terça-feira, 10 de abril de 2012

SAUBER, O GRANDE CAÇA-TALENTOS DA F1*

* Por Edd Straw, do AUTOSPORT.com

Peter Sauber tem a reputação de ser um dos chefes de equipe mais conservadores da F1. Alguns caracterizam a presença constante do time do suíço no pelotão intermediário (período da parceria com a BMW à parte) como um reflexo de sua falta de ambição. Outros justificam que a marcante longevidade da escuderia, nona maior da história em número de GPs disputados (somando com a era BMW), é sinal de um pragmatismo maior do que a média.

Mas se há uma área onde nunca será possível acusar legitimamente a Sauber de excesso de conservadorismo é em sua escolha por pilotos. A quase-vitória de Sergio Pérez no GP da Malásia, naquela que foi apenas a 19ª corrida do mexicano na F1, é um exemplo irrefutável disso.

Contra toda a polêmica dos que o consideram um "piloto pagante", que só está no grid por ser patrocinado pela Telmex, Pérez sempre demonstrou um potencial expressivo.

Aqueles que acompanharam a F3 Inglesa em 2008, quando Sergio venceu quatro corridas com a mediana T-Sport e esteve na briga pelo título por boa parte da temporada contra a poderosa Carlin, já notaram de longa data que ele era um nome a ser observado.

Embora não tenha nenhum título vistoso em seu currículo e possua como feito mais marcante a conquista da classe nacional da F3 Inglesa em 2007, Pérez claramente chamou a atenção e, após os lampejos de uma boa promessa já naqueles tempos, sua sólida sétima colocação na corrida de estreia na F1 [GP da Austrália de 2011], não foi uma surpresa.

O próprio Peter Sauber minimiza sua reputação de caça-talentos, que indubitavelmente o coloca no mesmo patamar de Ken Tyrrell e Eddie Jordan. Mas, independente de você querer caracterizá-lo da forma como for, não há dúvidas de que ele é uma voz que soa forte no julgamento das habilidades de um piloto.

Não esqueçamos que Sauber era o dono do time que angariou 150 mil libras (R$ 435 mil) para ajudar um jovem alemão, que pilotava por sua equipe no Campeonato Mundial de Sports Car (antigo Mundial de Endurance), a fazer sua estreia na F1 pela Jordan, no GP da Bélgica de 1991. Embora o investimento não tenha dado retorno - à época, o objetivo era preparar Michael Schumacher para ser piloto da futura Sauber-Mercedes na categoria -, este foi apenas o início de uma séria de apostas do suíço em jovens promessas.

Logo em sua chegada à F1, Sauber mostrou disposição em acreditar na juventude. Na sua primeira temporada, ele abriu as portas para dois pilotos que, se já tinham experiência na categoria, ainda estavam construindo a fase inicial de suas carreiras. JJ Lehto e Karl Wendingler tinham, juntos, 52 GPs disputados e duas provas terminadas na zona de pontos, mas recompensaram o patrão pela oportunidade ao completarem a primeira volta da primeira corrida da história da equipe na categoria em quarto e quinto, respectivamente.

No ano seguinte, a entrada do novato Heinz-Harald Frentzen se mostrou a primeira revelação de sucesso da Sauber. O alemão protagonizou alguns surpreendentes desempenhos em classificação, com um quarto e um terceiro lugar nos grids dos GPs da Europa e do Japão, e terminou a temporada com sete pontos marcados.


Desde então, Sauber perdeu qualquer temor de apostar nos jovens, mesmo que em 1994 ele tenha mesclado o noviciado de Frentzen à longa experiência de Andrea de Cesaris.

"Não sou nem um caça-talentos, nem um desbravador", justifica Sauber. "Na maioria dos casos, um empresário me chama e me oferece seus pilotos. Ao longo dos anos, houve dúzias deles, talvez até centenas. A dificuldade é escolher os nomes certos. Quando escolhi alguns pilotos no passado, minhas decisões foram obviamente baseadas em seus resultados na pista, mas tudo isso era combinado à minha intuição. Essa combinação parece ter dado certo."

É claro que, em algumas perspectivas, tal forma de rolar os dados faz parte de uma postura pragmática. Como uma equipe média, a Sauber não dispõe nem dos recursos e nem da estrutura necessária para contratar pilotos com carreira vitoriosa na F1.

Historicamente, competidores renomados só passaram pela escuderia suíça na fase decadente de suas carreiras, como Johnny Herbert pós-Benetton, de 1996 a 1998, e Jacques Villeneuve, em 2005. Em contrapartida, a maioria dos pilotos que estrearam pelo time suíço desfrutaram de algum sucesso na categoria (exceção feita a Jean-Christophe Boullion e Norberto Fontana).

