terça-feira, 26 de junho de 2012

O automobilismo brasileiro não tem o direito de pegar carona na vitória de Nelson Angelo Piquet*


Por Americo Teixeira Jr.

Embora possa parecer poético e bonito afirmar que a vitória de Nelson Piquet, no último sábado em Road America, foi “a conquista de um país”, de “uma geração”,  um “abrir de portas” para jovens pilotos brasileiros, na verdade, não foi nada disso. Foi uma vitória dele. Ponto final.

Não passa de licença poética pautar o Brasil como tendo uma “nova geração” para o automobilismo. É como se houvesse um esforço nacional, liderado pelos dirigentes do automobilismo brasileiro e empresas do setor, lutando para assim fazê-lo. Não há e os que estão aí, por méritos próprios, galgam posições exclusivamente com seus esforços e ferramentas.

O que vimos foi mais uma demonstração individual de um jovem que, com talento e suporte condizentes, chegou ao topo e, em seguida, estatelou-se no chão. Se o Gande Prêmio de Singapura está no seu currículo como uma mancha, envolveu-se nessa situação por imaturidade e incapacidade de lidar com um chefe de equipe polêmico e, ao final, banido da Fórmula 1, como foi o caso de Flavio Briatore.

Rico e bem formado, poderia ter “guardado a viola no saco” e ido “chorar suas mágoas” em alguma ilha ensolarada e paradisíaca em qualquer lugar do mundo. Não, preferiu começar de novo, lá de baixo, em categorias de acesso à Nascar. Deixou o glamour de Monaco para se enfiar na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Vive e respira 24 horas por dia o clima de Charlotte e região, o “centro nervoso” da Nascar, onde estão instaladas muitas de suas equipes (Charlotte é para a Nascar o que Indianapolis é para a IndyCar).

Ir ao pódio é uma delícia. Dar zerinhos depois da bandeirada, então, é demais. Mas nada disso acontece sem trabalho, trabalho e trabalho. É claro que não adianta “ralar o dito cujo na ostra” sem suporte de qualquer espécie. Como também não adianta o cara ter todas as condições, mas ser grosso e preguiçoso. Há de ter uma combinação equilibrada e perfeita de todos esses fatores.

Foi isso que fez Nelson Piquet. Soube tirar o máximo proveito do suporte  que teve ao seu dispor, mostrou disposição para acordar cedo e “sair pro pau”, além de sentar em qualquer carro com o mesmo tesão, como se estivesse disputando uma vitória na Fórmula 1. E, tudo isso, muito na dele. Se o pai é adoravelmente sem “papas na língua”, Nelson Angelo é super discreto.

Então, por tudo isso, a vitória de sábado não foi do automobilismo brasileiro, da geração ou um ato de “abrir portas”. Foi, sim, uma vitória de Nelson Angelo Piquet, um rapaz sobre cuja cabeça o “mundo caiu”, mas que soube fazer uma releitura de sua vida e seus valores. Alguém, ao que parece, está encontrando o “graal” de uma vida, o que realmente importa, que é ser feliz.


3 comentários:

Sandra disse...

Belo txto Americo. Concordo com vc. Foi acima de tudo uma vitório no Nelsinho, que ele generosamente dividiu com o país que ñ o apoiou como ñ apóia a maioria de seus esportistas. :(

Marcos - Blog da GGOO disse...

Concordo em gênero, número e grau!
Aqui é assim mesmo, na hora de dar apoio, incentivar, divulgar, puramente por patriotismo, ninguém se mexe.
Depois que o cara tá lá em cima, nos holofotes, depois de conseguir pelo seus méritos próprios, depois de se f*der de "verde e amarelo", de engolir muito sapo, aíaparecem os papagaios de pirata com discursinhos patrióticos.
Até os próprios fãs de corridas (inclusive aqueles que são só de F-1 mas falam que são de corridas), pixaram e pixaram o Nelsinho depois de Singapura.
Eu sempre apoiei, podem pesquisar meus comentários aí pra trás, inclusive minha opinião de pq não culpa-lo pelo que aconteceu.
Por isso, me sinto no direito de vir aqui e prestar minha homenagem pela sua vitória.
E aos demais, Nelsinho, faça como fizeram com vc: dedo médio em riste, mande se f*der, vire as costas, e continue seu rumo, seja feliz aí com quem te deu oportunidade e merece seu retorno.
O resto....é resto.

Alvaro Wanderley disse...

Perfeito!

Américo Reixeira Junior foi extremamente feliz e lúcido em seu texto. Parabéns para ele!