terça-feira, 8 de abril de 2014

Deixa o menino jogar!*

Por Bruno Vicaria

Historicamente, as grandes rivalidades da Fórmula 1 foram feitas de companheiros de equipe. Senna e Prost, Mansell e Piquet, Jones e Reutemann, Vettel e Webber, Scheckter e Villeneuve, Alonso e Hamilton, Farina e Ascari, só para citar alguns.

Esta rivalidade também caminha junto com as tais ordens. Desde os anos 50 temos registros dela. Fangio, Senna, Schumacher, Alonso, todos se favoreceram delas. Em alguns casos, ela não foi respeitada, vide Vettel contra Webber no famoso "Multi 21" da Malásia no ano passado e Reutemann contra Jones em 1981.

Se nós formos escolher, a livre disputa sempre prevalecerá sobre as ordens de equipe, que só acontecem quando existem campeões mundiais ou pilotos que têm o talento à favor para poder pleitear isso. Como Senna em 1986, que vetou Warwick na Lotus e também exerceu seu direito sobre Berger na McLaren. Ou, o caso mais claro, de Schumacher na Ferrari.

As ordens de equipe têm seu sentido. Mas no fim do ano, quando os pilotos estão com suas posições no campeonato mais ou menos estabelecidas. Neste caso, podemos dizer que tem sua legitimidade. Mas só aí, também. É quando o conceito de equipe entra em jogo.

Mas no começo do ano, ordens de equipe deixam a impressão da incapacidade do piloto de trás, geralmente o "fodón", em querer enfrentar seus companheiros. Seria o risco de perder a disputa e se desmoralizar? Afinal, há esse risco. Por isso alguns se valem deste detalhe no contrato para evitar se expor a isso.

Porém, pelo que vimos em Sepang, o legal é deixar o pau comer. É corrida, pois, se quer ganhar, tem de passar. Depois do episódio lastimável da Williams em Sepang, as equipes decidiram liberar seus pilotos, mas para "disputas cautelosas". Isso era apenas um lembrete para as duplas não se tirarem da prova, e o que vimos foram batalhas maiúsculas que deram ao GP de número 900 da Fórmula 1 um caráter histórico.

Essa corrida no Bahrein também serviu para banalizar de vez o tal "Faster Than You". Até Vettel ouviu a frase. Vettel, o tetracampeão do mundo. E, claro, não houve o estardalhaço da semana passada, pois ele é alemão. Se ele fosse brasileiro, certamente os quatro títulos que ele conquistou nos últimos quatro anos não valeriam mais nada. Vettel seria um piloto ultrapassado, fracassado e vergonha da nação. Sorte de Vettel ser alemão.

Por fim, um recado para Christian Horner, Eric Boullier, Stefano Domenicali e companhia, na linha daquela música do Natiruts: deixa o menino jogar. No caso, os meninos.

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