"Depende das circunstâncias", salienta Peter Sauber. "É mais fácil para um time do pelotão intermediário contratar um piloto jovem, porque não há obrigações de vencer corridas. Para uma equipe de ponta, é uma situação mais difícil, porque normalmente eles precisam ter dois competidores de ponta, que tenham capacidade de vencer corridas de forma consistente."

Dado que Pérez poderia ter vencido na Malásia - e provavelmente teria, se não tivesse escapado da pista enquanto perseguia Fernando Alonso -, é possível compreender o argumento de Sauber.

Inevitavelmente, assinar com pilotos inexperientes é flertar com os riscos. Se contratar um piloto já estabelecido no meio do pelotão representa provavelmente a garantia de uma campanha sólida, as "armas mais novas" podem potencialmente alcançar picos mais altos, ao mesmo tempo em que podem errar mais.

Peter Sauber também pontua que ter um desafiante novo levanta a moral da equipe. O sucesso de Kimi Raikkonen em 2001 o deixou convencido disso e, a partir daquele momento, o finlandês passou sempre a ser apontado como uma cria da equipe suíça.

"Você vai encontrar prós e contras dos dois lados", admite o chefe da equipe. "Competidores já estabilizados possuem mais experiência, o que certamente é uma vantagem. Por outro lado, jovens promessas são particularmente mais motivados e frequentemente mais fáceis para se trabalhar", considera.

"Tudo depende das circunstâncias e do que faz mais sentido. Trazer um novato talentoso, às vezes, pode dar um grande impulso motivacional para todo o time."

"Nós experimentamos uma espécie de mudança [na política de contratação de pilotos] após 2001, quando nossa experiência com Kimi Raikkonen foi muito bem sucedida. Essa experiência positiva foi determinante para assinarmos com Felipe Massa em 2002."

"Mas não esqueça que, em 2010, tivemos Pedro de la Rosa e, mais tarde, Nick Heidfeld em nosso quadro, dois pilotos muito experientes", pondera.

Para trazer novos talentos, não basta apenas escolher os nomes certos, mas também criar o ambiente propício para que eles possam evoluir. Um estreante vai inevitavelmente cometer erros e dar a ele a oportunidade de se recuperar é essencial. Pérez, por exemplo, não sofreu nenhuma retaliação pelo erro que certamente lhe custou a vitória em Sepang, assim como não foi asperamente repreendido após nenhuma das falhas que cometeu durante o ano passado.

Talvez isso seja o que mais dê créditos a Peter Sauber. O dirigente realmente gosta de lidar com jovens talentos - não à toa, ele trouxe Kamui Kobayashi para a equipe após duas excelentes apresentações do japonês pela Toyota, em 2009, por ter se impressionado com a atitude do piloto.

Kobayashi, que ainda precisa encontrar alguns décimos de segundo em seu ritmo de volta lançada, mas é capaz de apresentar desempenhos extremamente consistentes na corrida, embora seja dono de um estilo de pilotagem ostensivamente agressivo, é um exemplo da perícia de Sauber em se impressionar com algo além da velocidade pura.

Mas o fator crucial é que, não importa quais sejam as características do novato em questão, o comandante suíço sempre cria o ambiente adequado para que ele evolua.

"Acredito que não somos bem sucedidos com nossos novatos apenas porque escolhemos os nomes certos, mas também porque disponibilizamos a eles um ambiente onde eles podem crescer sem muita pressão", afirma.

"Se um jovem arruma uma vaga no meio de uma temporada, tendo como companheiro um piloto claramente número 1, então as chances de que ele sucumba são maiores."

"As qualidades para as quais nos atentamos variam na maioria das ocasiões. No caso de Kimi, foi sua incrível força mental, que era perceptível imediatamente. Com Felipe Massa, foi a velocidade pura, especialmente em curvas de alta velocidade. Já Kamui me impressionou simplesmente pelas duas boas corridas que ele fez pela Toyota."

"Todos eles precisaram ter um certo nível de talento previamente comprovado, mas, em cada caso, não houve um fator decisivo em comum", explica.

A questão do novato sendo colocado ao lado de um piloto de ponta no meio do ano está bastante em voga atualmente. Se a Ferrari decidir dispensar Massa antes do fim de 2012, Pérez é o favorito a substitui-lo. Mesmo que o mexicano já tenha mais de uma temporada de experiência, essa não seria necessariamente a decisão mais acertada de sua carreira.

Afinal, qual o melhor lugar para provar suas habilidades? Em uma "embarcação feliz", como se apresenta a Sauber atualmente, ou em uma problemática Ferrari, logo contra um dos melhores pilotos de todos os tempos e com todos aqueles que te enaltecem no momento sendo os mesmos que vão rebaixá-lo caso você seja batido pelo espanhol frequentemente?

Talvez a lição aqui seja dar à estrela em ascensão o tempo e o ambiente corretos para que ele amadureça. Assim, a Ferrari pode ter em mãos uma promessa muito mais preparada se souber esperar até 2013.

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