quinta-feira, 29 de março de 2012
Começo de temporada difícil desestabilizou Vettel*
* Por Lívio Oricchio
Na Austrália não foi o caso, mas em Sepang, depois do treino de classificação, li na forma de Sebastian Vettel reagir conosco, na entrevista coletiva, um piloto em claro desconforto. O que, convenhamos, é natural, em especial para um menino de 24 anos que, na temporada passada, era a referência para todos na Fórmula 1.
Por mais que soubesse que a proibição do escapamento aerodinâmico faria a Red Bull perder desempenho, com certeza Vettel não se imaginava fora da luta pelas vitórias e pole positions, como foi até agora, depois de duas etapas disputadas, Austrália e Malásia. Se depois da classificação senti Vettel incomodado, depois da corrida dá para afirmar: irritado e, diante da reação com o incidente envolvendo Narain Kathikeyan, um tanto desestabilizado.
Expor o dedo médio ao indiano, imagem que percorreu o mundo, pode até lhe valer uma punição. Há no documento de cessão da superlicença da FIA um texto em que especifica comportamentos passíveis de punição. Dentre eles está esse, o de fazer gestos obscenos a outro concorrente ou mesmo aos comissários e à torcida. A pena vai da simples advertência a eventual suspensão de uma ou mais etapas do calendário. Apostaria que apenas chamarão a atenção de Vettel. Não faria sentido punição maior, até porque o alemão não é frequês das convocações dos comissários.
Fiquei impressionado, na sala de imprensa, domingo, em Sepang, ao receber o comunicado da FIA informando que o indiano da HRT foi punido com a perda de dez colocações no grid no GP da China, próximo do calendário, dia 15. Dispomos na sala de imprensa das imagens da corrida, repetidas vezes. E vi pelo menos umas três ocasiões a cena em que Vettel e Karthikeyan se tocam.
Tenho uma opinião: o indiano não tem culpa alguma no ocorrido. Vettel o ultrapassou por dentro, na curva, e deslocou a Red Bull para o ponto de saída normal, sem levar em conta que aquela era a trajetória de Karthikeyan. Não foi o piloto da HRT que tocou na Red Bull, mas o carro de Vettel que se deslocou onde vinha passando Karthikeyan. E essa é a visão de vários pilotos que viram a cena ainda no domingo no autódromo, como por exemplo a dupla da Force India, Nico Hulkenberg e Paul Di Resta, e o agora comentarista David Couthard.
Esse estado de instalibilidade do jovem talentoso piloto alemão, não por acaso bicampeão do mundo, gerou o descumprimento de uma ordem da equipe que deve ter, com certeza, lhe custado uma conversa séria com Christian Horner, diretor do seu time. A telemetria acusou temperatura muito elevada nos freios, a ponto de seu engenheiro, Guillaume Rocquelin, definir a situação como “emergência”.
O rádio de Vettel deixou de funcionar no início da prova. Por esse motivo os mecânicos lhe expuseram a placa para entrar nos boxes, abandonar a corrida. E muito provavelmente Vettel a viu. Mas não a cumpriu. Li na internet que ao ser perguntado pelos jornalistas a esse respeito, Horner respondeu que conversaria com seu piloto.
Não deve ser fácil para Vettel sentir-se o centro das atenções, por méritos da Red Bull, que concebeu em 2011 um projeto excepcional, e seus, ao conduzi-lo com maestria tamanha que seus números o colocam ao lado dos grandes da história, e de repente compreender que é, agora, um ator coadjuvante do espetáculo. Ao menos até Adrian Newey introduzir avanços no modelo RB8 que o permita ser tão rápido quando o MP4/27 da McLaren, o mais eficiente neste início de campeonato.
Sobre Newey, vale a pena recordar a frase que me disse, no fim do ano passado: “Da forma como o regulamento foi definido, não há uma única área onde um projetista, usando a critividade, possa desenvolver uma solução que permita a seu carro ser bem mais eficiente que o da concorrência. Nivelaram a Fórmula 1 por baixo. Proibiram a criatividade.”
Foi a primeira vez que vi o engenheiro inglês, a quem conheço desde os testes de pneus realizado em Jacarepaguá, no começo de 1989, portanto há 23 anos, quando era o responsável pelos monopostos da March, assim por dizer revoltado. Na realidade, no ano passado, em Valência, conversei informalmente com ele. Newey quis saber a posição geral da imprensa quanto à eventual proibição do escapamento aerodinâmico durante a temporada.
