* Publicada no site Totalrace
Chefe da única equipe 100% brasileira na F-1, a Copersucar, reflete sobre os motivos da experiência não ter se repetido
Enquanto outros países com tradição bem menor na F1, como Suíça e, especialmente a Índia, ostentam atualmente uma equipe no grid da categoria, o Brasil, país oito vezes campeão mundial de pilotos e com mais de 100 vitórias na história, parece longe de voltar a ter uma equipe própria. Desde que a Copersucar-Fittipaldi fechou as portas há mais de 30 anos, o país nunca mais abrigou uma equipe inteiramente sua na principal categoria do automobilismo.
A desculpa da falta de dinheiro não explica muita coisa, já que o país tem uma economia forte nos dias atuais. Tampouco o desinteresse na categoria, pois o Brasil é um dos raros países que contam com um GP no calendário desde os anos 70, de forma ininterrupta. Para Wilsinho Fittipaldi, o homem por trás do projeto da Copersucar, o principal entrave seria a falta de apoio.
“Para ter uma equipe competitiva hoje em dia é preciso conseguir pelo menos 200 milhões de dólares em patrocínio. É muito difícil a pessoa conseguir isso, a não ser que tenha o apoio de uma montadora, o que no Brasil complica muito. Os custos aumentaram demais desde aquela época e para topar uma parada dessas tem que ter muita vontade”, explicou Wilsinho.
“E tem o problema que no Brasil normalmente falta apoio. Hoje em dia talvez esteja até um pouco melhor, mas naquela época era muito complicado. Uma equipe conquistar um sétimo, oitavo lugar era considerado lixo”, lembra. Em 104 GPs, a Copersucar-Fittipaldi conquistou 44 pontos, em uma época em que só os seis primeiros pontuavam e somou 3 pódios. Para efeito de comparação, a Force India, consolidada equipe do grid atual, tem apenas 1 pódio em 93 corridas. E é um time respeitado, cujos cockpits são disputados por vários pilotos. Já a escuderia dos irmãos Fittipaldi, mesmo com um desempenho até um pouco melhor foi ridicularizada no Brasil na época, na opinião de Wilsinho.
“Chegou ao ponto de, uma vez, com a gente terminando em 3º e 5º em um GP na Argentina, ter de ouvir um radialista chamar a equipe de ‘Geni’, aquela que todos jogam pedra. Isso prejudicava muito. Hoje, tem vários jornalistas especializados, mas naquela época eram dois ou três. O resto cobria sem saber muito do que estava falando. Não tinham ideia do que é estar na F1, das dificuldades e do trabalho a longo prazo. Queriam resultados imediatos e F1 não é assim”, comentou Wilsinho. “O problema maior é que o público brasileiro só quer saber de ver um piloto do país chegando na frente, então é complicado haver investimento em uma equipe que vai demorar anos para ficar forte”, continuou.
É por esses motivos que o filho de Wilsinho, Christian Fittipaldi nem sonha em seguir os passos do pai e abrir um time próprio. “Nenhuma chance. F-1 hoje em dia requer uma estrutura enorme, muita gente por trás e muito investimento. Não é como na época do meu pai, quando ainda havia espaço para os garagistas”, observou.
Se não conseguiu exatamente cair no gosto do público brasileiro, a Copersucar-Fittipaldi pelo menos se orgulha de ter lançado dois campeões do mundo. O piloto finlandês Keke Rosberg e o genial projetista Adrian Newey, grande nome da Red Bull atual. Pena que Newey apareceu escuderia brasileira muito jovem, lamenta Wilsinho. “Ele era bom, mas ainda estava aprendendo. Se fosse este Newey de agora, certamente a gente estaria no grid até hoje”, suspira o brasileiro.
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