quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MISSÃO DE KIMI EM 2012 É MAIS DIFÍCIL QUE A DE 2007*

* Bruno Ferreira


Kimi Raikkonen, comendo pelas beiradas na temporada de 2012, é um dos quatro pilotos que ainda têm chances matemáticas de se juntar a Sebastian Vettel e Fernando Alonso na luta pelo título. Em seu primeiro ano de retorno à categoria, ele ocupa a terceira posição na tabela de pontos, deixando para trás os pilotos da poderosa McLaren, Jenson Button e Lewis Hamilton. Nada mau, não?

Mas Raikkonen, como todo campeão mundial que se preze, quer ir além. Mesmo que sua missão seja complicada e ele próprio saiba disso (terá de descontar 48 pontos para Vettel e 42 para Alonso em quatro corridas), o piloto deixa em aberto a possibilidade de conquistar o bi. Para isso, cita como exemplo o seu único título, em 2007, conquistado na bacia das almas do campeonato, em Interlagos.

Justamente por ter levantado o troféu mais improvável da história da F1, a relutância de Raikkonen em jogar a toalha se justifica. Em 2007, Lewis Hamilton, em sua temporada de estreia, colocara uma mão na taça após o encharcado GP do Japão, no circuito de Fuji. Com uma performance impecável sob um dilúvio bíblico, o jovem inglês venceu a prova e viu a maior ameaça ao seu título, Fernando Alonso, se espatifar no muro enquanto tentava acompanhar o seu ritmo.

O desempenho dominante e livre de erros encheu Hamilton de confiança de tal forma que o inglês lançou sua biografia, aos 22 anos de idade, já se proclamando campeão mundial. Pouca gente duvidava que isso iria acontecer – a dúvida era se a conquista seria sacramentada na China ou no encerramento do campeonato, no Brasil.

Enquanto isso, Alonso era um guerreiro cansado. A tentativa de centralizar as atenções na McLaren (algo que fez na Renault e voltaria a fazer na Ferrari) não funcionou como o próprio espanhol esperava, e o resultado disso foi uma temporada cheia de desgaste e conflitos com Ron Dennis e sua trupe.

Para Raikkonen, a situação ainda era mais delicada. Mesmo que pudesse tirar proveito de um possível entrevero envolvendo os rivais, suas possibilidades matemáticas estavam por um fio. Caso Hamilton marcasse quatro pontos (equivalente a um quinto lugar) nas duas provas finais do campeonato, eliminaria o finlandês da disputa.

O que aconteceu, todo mundo sabe. Hamilton cometeu erros incríveis na China e no Brasil e Raikkonen emendou vitórias nas duas provas para levantar o surpreendente troféu. Quando se ganha um título assim, a lição que fica é que não se pode desistir até que tudo esteja devidamente acabado. No entanto, as chances matemáticas remotas na reta final do campeonato são a única semelhança entre as temporadas de 2007 e 2012.

Há cinco anos, a relação de força entre as equipes do grid tinha uma cara completamente diferente da atual. Na ocasião, a disputa estava centralizada em Ferrari e McLaren, as únicas vencedoras de GP na temporada, o que potencializava a força de reação de qualquer um dos pilotos destes times.

Foi isso que aconteceu com Raikkonen. Depois de uma primeira metade de campeonato com vários altos e baixos, o piloto se acostumou de vez com os pneus da Bridgestone para iniciar, no GP da França, uma violenta arrancada na tabela de pontuação. Dali para frante, virou presença constante na luta por vitórias, algo que foi seu trunfo nas provas decisivas.

Quando a situação parecia acabada, como nos momentos após a corrida em Fuji, havia razão para ter esperança, por mais absurda que pudesse parecer. Afinal, qualquer vacilo da McLaren, lá estaria Raikkonen e sua Ferrari para tirar proveito.

Em 2012, o finlandês está situação matemática parecida  a 2007, mas sua trajetória é sensivelmente diferente. Enquanto muitas equipes tiveram resultados oscilantes, como Ferrari, Red Bull e McLaren, a Lotus, que ainda não venceu, se baseia na consistência para estar em uma posição favorável na tabela de pontuação. Não à toa, Raikkonen é o piloto que pontuou em mais provas, tendo ficado no zero somente na China, quando teve uma queda brusca de performance devido ao alto desgaste de seus pneus nas voltas finais.

O modelo E20 da Lotus não tem demonstrado poder de reação para permitir que Raikkonen desafie Vettel e Alonso na luta pelo título. A última cartada do time para entrar de vez na disputa por vitórias encheu os membros de esperança, mas resultou em frustração no GP da Coreia. E, caso um dos líderes enfrente problemas nesta reta final de temporada, Raikkonen teria de lutar com as McLaren, Mark Webber ou Felipe Massa para conseguir tirar proveito. Isso dificulta, e muito, sua missão de descontar quase 50 pontos em um período tão curto de tempo.

Mas Raikkonen, à sua maneira contida, não cansa de mostrar otimismo e se nega a entregar os pontos. Depois de ter dado a volta por cima em 2007, fica difícil dizer que ele não tem sua razão.

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