A FIA o proibiu no GP da Grã-Bretanha, num casuísmo poucas vezes visto, um acinte às regras. Desejavam que a definição do campeonato se estendesse e não que Vettel conquistasse o título com tanta antecedência. Insisto: fruto da competência da Red Bull e de seu piloto. Newey tinha consciência de que, ao projetar o RB7, junto dos técnicos da Renault e Magneti Marelli, ao redor do conceito do escapamento aerodinâmico, seu carro perderia muito desempenho.
Voltando a Vettel. Depois das provas em Melbourne e Sepang, no ano passado, o arrojado piloto havia explorado as enormes potencialidades do RB7 e conquistado duas vitórias, tendo começado as corridas na pole position. Somava 50 pontos diante de 26 de Jenson Button, McLaren, segundo colocado, resultado do sexto lugar na Austrália e o segundo na Malásia. Hoje, depois das mesmas provas, Vettel tem apenas 18 pontos, da segunda colocação em Melbourne, sexto no Mundial, contra 35 de Fernando Alonso Alonso, da Ferrari, quinto e primeiro este ano.
A realidade técnica da Red Bull nesta temporada está fazendo com que Vettel tenha de manter-se entre os primeiros colocados e não necessariamente liderando sempre a competição, como na maioria das etapas em 2011. Tem, agora, de compreender como administrar a corrida de forma a ascender na classificação. É um desafio distinto do que estava acostumado. Veremos como será sua evolução, este ano, nesse quesito.
Para terminar, fiquei com a impressão, ao ler os comentários no blog, que quis dizer que Massa rendeu tão pouco nos GPs da Austrália e Malásia por realizar testes para a Ferrari. Foi isso mesmo que escrevi. Mas o texto é claro, em alguns dos treinos. Não disse que o desempenho abaixo da crítica nas corridas da Austrália e Malásia tinha essa origem. Foi muito mal mesmo por problemas seus.
Não quero justificar nada em relação a Massa. Apenas que, por exemplo, sexta-feira passada, em Sepang, depois de um bom começo, no treino da manhã, saiu para a sessão da tarde com uma série de mudanças no carro. E em vez de melhorá-lo o tornou inguiável. O mesmo ocorreu em Melbourne.
E critiquei o fato de a Ferrari não ter deixado claro que Massa experimentava ajustes ou mesmos componentes novos no carro, o que ajudaria a entender suas enormes dificuldades para pilotar o modelo F2012 e as diferenças maiores das já existentes para Alonso.
Massa já está em Maranello, sede da Ferrari. Vai trabalhar no simulador, visando o GP da China e ganhar mais confiança com o difícil F2012. Tomara que dê resultados.
Na Austrália não foi o caso, mas em Sepang, depois do treino de classificação, li na forma de Sebastian Vettel reagir conosco, na entrevista coletiva, um piloto em claro desconforto. O que, convenhamos, é natural, em especial para um menino de 24 anos que, na temporada passada, era a referência para todos na Fórmula 1.
Por mais que soubesse que a proibição do escapamento aerodinâmico faria a Red Bull perder desempenho, com certeza Vettel não se imaginava fora da luta pelas vitórias e pole positions, como foi até agora, depois de duas etapas disputadas, Austrália e Malásia. Se depois da classificação senti Vettel incomodado, depois da corrida dá para afirmar: irritado e, diante da reação com o incidente envolvendo Narain Kathikeyan, um tanto desestabilizado.
Expor o dedo médio ao indiano, imagem que percorreu o mundo, pode até lhe valer uma punição. Há no documento de cessão da superlicença da FIA um texto em que especifica comportamentos passíveis de punição. Dentre eles está esse, o de fazer gestos obscenos a outro concorrente ou mesmo aos comissários e à torcida. A pena vai da simples advertência a eventual suspensão de uma ou mais etapas do calendário. Apostaria que apenas chamarão a atenção de Vettel. Não faria sentido punição maior, até porque o alemão não é frequês das convocações dos comissários.
Fiquei impressionado, na sala de imprensa, domingo, em Sepang, ao receber o comunicado da FIA informando que o indiano da HRT foi punido com a perda de dez colocações no grid no GP da China, próximo do calendário, dia 15. Dispomos na sala de imprensa das imagens da corrida, repetidas vezes. E vi pelo menos umas três ocasiões a cena em que Vettel e Karthikeyan se tocam.
Tenho uma opinião: o indiano não tem culpa alguma no ocorrido. Vettel o ultrapassou por dentro, na curva, e deslocou a Red Bull para o ponto de saída normal, sem levar em conta que aquela era a trajetória de Karthikeyan. Não foi o piloto da HRT que tocou na Red Bull, mas o carro de Vettel que se deslocou onde vinha passando Karthikeyan. E essa é a visão de vários pilotos que viram a cena ainda no domingo no autódromo, como por exemplo a dupla da Force India, Nico Hulkenberg e Paul Di Resta, e o agora comentarista David Couthard.
