terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Mercedes, o barulho e 2014*

* Por Rafael Lopes



Muito se falou nos últimos anos sobre os novos motores da Fórmula 1, que entrarão em ação na temporada de 2014. No próximo ano, os motores turbocomprimidos, banidos da categoria desde o fim de 1988, estarão de volta em unidades com seis cilindros em V (V6) de 1,6 litro, com o limitador de giros em 15.000 rpm, no lugar dos V8 aspirados de 2,4 litros e limitados a 18.000 rpm. Por causa disso, muito se falou – principalmente Bernie Ecclestone, chefe comercial – sobre a mudança no som dos carros, que poderia afastar os fãs. Pois nesta semana, a Mercedes-Benz fez a apresentação de seu propulsor à imprensa europeia em sua fábrica em Brixworth, na Inglaterra, e mostrou pela primeira vez o novo barulho da maior categoria do automobilismo.

Bem, confesso que o som dos novos motores turbo nunca foi uma preocupação para mim. Quem acompanhou – ou viu em vídeos – corridas da década de 1980 sabe que este tipo de propulsor produz um som muito agradável aos fãs. Só para efeito de comparação: os turbos de 1988 também eram V6, só que a capacidade cúbica era menor: 1,5 litro. Só que, como a decisão da mudança dos motores para 2014 foi uma decisão tomada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Ecclestone tentou desqualificar a novidade. E usou a mudança de barulho, algo bastante impactante perante aos torcedores, como carro-chefe.



Lendo os relatos de alguns dos jornalistas presentes ao evento da Mercedes, minha expectativa foi confirmada. Não há nada com o que se preocupar em relação ao som dos motores para 2014. A montadora alemã simulou no dinamômetro uma volta no circuito de Monza, onde se alcançam as maiores velocidades da Fórmula 1 atual. Segundo eles, o barulho dos novos V6 é apenas um pouco mais suave do que o dos V8 atuais. Os fãs, portanto, não terão o que reclamar em relação ao som. Só que as mudanças não param apenas nos ouvidos dos torcedores. A F-1 vai mudar em alguns aspectos muito importantes. A aerodinâmica, principal área de desenvolvimento em um carro desde meados da década de 1990, deve perder terreno no próximo ano.

Já o motor, ao contrário, ganhará mais importância. Os novos V6 turbo produzirão os mesmos 750 cavalos dos atuais V8 aspirados, mas terão mais torque nas saídas de curva. Além disso, boa parte dessa potência virá dos novo Sistema de Recuperação de Energia (ERS). Enquanto o Kers atual produz 80 cavalos durante 6,7 segundos por volta, o novo ERS terá 161 cavalos em 33,3 segundos por volta. O limite de motores será alterado também: cada piloto terá apenas cinco unidades por temporada. E essa unidade incluirá também o ERS. Ou seja: a vida útil dos propulsores na Fórmula 1 passará de 2 mil quilômetros para 4 mil. Uma quilometragem muito parecida com a de provas de endurance como as famosas 24 Horas de Le Mans.

Quanto à aerodinâmica, algumas mudanças serão bem visíveis para o torcedor. Na frente, a altura dos bicos cairá por motivos de segurança (devido ao risco em colisões frontais). A medida máxima cairá de 550 milímetros em relação ao assoalho para 185 mm. A largura das asas dianteiras perderá 150 mm, o que fará com que elas terminem antes dos pneus. O escapamento também será alterado: será apenas uma saída, saindo do centro da tampa do motor até a asa traseira. Ou seja: a tarefa de soprar o difusor com os gases saídos do propulsor se tornará um grande desafio para os projetistas. Ou seja: as medidas buscam tornar a Fórmula 1 novamente um laboratório para os carros de rua, que pouco dependem do desenvolvimento aerodinâmico.

Para encerrar, outro aspecto importante: a necessidade de se tornar a Fórmula 1 mais ecologicamente correta. Os motores e os carros terão de ser mais eficientes em matéria de consumo de combustível. O reabastecimento continua proibido durante as corridas, mas os pilotos poderão largar apenas com 100 quilos de gasolina no tanque, uma redução drástica se compararmos com os atuais 150 kg. Os engenheiros precisarão ganhar 30% em eficiência para o início da temporada, já que a potência permanecerá a mesma. A homologação dos novos motores será feita apenas em 1º de março de 2014. Ou seja, as equipes e suas fornecedoras terão muito tempo para desenvolver suas novidades. A Mercedes-Benz, por sua vez, já parece bem adiantada neste processo. E para o público, a nova F-1 em 2014 parece bastante atrativa. Vamos ver como isso se confirmará na pista.

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