segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O show deve continuar*

* Por Luis Fernando Ramos


A Fórmula 1, especialmente nesta versão 2012, tem um dinamismo tão interessante que sempre produz alguns paradoxos divertidos. Como o que vimos em Spa-Francorchamps. A corrida foi uma das melhores de um ano repleto de boas provas: muitas ultrapassagens, alguns acidentes e manobras polêmicas, material para ser debatido por dias e dias.

Por outro lado, a corrida teve o vencedor mais claro até aqui. Jenson Button se tornou o primeiro piloto a ganhar de ponta a ponta nesta temporada com um trabalho irretocável dele e da equipe McLaren. A superioridade foi tamanha que o inglês falou em brigar pelo título, mesmo tendo passado boa parte do campeonato mergulhado em uma crise de performance que o deixou a 63 pontos do líder do Mundial, o espanhol Fernando Alonso.

- Se nos mantivermos brigando por vitórias como mostramos hoje, há uma pequena chance de lutar por esse campeonato. Mas não vou para a próxima corrida, em Monza, pensando nisso. É melhor se concentrar em fazer um bom trabalho e marcar o maior número de pontos possível.

O infortúnio do próprio Alonso em Spa mostra a importância de se pensar etapa por etapa. O espanhol foi vítima inocente de uma colisão múltipla na primeira curva e viu diminuir após apenas alguns metros a vantagem que pacientemente havia construído na primeira metade do campeonato.

Um prejuízo que ficou ainda maior com a grande atuação de Sebastian Vettel. O atual bicampeão mundial fez uma excelente prova de recuperação: era apenas o 12º colocado após a primeira volta, mas recebeu a bandeira quadriculada na segunda posição, diminuindo para 24 pontos sua distância para o líder. E reproduziu a filosofia do “um passo de cada vez”.

- Acidentes como o de Alonso acontecem, eu preciso me concentrar em mim. Não penso em pontos ou distância para o líder. Ainda restam oito etapas e vimos aqui o quão rapidamente as coisas podem mudar em uma curva.

E foi em uma curva, a mítica Eau Rouge, que aconteceu o lance mais bonito da prova: a corajosa de ultrapassagem de Kimi Raikkonen sobre Michael Schumacher para assumir a terceira colocação. Uma execução precisa para uma manobra plasticamente tão bonita e tão épica quanto o próprio circuito de Spa-Francorchamps.

Feliz por estar vivo. Foi assim que Fernando Alonso se apresentou à imprensa para uma concorrida entrevista coletiva após o GP da Bélgica. Se o acidente múltiplo causado por um erro do francês Romain Grosjean lhe tirou pontos importantes no campeonato, a dinâmica dele foi tão intensa que foi um pequeno milagre todos os envolvidos saírem andando dos carros.

- Nem penso muito no resultado que não veio. Quando vi a imagem de um carro que poderia ter aterrissado na minha cabeça só pensei que poderia ter sido muito pior. Dentro do azar do abandono há também a sorte de saber que dentro de cinco dias estarei de volta ao cockpit em Monza.

A FIA perdeu a paciência e resolveu punir exemplarmente o francês com a suspensão de uma corrida e uma multa de 50 mil Euros. Assim, seu cockpit no GP da Itália, no próximo domingo, deve ser ocupado pelo piloto de testes da Lotus, o belga Jerome d’Ambrosio. Foi o sexto acidente de Grosjean na primeira volta de uma corrida só neste ano. Alonso criticou o francês e o comportamente em pista de jovens pilotos, inclusiva nas categorias de base.

- É uma porcentagem muito alta de acidentes em largada. É um pouco a cultura da GP2 e  da GP3. Vimos neste final de semana batidas fortes nestas duas categorias e os pilotos que estão chegando delas possuem esta tendência de exagerar na agressividade - analisou o espanhol.

Além de Grosjean, o venezuelano Pastor Maldonado também exagerou na dose e sofreu punições: ele vai perder dez posições no grid de largada da corrida de Monza por cometer duas infrações em Spa. Ele queimou a largada e, na quinta volta, causou um acidente com Timo Glock por imprudência.

Motivos para sorrir teve Felipe Massa. O quinto lugar no GP da Bélgica foi seu segundo melhor resultado neste ano e um alento para um final de semana que começou com um desempenho ruim no treino de classificação. Além da boa corrida, o brasileiro tirou pontos de Mark Webber, um dos rivais de Fernando Alonso pelo título, algo que agradou a Ferrari. Massa se mostrou satisfeito:

- Estava aborrecido depois da classificação, foi muito ruim. Mas o carro para corrida estava melhor e este resultado foi muito importante para mim. Espero agora obter resultados melhores ainda daqui em diante.

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