Esse estado de instalibilidade do jovem talentoso piloto alemão, não por acaso bicampeão do mundo, gerou o descumprimento de uma ordem da equipe que deve ter, com certeza, lhe custado uma conversa séria com Christian Horner, diretor do seu time. A telemetria acusou temperatura muito elevada nos freios, a ponto de seu engenheiro, Guillaume Rocquelin, definir a situação como “emergência”.
O rádio de Vettel deixou de funcionar no início da prova. Por esse motivo os mecânicos lhe expuseram a placa para entrar nos boxes, abandonar a corrida. E muito provavelmente Vettel a viu. Mas não a cumpriu. Li na internet que ao ser perguntado pelos jornalistas a esse respeito, Horner respondeu que conversaria com seu piloto.
Não deve ser fácil para Vettel sentir-se o centro das atenções, por méritos da Red Bull, que concebeu em 2011 um projeto excepcional, e seus, ao conduzi-lo com maestria tamanha que seus números o colocam ao lado dos grandes da história, e de repente compreender que é, agora, um ator coadjuvante do espetáculo. Ao menos até Adrian Newey introduzir avanços no modelo RB8 que o permita ser tão rápido quando o MP4/27 da McLaren, o mais eficiente neste início de campeonato.
Sobre Newey, vale a pena recordar a frase que me disse, no fim do ano passado: “Da forma como o regulamento foi definido, não há uma única área onde um projetista, usando a critividade, possa desenvolver uma solução que permita a seu carro ser bem mais eficiente que o da concorrência. Nivelaram a Fórmula 1 por baixo. Proibiram a criatividade.”
Foi a primeira vez que vi o engenheiro inglês, a quem conheço desde os testes de pneus realizado em Jacarepaguá, no começo de 1989, portanto há 23 anos, quando era o responsável pelos monopostos da March, assim por dizer revoltado. Na realidade, no ano passado, em Valência, conversei informalmente com ele. Newey quis saber a posição geral da imprensa quanto à eventual proibição do escapamento aerodinâmico durante a temporada.
A FIA o proibiu no GP da Grã-Bretanha, num casuísmo poucas vezes visto, um acinte às regras. Desejavam que a definição do campeonato se estendesse e não que Vettel conquistasse o título com tanta antecedência. Insisto: fruto da competência da Red Bull e de seu piloto. Newey tinha consciência de que, ao projetar o RB7, junto dos técnicos da Renault e Magneti Marelli, ao redor do conceito do escapamento aerodinâmico, seu carro perderia muito desempenho.
Voltando a Vettel. Depois das provas em Melbourne e Sepang, no ano passado, o arrojado piloto havia explorado as enormes potencialidades do RB7 e conquistado duas vitórias, tendo começado as corridas na pole position. Somava 50 pontos diante de 26 de Jenson Button, McLaren, segundo colocado, resultado do sexto lugar na Austrália e o segundo na Malásia. Hoje, depois das mesmas provas, Vettel tem apenas 18 pontos, da segunda colocação em Melbourne, sexto no Mundial, contra 35 de Fernando Alonso Alonso, da Ferrari, quinto e primeiro este ano.
A realidade técnica da Red Bull nesta temporada está fazendo com que Vettel tenha de manter-se entre os primeiros colocados e não necessariamente liderando sempre a competição, como na maioria das etapas em 2011. Tem, agora, de compreender como administrar a corrida de forma a ascender na classificação. É um desafio distinto do que estava acostumado. Veremos como será sua evolução, este ano, nesse quesito.
Para terminar, fiquei com a impressão, ao ler os comentários no blog, que quis dizer que Massa rendeu tão pouco nos GPs da Austrália e Malásia por realizar testes para a Ferrari. Foi isso mesmo que escrevi. Mas o texto é claro, em alguns dos treinos. Não disse que o desempenho abaixo da crítica nas corridas da Austrália e Malásia tinha essa origem. Foi muito mal mesmo por problemas seus.
Não quero justificar nada em relação a Massa. Apenas que, por exemplo, sexta-feira passada, em Sepang, depois de um bom começo, no treino da manhã, saiu para a sessão da tarde com uma série de mudanças no carro. E em vez de melhorá-lo o tornou inguiável. O mesmo ocorreu em Melbourne.
E critiquei o fato de a Ferrari não ter deixado claro que Massa experimentava ajustes ou mesmos componentes novos no carro, o que ajudaria a entender suas enormes dificuldades para pilotar o modelo F2012 e as diferenças maiores das já existentes para Alonso.
Massa já está em Maranello, sede da Ferrari. Vai trabalhar no simulador, visando o GP da China e ganhar mais confiança com o difícil F2012. Tomara que dê resultados.
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