segunda-feira, 29 de março de 2010

PILOTOS: LUIZ PEREIRA BUENO

Luiz Pereira Bueno nasceu no bairro de Higienópolis, São Paulo (SP), em 16 de janeiro de 1937, era o caçula entre 3 irmãos. Em 1944, com 7 anos os pais o levaram à Interlagos num passeio dominical, era um corrida de carros movidos a gasogênio.

Sua irmã Sylvia se casou com Cláudio Daniel Rodrigues em 1947, que depois importa um carro MG e o desenvolve, tão bom fica que passa a ir à Interlagos testar.

Em Higienópolis Bueno morava na Rua Aracaju, muito próximo da Rua Pernambuco onde moravam os irmãos Ari e Ciro Cayres, e que, segundo ele, eram uns loucos; andavam sempre em velocidade.

Além deles, havia também um primo de sua mãe, Ico Ferreira, corredor, que morava na mesma região.

Em 1948 volta à Interlagos com seu cunhado e seu irmão e aí se apaixona por corridas, mas tinha apenas 11 anos. Nesse mesmo ano é reprovado no curso primário, e seu pai o chama e diz:

“Não é castigo, mas você vai para Campinas, colégio interno, para pegar disciplina e aprender a estudar, gostar de corrida, gostar de motor, gostar de automóvel, tudo bem, mas o mínimo que você precisa é estudar.”

E foi em 1949, ficou 2 anos no Colégio Ateneu Paulista e voltou, mas durante esse tempo vinha para São Paulo nos finais de semana e ia assistir aos treinos do cunhado, terminou o ginásio já em São Paulo.

Quando voltou, Cláudio havia aberto uma oficina mecânica e seu irmão Vasco o ajudava, e ambos corriam. Em 1951 vão: ele, o cunhado, a irmã e o irmão assistir ao XI GP Cidade do Rio de Janeiro (Circuito da Gávea), chegaram na véspera, escolheram um lugar com boa visibilidade e para guardar o lugar escolhido dormiram nos carros.

Passou a dividir seu tempo entre os estudos e a oficina, queria aprender a preparação, o desenvolvimento, mas aprendeu também o esquema para amaciamento de motores, então após as aulas ia com sua pequena moto até Interlagos e lá passava a tarde toda dando voltas e assentando o motor dos carros preparados pelo cunhado e por seu irmão, com isso ficou conhecendo o circuito como poucos.

A primeira corrida “pra valer”.

Vasco tinha comprado o Fiat Stanguelini com que Ciro Cayres havia corrido representando o Comino e aos 19 anos (1956) quando Bueno resolveu começar
a correr, seus pais deram outro carro ao Vasco e o Fiat ficou para as corridas, estava cursando o Científico no Colégio Paes Leme, que depois concluiu no Liceu Eduardo Prado. Começou a correr e continuou ajudando na oficina de Cláudio, que havia se tornado um ponto de encontro de pilotos e aficionados, e foi lá que ficou conhecendo Bird Clemente queria começar a correr e tinha um amigo que fez uma troca com Bueno, deu um Simca Huit e Bueno montou seu motor e cambio no carro, em troca ele deu o Fiat, sem motor e cambio, e com esse carro ele e Bird se inscreveram na III Mil Milhas Brasileiras de 1958, mas o carro quebrou logo no início da prova.

Em 1959, aos 22 anos, faz fila na porta da fábrica Willys (fabricante de automóveis) e consegue uma vaga para trabalhar na unidade de eixos e transmissões, ficou poucos meses, saiu e logo entrou para uma concessionária, a Agromotor, onde trabalhava com a linha de Jipe e Rural Willys, mas pouco antes do lançamento do Renault Dauphine, que era fabricado sob licença pela Willys, foi para a fábrica e fez um estágio especializando-se nesses carros.

Em 1960, aos 23 anos se casa, e desse casamento nascem 3 filhos: Luiz Junior, Eduardo e Maria Alice. Em 59 e 60 fica sem correr, mas já em 1961 volta a correr em dupla com Danilo de Lemos com um Dauphine na prova 24 Horas de Interlagos, foram bem no índice performance e conheceram Mauro Salles que os apresentou à diretoria da Willys, e conhecem um projeto sigiloso, Bueno é convidado a trabalhar, desta vez num departamento novo, o Departamento de Carros Esporte. Admitido vai para a França e faz um estágio na fábrica do Alpine. Retornando ao Brasil, Christian Heins já havia sido admitido como chefe e foi também criado o Departamento de Competições para desenvolver os carrinhos e Bueno estava nele.

