segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Retornos diferentes*

* Por Luis Fernando Ramos




Já falamos da motivação de Michael Schumacher em competir na Fórmula 1 e este é um ponto fundamental para entendermos porque há uma diferença clara entre a sua pausa de três anos longe da categoria e as duas temporadas de ausência dela de Kimi Raikkonen, outro campeão do mundo.

Muita gente vê na ótima temporada do finlandês - que chega em setembro numa colocação que o permite sonhar com a disputa do título, algo surpreendente - um argumento irrefutável para diminuir a qualidade do alemão. Schumacher “nunca foi tudo isso” na opinião de alguns ou estaria “velho demais” para outros.

Não concordo, assim como não creio em outras das explicações que existem para as dificuldades deste retorno de Michael Schumacher: pneus diferentes, ausência de treinos (na época da Ferrari ele testava fartamente com disciplina espartana), rivais mais fortes que os que enfrentou no auge de seu sucesso. Bobagem, bobagem, bobagem.

A diferença entre o desempenho dele e de Raikkonen neste retorno está justamente no que fizeram na pausa. No Mundial de Rali, o finlandês passou dois anos se medindo contra os melhores pilotos do mundo na modalidade. Freqüentemente passou do limite, sofreu inúmeros acidentes, mas estava o tempo todo se comparando com o mais alto padrão existente.

Já Michael Schumacher correu no Campeonato Alemão de Motociclismo, claramente por puro prazer. No final de 2008 eu entrevistei o vencedor do título daquele ano, o austríaco Martin Bauer, que havia sido companheiro dele na competição. Os elogios à velocidade natural de Schumacher não esconderam o fato dele jamais ter entrado na pista com a obsessiva ambição de ser o melhor ali. Schumacher nunca viu a atividade como um degrau inicial para uma possível carreira na MotoGP. Era apenas uma maneira de viver a adrenalina da velocidade em uma disputa com pilotos e maquinário de qualidade média em relação ao máximo possível em duas rodas.

Ou seja: Michael Schumacher ficou três anos sem ter aquela rotina de enfrentar a cada quinze dias os melhores caras do mundo. Kimi Raikkonen viveu esta rotina. Parece algo subjetivo, mas faz toda a diferença. Quando se chega lá no topo, a quantidade de gente que faz malabarismos na tênue linha do limite máximo é grande. E estar apenas perto do limite, na F-1, é estar longe do sucesso esportivo.

Neste ano, depois de dois se readaptando à dureza da competição de alta performance, Schumacher faz finalmente uma temporada decente, tanto em relação ao companheiro de equipe como para o carro que tem. É claro que a diferença matemática na tabela (77 a 29) é enorme, mas ela é fruto de uma inacreditável série de infortúnios mecânicos - e de uma barbeiragem em Barcelona que lhe custou a pole em Mônaco. No global, ele está andando no mesmo nível de Nico Rosberg. O que não é pouco para quem, há pouco tempo, andava apenas no pelotão intermediário do campeonato alemão de motociclismo.

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