* Por Lito Cavalcanti
Este é, sem dúvida, o mais imprevisível campeonato da história da Fórmula 1. E, por isso mesmo, o mais sensacional. Sete vencedores em sete Grandes Prêmios já é um resultado que fala por si – mas o que parece mais importante é como estas sete vitórias foram conquistadas. Sim, depois de mais de um terço decorrido, o Mundial já começa a mostrar uma tendência. É inegável que os maiores candidatos ao título são os mesmos suspeitos de sempre: Fernando Alonso, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. É a força da grana que se impõe, sempre se impõe.
Mas ela não impede que nomes menos votados e equipes menores aproveitem as ocasiões que se lhes oferecem para tirar sua casquinha. É o caso da Sauber e de Sérgio Perez, é o caso da Lotus e de Romain Grosjean. Sim, não se pode esperar que elas estarão sempre lá por perto das dominadoras – mas já confirmaram que, surgindo a chance, cuidado, elas estão prontas para ocupar lugares no pódio. Ambas já estiveram lá em cima em duas corridas, o que elimina a possibilidade de ter sido apenas por uma fatalidade, um golpe de sorte. Em comum, a suavidade de seus carros no trato dos pneus, sempre bem aproveitada por Perez e, desta vez, também por Grosjean.
Hoje, as duas equipes e os dois pilotos podem se vangloriar de terem batido todos os principais nomes da Fórmula 1 e deste campeonato, à exceção de Lewis Hamilton. Bateram a Ferrari e seus dois pilotos, bateram a Red Bull e seus dois pilotos, bateram a Mercedes e seus dois pilotos, mas bateram só um McLaren, o de Jenson Button. Sim, uma pergunta recorrente e ainda sem resposta povoa mentes e almas da equipe inglesa: por que enquanto Hamilton faz uma exibição tão próxima da perfeição quanto é possível se chegar, Button despenca ladeira abaixo, sem um único lampejo do piloto que é?
Ironia ter sido a sua pior corrida do ano exatamente a deste Grande Prêmio do Canadá. Foi lá que, no ano passado, Button teve a melhor atuação de toda sua carreira, tirando de Vettel a vitória a duas ou três curvas da bandeirada consagradora. Atenua seu fracasso o vazamento de óleo do câmbio que limitou a 26 seu total de voltas na sexta-feira, mas isso não basta para explicar o que foi sua corrida. Largou em 10º e, desde o apagar das luzes vermelhas, só andou para trás. Cruzou a bandeirada em 16º, uma volta atrás de seu companheiro Hamilton. Já não é de hoje que ele reclama do acerto de seu carro nas provas de classificação, e a McLaren não consegue resolver o problema.
Mas a mesmíssima McLaren deu a Hamilton um carro capaz de largar na primeira fila, acompanhar Vettel de perto, recuperar a liderança quando bem entendeu e liderar 37 das 70 voltas. Ou seja, um desempenho exemplar. E a mesma equipe que não consegue atinar com a solução dos problemas de Button é serena o suficiente para se manter fiel às conclusões de seus testes de duração dos pneus e ser a única das cinco primeiras a trocar o segundo jogo de pneus dentro de uma tática pré-estabelecida. OK, a Red Bull também fez duas trocas, mas só optou pela segunda na 63ª volta, quando Vettel já tinha perdido mais de meio segundo na 61ª e mais de 1s1 na 62ª. Considerando que sua desvantagem para Perez na bandeirada foi de 2s035, esta decisão tardia lhe custou com certeza o terceiro lugar. Talvez até o segundo, já que Grosjean chegou apenas 4s782 à frente do alemãozinho.
De fato, é difícil reconhecer na McLaren de Button a mesma McLaren de Hamilton. A explicação oficial, e que até faz bastante sentido, é a diferença de estilo dos dois pilotos. Enquanto Hamilton exige mais do carro, é agressivo com o volante e os pedais, Button é extremante suave. E por isso não consegue elevar a temperatura dos pneus tão eficazmente. E sem chegar à temperatura correta, seus pneus se degradam sem oferecer a aderência que deveriam. O que a McLaren não explica é por que, depois de tantas corridas ouvindo a mesma queixa, não conseguiu evoluir – pelo contrário, a situação só vem se agravando. Principalmente diante de uma atuação tão convincente de Hamilton. E esta sua primeira vitória o coloca na posição de força com que ele sonhava desde os três pódios seguidos do começo do ano.
Já a Ferrari tem ao menos o consolo de não ter sido a única que escolheu a tática errada, a de uma única troca de pneus. Ela se baseou na duração que obteve na sexta-feira dos compostos disponíveis, que neste fim de semana eram o macio e o supermacio. Só que a temperatura ambiente e a do asfalto subiriam intensamente no sábado e no domingo – e isso foi anunciado com todas as letras desde o começo da semana. O preço do erro foi alto: Alonso, que liderava na volta 63, chegou em um discretíssimo, se não humilhante, quinto lugar.