Vendo não ser possível conciliar o lado esportivo com o lado profissional, se desliga da fábrica, ficando apenas como piloto de competição.
Em 1962 abre, com um amigo de infância, Franklin Martins, uma oficina onde preparava carros da linha Renault, a Oficina Torque na Rua Jesuíno Pascoal. A Equipe Willys não ia participar da prova 500 Quilômetros de Interlagos reservada aos carros de fórmula, mas como piloto estava nos boxes e antes da prova é convidado a fazer dupla com o amigo Waldimir Fakri num carro Ferrari/Lancia V6 de Mecânica Nacional, faz inscrição na própria pista e participa, chegaram em sétimo lugar.

Na equipe “fica de castigo” por mais de um ano, pois Christian dizia precisar de alguém firme para pilotar os Gordini, até que em 1963 corre com o Fórmula Junior Landi/Bianco/Gordini em Araraquara e vai tão bem que já na corrida seguinte passa para o Willys Interlagos. No 500 Quilômetros volta a pilotar o F-Jr, mas a caixa de direção quebrou, se soltou, e corria de um lado para o outro quando girava o volante as rodas não viravam. Desistiu.

Em 1964, corre em dupla com Chico Landi, seu ídolo, que havia entrado como consultor na equipe, a prova 500 Milhas de Porto Alegre (RS), depois faz sua primeira prova internacional aos 27 anos de idade, as 200 Milhas de Montevideu, no autódromo de “El Pinar”, mas seu carro apresentou problemas obrigando a seis paradas no box. No mês de outubro, véspera da tentativa da Willys de estabelecer o recorde de resistência com o carro Gordini, foi escalado para ir e voltar ao Rio de Janeiro durante a madrugada para amaciar o motor, afinal era um craque nisso.

Ganhou a prova 500 Quilômetros de Interlagos pela primeira vez em 1966, com o Alpine A110 Renault desenvolvido pelo Toni Bianco, prova em que viria a se tornar tri-campeão. Ficou na equipe e correu até novembro de 1968, quando já se chamava Equipe Ford-Willys, saindo da equipe faz a última corrida de 1968, os 1000 Quilômetros da Guanabara, com uma BMW 2000TI da Equipe CBE de Eugênio Martins, em dupla com Jan Balder, mas tiveram que parar, não concluíram.

A ida para a Europa.

Neste ano, a revista 4 rodas trouxe ao Brasil o famoso Stirling Moss para o festival de F.Ford. Ricardo Ashcar ciceroneou o inglês por dominar o idioma e tratou de “apresentá-lo as coisas boas da terra”. Ele ia ficar alguns dias... ficou 2 semanas!

Além disso, entre uma caipirinha e outra, uma brasileira e outra, Ashcar conseguiu um teste de F.Ford para ele e uns amigos. Dessa forma, Ricaro Ashcar, Luiz Pereira Bueno, Marinho Camargo e Norman Casari, embarcaram para Inglaterra.

Lá chegando, deram algumas voltas, todos juntos, em um carro de passeio para conhecer o traçado e depois do campeão da categoria, Ray Allen, marcar tempo, foram para a pista.

Moss empolgou-se com Bueno, que enfiou meio segundo no inglês (que tentou baixar o tempo após os testes e rodou) e o encarregou de escolher um companheiro, escolha que recaiu em Ashcar (segundo Luizinho, uma das mais difíceis decisões que já tomou na vida, uma vez que dos outros 3, Marinho tinha sido o melhor. “Não dormi naquela noite... precisei chamar o Marinho e conversar com ele. Ele entendeu... foi um alívio”), por ter sido o gestor e articulador da idéia. Bueno e Ashcar só voltaram à Europa em maio de 69, com patrocínio garantido da Renner, Tergal e Shell, mas com a temporada de F-Ford inglesa já em andamento.

Moss relutou, mas cedeu “um carro para os dois” e Ashcar abriu mão de pilotar pelo amigo.

Logo na primeira prova Bueno sofre um grave acidente e destrói o carro. Reconstruído, retorna às competições, mas nas duas provas seguintes só consegue resultados ruins, até que, passando pelo box da equipe um mecânico da fábrica do chassi percebeu que o carro estava desalinhado, feitos os ajustes passa a obter resultados excelentes, inclusive seis vitórias e termina o ano como vice-campeão.

