* Por Rafael Lopes
Quem esperava um início de campeonato equilibrado e com surpresas após a radical mudança no regulamento técnico, quebrou a cara. O domínio na temporada apenas trocou de mão: saiu dos touros vermelhos da RBR e foi para as flechas de prata da Mercedes. A diferença é que a equipe alemã liberou seus dois pilotos livres para brigar pelas vitórias. O GP do Bahrein, em Sakhir, foi um grande exemplo disso. Lewis Hamilton e Nico Rosberg disputaram o primeiro lugar ferrenhamente, curva a curva. E o inglês venceu defendendo a posição com maestria, mesmo com pneus piores com o alemão.
O domínio da Mercedes é absurdo: fez três dobradinhas em quatro provas, marcou todas as poles, venceu todas as corridas, liderou todas as voltas e fez as quatro melhores voltas. Domínio este visto poucas vezes na Fórmula 1. Só a Williams de 1992, a McLaren de 1988 e a Ferrari de 2004 conseguiram algo parecido na história recente da categoria. Na frieza dos pontos, a liderança é de Nico Rosberg com 79, quatro à frente do companheiro Lewis Hamilton. Contudo, o alemão só venceu o GP da Austrália, enquanto o inglês venceu as três provas seguintes, na Malásia, no Bahrein e na China. Ele só está atrás no campeonato porque seu motor abriu o bico em Melbourne e não o deixou marcar pontos.
Lewis Hamilton vence GP da China
Por tudo isso, é difícil não apontar Lewis Hamilton como o grande destaque do campeonato até agora. O inglês está voando, naquela que já é considerada a melhor fase de sua carreira. Em matéria de talento puro, talvez ele seja o piloto mais bem dotado da Fórmula 1. Um fato apontado até por seus concorrentes. Mas, então, por que Hamilton demorou tanto tempo para voltar à posição de favorito ao título? Em sua fase na McLaren após 2008, ele teve suas chances, mas as jogou pela janela após erros primários. No ano passado, já na Mercedes, o carro não ofereceu as condições ideais para lutar até o fim do campeonato.
Entretanto, quem acompanha Fórmula 1 sabe que há algo de diferente com Hamilton neste ano. O inglês parece mais focado, mais concentrado em seu trabalho dentro da pista. Há quanto tempo alguma fofoca envolvendo o piloto não aparece na mídia? Nos últimos anos, vimos as idas e vindas com a namorada cantora - e atual noiva - Nicole Scherzinger; o flerte com o show business e a aproximação com rappers americanos, inclusive os levando para as corridas; e até mesmo a chegada de dois cachorros, que Hamilton passou a levar para todas as corridas - e ganharam até credencial da F-1 de Bernie Ecclestone.
A chegada do austríaco Niki Lauda à equipe e o crescimento da importância do ex-piloto na estrutura - é o presidente não-executivo do time - têm participação decisiva nisso. Após a vitória de Hamilton na China, Lauda falou sobre a boa fase do piloto e de alguns conselhos dados ao inglês para esta temporada.
- A única coisa que talvez ele tenha negligenciado no passado foi o foco total na carreira. Ele estava trazendo os cachorros para a pista, tinha uma enorme quantidade de pessoas ao seu redor. Quando os cachorros ainda estavam lá, eu disse a ele para se concentrar apenas nele mesmo, largar a bagagem e se concentrar 120%. Agora ele está tendo o desempenho que se espera dele. Se o carro não tivesse quebrado em Melbourne, provavelmente teria vencido lá também - disse Lauda.
Um dos pilotos mais concentrados e frios de seu tempo, Lauda assumiu o desafio de trazer a atenção de Hamilton de volta às corridas de Fórmula 1. E pelos resultados que estamos vendo neste início de temporada, está dando certo. O inglês está pilotando como nunca e não está mostrando apenas sua habitual habilidade. Ele está pensando mais nas corridas, nas estratégias e sendo mais racional dentro da pista. Como recompensa, Lauda deu um grande presente a Hamilton após o triunfo na China: uma carona para a Europa em seu jatinho particular, um Bombardier Global 5000.
- Disse a ele: "se você vencer, vou te dar uma carona em meu avião para a Europa". Se ele não vencesse, voltaria em um voo comercial com o resto da equipe - contou.
O fato é que a aproximação de Lauda com Hamilton está dando muito certo e o inglês está extremamente concentrado neste ano. Justiça seja feita, aliás: o piloto inglês sempre demonstrou muito respeito com os velhos campeões da Fórmula 1. O carinho com o qual ele sempre tratou o bicampeão Emerson Fittipaldi merece destaque. Trabalhando ao lado de Lauda agora, Hamilton está aproveitando para evoluir. Ele está pilotando mais do que nunca neste ano. Mais até que no ano de seu único título da F-1, em 2008.
Se Hamilton continuar neste ritmo e com esta concentração, dificilmente o bicampeonato escapará de suas mãos no fim da temporada. É claro que Nico Rosberg, seu companheiro, ainda deverá crescer nesta temporada, principalmente por causa de sua regularidade. Mas quando a disputa é equilibrada, com dois carros em condições iguais, como é o caso da Mercedes, o talento sempre faz a diferença. E neste ponto, Hamilton está à frente de Rosberg. É só não perder o foco. E duvido que Lauda deixe isso acontecer.
Um comentário:
Preparar o corpo e a mente já era visto com o Senna. Hamilton buscou inspirações na forma de condicionar do Senna, seu ídolo conforme ele mesmo declarou.
Senna mostrou várias vezes muita precisão no guiar abordo dos seus carros, em pistas molhadas nem se fala. Hamilton certamente caminha para a vitória do campeonato deste ano.
Porém, ele não deve esquecer a sua equipe e companheiro de pista.
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