais em velocidade de reta, algo que eles vem sacrificando já há alguns anos. Por isso que vi um Sebastian Vettel bastante relaxado com o quarto lugar após a prova de domingo. Era uma corrida para salvar pontos e doze ficou de bom tamanho. Poderiam ter sido quinze mas eles erraram na estratégia, mostrando mais uma vez que podem se perder quando não estão no papel de líder, só controlando o que fazem os quem vêm atrás.
Temos uma Lotus bastante equilibrada e que vai bem em todos os tipos de circuito pela maneira suave com que trabalha os pneus, efeito potencializado pela qualidade de Kimi Raikkonen em fazer corridas infalíveis com a precisão de um relógio suíço, somando sempre bons pontos para suas pretensões no campeonato.
Três equipes andando em nível parecido, cada uma com seus pontos fortes e fracos e lideradas por um campeão mundial. E, como cereja do bolo, uma Mercedes diabolicamente rápida em classificação e incrivelmente lenta em ritmo de corrida, para se colocar como um fator pertubador na dinâmica das corridas deste trio da frente.
É uma equação saborosa que promete uma disputa intensa ao longo da temporada, cheia de altos e baixos para todos os envolvidos. E todo mundo olhando só para os pneus...
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