Retornando ao Brasil participou do Torneio BUA de F-Ford, com cinco provas em quatro autódromos, correu pela equipe Renner Tergal com um carro Merlyn nas quatro primeiras provas e com uma Lola T-200 na última, em Interlagos, em função da promessa de um diretor da fábrica Lola Cars, que viera para o Torneio de F-Ford, de que cederia um carro da Fórmula 5000 para ele correr a temporada de 1970, sem lugar na equipe SMART, saiu em busca de patrocínio e nesse meio tempo faz duas provas para em seguida, ele, o Greco e mais um diretor da “Standard Propaganda” irem à Inglaterra, mas o tal diretor da Lola não sustentou a promessa. Aí os três passaram a conversar com o dono da Brabham, Bernie Ecclestone, e também com o dono da March, Max Mosley, mas nada foi conseguido, relembra.

“Na época até sugeriu a possibilidade de comprar a Brabham que estava sendo ofertada. Era pequena, não era grande, artesanal. Mas aqui o Greco não conseguiu levantar patrocínio, então fiquei mais um pouco e vim”.

De volta passa a correr pela equipe do Greco quando vence pela segunda vez os 500 Quilômetros de Interlagos com um Bino Mark II. No final de 1970 o publicitário Walter Uchoa teve a idéia de montar uma nova equipe, em moldes profissionais, conversou com Anísio Campos, José Carlos Pace, Chico Rosa e Bueno, que aceitaram.

Participou do Torneio de Fórmula 3 em Janeiro de 1971, antes havia vencido uma das etapas do torneio Ford, para lançar o carro Corcel, então foi feito um contrato, e registrada uma empresa, a Equipe “Z”, compraram um Porsche 908/2 e tinham também dois F-Ford, além de outro Porsche, um 910 que Lian Duarte comprou.

A estréia do 908/2 foi no Torneio União e Disciplina em Interlagos, a revisão total do carro só terminou na véspera e Bueno não pode treinar nem fazer a tomada de tempo, então saiu no último lugar, mas já na Curva 1 estava em primeiro e assim terminou as duas baterias da prova.

Fizeram três provas como Equipe “Z” até que ficou acertado de a Equipe “Z” comprar a equipe de Achcar e ficar dessa forma com o patrocínio da Souza Cruz que queria divulgar o cigarro Hollywood, então a equipe passou a se chamar Hollywood, depois veio também o patrocínio da Shell.



Nessa época seu primeiro casamento já estava desfeito e estava casado, com uma moça do Rio de Janeiro, mas morando em São Paulo, após uns três anos, nova separação e outro casamento, que durou uns 20 anos.

Com o 908/2 vence em 1971 o 500 Quilômetros de Interlagos pela terceira vez, tornando-se o primeiro tri-campeão da prova aos 34 anos de idade.

Bueno diz que o carro era excepcional, mas segundo Anísio Campos o cuidado dele era fora-de-série, por exemplo: ele coava, de duas a três vezes, toda a gasolina que ia ser usada.

“Ele cumpria rigorosamente as orientações da fábrica, não acelerava forte enquanto o óleo e o motor não atingissem a temperatura ideal e recomendada.” Relembra Anísio, chefe de equipe na época.

A primeira experiência na Fórmula 1.

Quando da realização da primeira prova de Formula 1 no Brasil, em 30 de março de 1972, a Hollywood alugou um carro March 711 para participar, já nos treinos de classificação Bueno conseguiu o décimo tempo e na prova foi o sexto colocado.

Quando da realização da primeira prova de Formula 1 no Brasil, em 30 de março de 1972, a Hollywood alugou um carro March 711 para participar, já nos treinos de classificação Bueno conseguiu o décimo tempo e na prova foi o sexto colocado “Ao final do primeiro dia de treinos, o Ronnie Peterson, que havia sido vice-campeão com aquele carro, no ano anterior (Em 1972 ele alinharia com o modelo 721) me chamou num canto e pediu para eu dar umas voltas com ele no circuito... e eu ao volante. Ele pediu para eu pisar fundo e ia me perguntando porque eu freava naquele ponto, fazia aquela curva de forma tal, etc. E eu foi explicando para ele. No dia seguinte, ele foi o único a virar tempos mais rápidos que os do dia anterior... e foi 2 segundos mais rápido”.

Em sua primeira participação já teria marcado um ponto (pelos critérios da época) se não fosse essa uma prova extra-campeonato.



Mostrando serviço na Europa.

De volta as disputas nacionais, voltou ao Porsche 908/2 que, pelas recomendações da fábrica, o motor deveria passar por uma revisão completa e em junho de 1972, aproveitando um intervalo no calendário nacional, carro à Stuttgart para uma revisão na fábrica. O carro ficou pronto antes dos 1000 Km da Áustria, no autódromo de Zeltweg. Inscreveram o carro e Bueno fez dupla com “Tite” Catapani. Surpresa:

a dupla conseguiu o 7º tempo entre 27 carros, ficando atrás apenas de um Mirage M6-Ford, de um Lola T280-Ford e de quatro Ferrari 312PB oficiais, uma delas pilotada pela dupla Helmut Marko/Carlos Pace e à frente dos Porsche 908/3, oficiais de fábrica.

