quarta-feira, 2 de abril de 2014
Sobre o “Faster Than You”*
* Por Bruno Vicária
Incrível. Bastou a frase pingar no rádio de Felipe Massa que um monte de gente começou a comemorar. Só faltou soltar rojão (se tivessem em mãos, o fariam). A tal frase veio em uma conotação completamente diferente daquela emitida no GP da Alemanha de 2010. Naquela época, era uma ordem; nesta, foi um aviso.
Mas para esse povo pouco importa. O que vale é desmoralizar o compatriota. A Williams, conhecida por deixar seus pilotos se pegarem na pista, fez o que tinha de fazer. Alertou que o rival estava mais rápido, pediu para não segurar, mas em nenhum momento mandou abrir passagem.
Na duas últimas voltas, pediu para Bottas, que não conseguiu passar, recolher para evitar superaquecimento do carro. Nem por isso Bottas deixou de acelerar. Assim como Massa não deixou de sustentar sua posição. Afinal, se você depende de uma ajuda interna da equipe na segunda prova para avançar uma posição, algo está errado, não?
Foi claramente um episódio de corrida, mas aqui isso já se transformou imediatamente em bullying. A mensagem para Bottas recolher foi deliberadamente ignorado pelas pessoas nas redes sociais: o importante era não perder a piada.
Foi uma situação passageira, mas que reflete explicitamente como o brasileiro é um ser de auto-estima baixíssima e extremamente infeliz.
Afinal, como todos nós sabemos, ninguém dá um puto por um piloto no caminho para a Fórmula 1, mas quando ele chega lá, é o nosso piloto. Se vai bem, a vitória é do Brasil; se vai mal, o piloto é ruim, a derrota é só dele e o negócio é ficar apontando o dedo para desvalorizar o atleta.
Que se dane que Massa foi vice-campeão de Fórmula 1, assim como Rubens Barrichello. Que se dane as mais de dez vitórias que cada um tem. Eles são ruins, péssimos, pés-de-breque, "não servem para carregar a bandeira do Brasil", "ah, que saudade do Senna".
É incrível também ver colegas jornalistas brincando com tom bem jocoso nas redes sociais. Jornalistas que, na hora do aperto, tratam os pilotos como reis para salvarem suas peles e realizarem suas pautas pobres, além de pleitearem um lugar sem o mínimo pudor nas coletivas realizadas em restaurantes caros. Crítica jornalística é uma coisa, agora tirar sarro publicamente e depois puxar saco é uma disparidade de caráter. Que não se resume só a eles, infelizmente.
É por essas e outras que o automobilismo, o basquete, o atletismo e todos os esportes olímpicos não vão pra frente. "São todos fracassados" na ótica dos brasileiros super éticos, que não sabem nem escolher seus governantes, muito menos respeitam o trabalho alheio. Não estou defendendo Massa, longe disso. Estou apenas fazendo uma constatação sobre a nossa cultura de valorizar apenas a vitória, se apropriar da carreira de um atleta quando ele está apenas no topo, sem ao menos buscar saber o caminho (muitas vezes árduo e sem apoio de ninguém) atravessado por ele em sua carreira.
Brasileiro adora se desmoralizar. E quem não trata seus atletas com respeito tem mesmo é que ficar na fila da amargura. Acho que nem mais 500 anos servirão para mudar essa consciência aproveitadora, oportunista e maldosa de quem vive por aqui.
Incrível. Bastou a frase pingar no rádio de Felipe Massa que um monte de gente começou a comemorar. Só faltou soltar rojão (se tivessem em mãos, o fariam). A tal frase veio em uma conotação completamente diferente daquela emitida no GP da Alemanha de 2010. Naquela época, era uma ordem; nesta, foi um aviso.
Mas para esse povo pouco importa. O que vale é desmoralizar o compatriota. A Williams, conhecida por deixar seus pilotos se pegarem na pista, fez o que tinha de fazer. Alertou que o rival estava mais rápido, pediu para não segurar, mas em nenhum momento mandou abrir passagem.
Na duas últimas voltas, pediu para Bottas, que não conseguiu passar, recolher para evitar superaquecimento do carro. Nem por isso Bottas deixou de acelerar. Assim como Massa não deixou de sustentar sua posição. Afinal, se você depende de uma ajuda interna da equipe na segunda prova para avançar uma posição, algo está errado, não?
Foi claramente um episódio de corrida, mas aqui isso já se transformou imediatamente em bullying. A mensagem para Bottas recolher foi deliberadamente ignorado pelas pessoas nas redes sociais: o importante era não perder a piada.
Foi uma situação passageira, mas que reflete explicitamente como o brasileiro é um ser de auto-estima baixíssima e extremamente infeliz.
Afinal, como todos nós sabemos, ninguém dá um puto por um piloto no caminho para a Fórmula 1, mas quando ele chega lá, é o nosso piloto. Se vai bem, a vitória é do Brasil; se vai mal, o piloto é ruim, a derrota é só dele e o negócio é ficar apontando o dedo para desvalorizar o atleta.
Que se dane que Massa foi vice-campeão de Fórmula 1, assim como Rubens Barrichello. Que se dane as mais de dez vitórias que cada um tem. Eles são ruins, péssimos, pés-de-breque, "não servem para carregar a bandeira do Brasil", "ah, que saudade do Senna".
É incrível também ver colegas jornalistas brincando com tom bem jocoso nas redes sociais. Jornalistas que, na hora do aperto, tratam os pilotos como reis para salvarem suas peles e realizarem suas pautas pobres, além de pleitearem um lugar sem o mínimo pudor nas coletivas realizadas em restaurantes caros. Crítica jornalística é uma coisa, agora tirar sarro publicamente e depois puxar saco é uma disparidade de caráter. Que não se resume só a eles, infelizmente.
É por essas e outras que o automobilismo, o basquete, o atletismo e todos os esportes olímpicos não vão pra frente. "São todos fracassados" na ótica dos brasileiros super éticos, que não sabem nem escolher seus governantes, muito menos respeitam o trabalho alheio. Não estou defendendo Massa, longe disso. Estou apenas fazendo uma constatação sobre a nossa cultura de valorizar apenas a vitória, se apropriar da carreira de um atleta quando ele está apenas no topo, sem ao menos buscar saber o caminho (muitas vezes árduo e sem apoio de ninguém) atravessado por ele em sua carreira.
Brasileiro adora se desmoralizar. E quem não trata seus atletas com respeito tem mesmo é que ficar na fila da amargura. Acho que nem mais 500 anos servirão para mudar essa consciência aproveitadora, oportunista e maldosa de quem vive por aqui.
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