Felipe Massa, que depois da rodada que o jogou de quinto para 12º no começo da sexta volta, ainda tentou a segunda troca na volta 57. Era um teste para ver se valia a pena chamar Alonso. Felipe era o sexto quando entrou, voltou em 10º com pneus supermacios, chegou a fazer a melhor volta da corrida até aquele momento, mas ficou na mesma posição até a bandeirada. Como seus tempos de volta tinham sido equivalentes aos de Alonso, ficou claro que já era tarde demais para se submeter o líder da Scuderia ao mesmo tratamento tardio que impediu Massa de aproveitar melhor os pneus novos. O que a Ferrari não esperava era a queda gritante de seus tempos a partir da volta 66, quando Vettel girava, em média, quatro segundos mais rápido.
Após a corrida, Alonso, mostrando lealdade à Casa de Maranello, afirmava em alto e bom tom que a parada única era sim a tática correta. E apontava como prova o sucesso da Lotus de Grosjean e da Sauber de Perez. Elogiável a tentativa, mas inútil. Antes de tudo, o que pode ser considerado sucesso para Lotus e Sauber pode não ser necessariamente sucesso para a Ferrari; segundo, o acerto na escolha da tática deve considerar o desgaste que cada carro impõe a seus pneus. E se Lotus e Sauber já se mostraram extremamente econômicas neste sentido, não se tem nenhuma prova da Ferrari neste sentido.
Isso, porém, não diminui a atuação de nenhum dos pilotos envolvidos, mas não se pode dizer o mesmo das principais equipes. É o caso de Nico Rosberg, que perdeu o importantíssimo terceiro treino livre, que precede por apenas duas horas a classificação, e mesmo assim conseguiu largar em quinto. Mas logo após algumas poucas voltas, ouviu de seu engenheiro a recomendação de economizar pneus e combustível. Isso mesmo adotando o plano de duas trocas. Ou seja, caem por terra as esperanças, alardeadas pelo próprio Nico, de que enfim seus engenheiros tinham dado fim à voracidade com que seu carro devora os pneus.
Sim, chegamos ao sétimo vencedor, mas será possível chegar ao oitavo? E se for, seria já em Valência, onde a Fórmula 1 vai correr no dia 24? Na verdade, me parece bem difícil. Para muitos, a Lotus promete ser a próxima, mas honestamente ainda não vejo maturidade suficiente para tanto. Seus melhores resultados dependem do calor, quando cai a temperatura, eles caem junto. Não tenho idéia de como estará o clima quando os carros começarem a andar na pista traçada na marina de Valência, mas não dá para acreditar em calor semelhante ao do Canadá. E a coisa me parece ainda mais distante no caso da Sauber, que frequenta com bem menos assiduidade os 10 primeiros lugares dos grids.
A maior possibilidade de um oitavo vencedor recai então sobre Michael Schumacher e Felipe Massa – na verdade, hipóteses altamente improváveis. Nenhum dos dois vem mostrando desempenho nem sorte para isso. Em relação a Schumacher, quase tudo que acontece de errado em sua equipe acontece em seu carro. Com Felipe, esta fase já parece superada. Seus tempos têm sido sempre mais lentos que os de Alonso, mas isso está dentro da normalidade. O que traz de volta a intranquilidade é seu erro no Canadá. Vinha sozinho em quinto e parecia ter pela frente uma ótima corrida até passar com a roda traseira esquerda sobre a zebra da primeira curva e rodar. Depois voltou a andar bem, mas aí Inês já era morta. Schummy ainda goza de mais igualdade na disputa com Rosberg para ver quem larga em melhor posição, mas nas corridas as coisas quase nunca dão certo, e nem sempre é ele o culpado.
Uma outra equipe que oferece um carro com potencial para sonhar (apenas sonhar) com o primeiro lugar é a Williams – mas como Pastor Maldonado venceu em Barcelona, o encargo recairia sobre Bruno Senna, uma aposta ainda mais improvável do que as citadas acima. Bruno tem mostrado um nível de precipitação altamente prejudicial à sua temporada. Sua batida na sexta-feira, a primeira no Muro dos Campeões, veio em um dia em que a equipe lhe pedira para dar o maior número de voltas que lhe fosse possível. Circuitos como o da Ilha de Notre Dame exigem aprendizado, mas ele bateu.
Seu companheiro Maldonado também bateu, mas em circunstâncias totalmente diferentes. A dele foi na última volta da segunda sessão dos treinos de classificação, quando tentava o impossível para chegar ao Q3 e garantir uma vaga entre os 10 primeiros do grid. Aos poucos, Bruno perde a imagem de piloto promissor que granjeou nas corridas que fez no ano passado com o carro que hoje está nas mãos de Grosjean. Que também bateu em três corridas, mas compensou com duas visitas ao pódio.
Seja como for, com ou sem um novo vencedor, que venha o Grande Prêmio da Europa. Afinal, este tem sido o melhor campeonato dos últimos tempos. E promete continuar a sê-lo.
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