Bueno iniciou a corrida e chegou à primeira curva em 5º lugar, depois caiu para 7º e estava nessa posição quando ao fim da primeira hora de corrida, Helmut Marko se aproximou para dar uma volta sobre o Porsche.

“Dei passagem para ele ficando pelo lado externo de uma curva à esquerda, mas a traseira do carro do Marko deu uma escorregada e acabou esbarrando na minha lateral dianteira esquerda. Foi uma pena”.

Em novembro de 1972, aconteceu a última corrida dos carros importados no Brasil, quando Bueno sagra-se campeão da categoria Esporte-Protótipo com o 908/2, mas a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) decidiu que a partir de 1973 seriam admitidos somente protótipos nacionais, importados só poderiam correr se fossem equipados com motor de fabricação nacional. Sem possibilidade de continuar usando o 908/2, Bueno e Anísio venderam o carro.

Mais uma vez, a F1.

No primeiro GP Oficial de F1 de 1973, novamente a Hollywood alugou um carro para participar, um Surtees TS9B, e nos treinos, após duas voltas, Bueno parou e disse que o carro estava inguiável. Surtees disse que talvez ele não tivesse o “dom” necessário para pilotar um Formula 1. Feita mais duas voltas, novamente Bueno reclamou: “Voltei para os boxes e pedi licença e disse para ele, Campeão do Mundo de F1, que se ele sentasse naquele carro, desse uma volta e dissesse que o carro não tinha problema algum, eu nunca mais sentaria em um carro de corridas novamente”.

Então Surtees pediu a José Carlos Pace, piloto oficial da sua equipe, experimentar o carro. O Moco mal completou a volta retornou ao Box, dizendo a Surtees que o carro estava sem condições de pilotagem.

“Constatou-se então que na montagem apressada os mecânicos tinham invertido um dos triângulos dianteiros e com isso o carro tinha uma medida diferente para cada lado do entre-eixos. De imediato, Surtees me pediu mil desculpas”.

Na corrida, uma pane elétrica cortou o motor na subida da junção e conseguiu chegar aos boxes só no embalo, após trocarem “uma caixa preta”, voltou à corrida, mas sem chance nenhuma de disputar posições, terminou em décimo segundo lugar.



A partir de 1973, Bueno passa a correr com um Opala 4.100cc da Divisão 3, que havia estreado em outubro de 1972 nas 100 Milhas de Interlagos, mas nesse ano só consegue resultados ruins, até que na metade da temporada muda para um Ford/Maverick desenvolvido pelo argentino Oreste Berta, com base nas informações passadas por Bueno a partir de sua experiência com o Opala, um carro muito avançado para sua época.



A Hollywood traz uma novidade para o ano de 1975, um protótipo Divisão 4, feito pelo argentino Oreste Berta, mas equipado com motor Maverick V8 nacional, foi a sensação da temporada, Bueno foi campeão na categoria mas ao final do ano a Souza Cruz anuncia que não vai mais patrocinar a equipe, então os sócios encerram as atividades.

Em 1978 volta às pista, desta vez pilotando um Opala 4.1 numa corrida do Torneio Rio-São Paulo de Divisão 1, em Jacarepaguá (RJ), quase não consegue participar pois o caminhão quebrou na Via Dutra e chegou com muito atraso, impedindo Bueno de treinar.

Depois de 3 anos retorna às competições em 1982, aos 45 anos, para correr de Stock Car, obtém resultados medianos e pára de correr, fica 1983 sem participar de nenhuma corrida e em 1984, convidado pelo amigo Lian Duarte fez, aos 47 anos, sua prova de despedida, a Mil Quilômetros de Brasília a bordo de um Ford Escort, classificaram-se em oitavo lugar.

Começo dos anos 90, após mais uma separação, Bueno se muda para a cidade de Atibaia (SP) e lá se casa novamente.

Atualmente, vivendo em Atibaia (SP), feliz com sua família (esposa e filho), comparece aos eventos a que é convidado e presta serviço de consultoria na área de automobilismo de competição, transmitindo sua imensurável e inestimável experiência aos jovens postulantes ao sucesso nas pistas e a amadores apaixonados que correm em uma equipe de clássicos.


Fonte: NOBRES DO GRID

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