* Por Álvaro Mendes Wanderley (que faz parte do casal Sportv)
Passava um pouco das oito e meia da manhã do dia 25 de Novembro quando cruzei o portão do Setor G de Interlagos e comecei a realizar um sonho de criança que tenho desde 1986, quando tive a chance real de assistir ao GP Brasil de Fórmula 1 pela primeira vez, aos nove anos. Naquele ano, porém, o sonho foi adiado na última hora porque faltou o principal no último momento: o dinheiro para os ingressos.
Para esse ano, porém, as coisas começaram bem mais animadoras e tranquilas: ingressos com preço fixo desde o começo das vendas seis meses antes, possibilidade de parcelamento no cartão de crédito, entrega em domicílio... Isso sem falar na facilidade que existe hoje para se comprar uma passagem de ponte aérea e de se encontrar hotéis teoricamente acessíveis para pessoas portadoras de deficiência, como eu. Enfim, tudo parecia conspirar a favor para que um cadeirante e trabalhador de classe média disposto a realizar uma loucura por um sonho concretizasse o seu plano.
Porém, as coisas não foram tão tranquilas na prática quanto pareciam na teoria e a primeira dificuldade apareceu na hora de subir às arquibancadas. Não pude escapar de encarar uma bela dezena de degraus da escada que separava o caminho do portão até as arquibancadas. Elevador hidráulico? Bom, ele estava lá, mas não disseram que ele estava travado. Por sorte, outras pessoas que chegavam para assistir ao primeiro treino livre me ajudaram a subir os degraus e consegui chegar ao local.
Depois desse pequeno contratempo, começaram os treinos e tudo correu bem até a hora de usar o banheiro pela primeira vez. Pensei: “Bom, por mais que os banheiros sejam portáteis, deve haver cabines com o símbolo de acessibilidade”.
Procurei um pouco e lá estava a tão famigerada plaquinha exposta em umas poucas cabines colocadas num cantinho em meio às comuns. Ao abrir a porta de uma delas, no entanto, não é que a única diferença da cabine dita adaptada era apenas a plaquinha presa na porta? Por dentro o banheiro era tão idêntico e mal feito quanto os demais.
Apesar do que pode parecer até aqui, nem tudo se resume a críticas. Há de se ressaltar o quanto a estrutura do transporte público esteve surpreendentemente boa e o quanto a integração de trens e metrô funcionou bem. Além de as composições serem confortáveis e de acesso fácil, os profissionais das empresas que controlam os dois serviços estavam em geral bem entrosados. A troca entre as composições era auxiliada quase sempre por um funcionário que aguardava no local em que eu iria desembarcar.
Existe também um serviço de vans com elevadores para cadeiras de rodas que durante os três dias de GP fez o trajeto Estação Autódromo-Autódromo-Estação gratuitamente. Tudo ocorreu de forma relativamente tranquila – apesar de o serviço do pessoal de apoio poucas vezes saber indicar com exatidão o caminho a seguir. Todas as vezes era apanhado na estação, deixado no interior do Setor G e trazido de volta quando as atividades de pista terminavam.
Por fim, se eu tivesse de resumir a experiência em uma frase, eu diria: assistir ao GP do Brasil é maravilhoso, desde que não seja preciso usar um banheiro.
2 comentários:
Filipe (irmão da Débora Longen a namorada de Alvaro: Legal conhecer um pouco mais da viagem antes de minha irmã voltar! Abraços Alvaro e Débora!
Álvaro e Débora, só posso dizer que foi um prazer conhecer vc's e poder trocar algumas poucas ideias na sexta-feira... espero que possamos estar juntos em outras oportunidades e sempre em contato pela internet!!!
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