* Por Julianne Cerasoli
Colocar dois galos como Fernando Alonso e Kimi Raikkonen no mesmo galinheiro é, ao mesmo tempo, garantia de pilotagem de alto nível e de disputas internas. Afinal, os dois são maduros – porém ainda muito perto do auge – o suficiente para saber como fazer uma equipe trabalhar para si e têm a confiança que acompanha qualquer campeão do mundo. E, ainda que seja cedo para arriscar uma avaliação de como essa relação vai se desenvolver, os primeiros sinais mostram uma dinâmica interessante.
Lembremos que Raikkonen teve o contrato rescindido pela Ferrari ao final de 2009 em meio a uma chuva de críticas relacionadas a sua falta de interesse – ao mesmo tempo em que o próprio Alonso chegava junto do patrocínio de um banco espanhol com forte participação no Brasil de seu então companheiro, Felipe Massa.
Cinco anos depois, Kimi volta com pressão semelhante. Mesmo sendo o único campeão pela Ferrari na era pós-Schumacher, o finlandês nunca chegou a ser unanimidade em Maranello, em parte porque seu estilo não combina com as juras de amor às quais o time está acostumado.
“Quando o trocamos pelo Alonso, ele não estava feliz. Agora o vejo com um grande desejo de fazer bem feito”. Foi com frases como esta, de Stefano Domenicali, que o piloto foi recebido. Mas a pressão ferrarista por um Raikkonen altamente comprometido com o time seria algo que tem a ver apenas com o jeitão do finlandês?
Quando perguntado sobre em que aspecto Massa faria mais falta à Ferrari, Alonso disse: “Certamente, Felipe é um trabalhador puro. Ele trabalha dia e noite pela equipe para melhorar a performance do carro. Não conheço Kimi, mas os rumores dizem que fala pouco e que fica um pouco mais isolado. Portanto, a Ferrari pode sentir falta disso.” O recado é claro.
Uma das queixas do espanhol na turbulenta época da McLaren era que ele se sentia sozinho no desenvolvimento e acerto do carro, enquanto o então novato Lewis Hamilton se aproveitava. Se era chororô ou não, o fato é que Alonso não demonstra ter confiança de dividir as tarefas com Raikkonen. E a desconfiança nesse sentido seria péssima para o clima interno.
Além disso, é sabido que o espanhol não consegue usar o simulador da equipe em Maranello – utilizando apenas outro modelo, que tem em casa – por sentir náuseas, e o trabalho acabava sendo conduzido por Massa e por Pedro de la Rosa, piloto de testes contratado justamente para preencher esta lacuna. Não é difícil juntar as peças e prever que é no desenvolvimento do carro que pode nascer a discórdia na Ferrari.
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