* Por Lívio Oricchio
Vamos começar pelo mais polêmico? Não vi nenhum indício de que o erro de Sergio Perez, na 50.ª volta, a 6 da bandeirada, quando estava a menos de meio segundo de Fernando Alonso, seja algo decorrente de um interesse maior, como uma eventual ordem da Ferrari para a sua cliente, Sauber, a fim de não comprometer a vitória do espanhol.
Percorri o paddock bom tempo, depois da corrida, e conversei com vários profissionais da competição. A opinião foi unânime: não tem nada a ver essa história. Sei que muitos brasileiros, em especial, vão questionar se é isso mesmo, deixando no ar a possibilidade de ter havido um resultado fabricado, com a encenação do mexicano para deixar a Ferrari ganhar o GP da Malásia.
Não é a opinião de Niki Lauda, Jackie Stewart, Franz Tost, da Toro Rosso, Mike Gascoyne e Steve Nielsen, Caterham, Dick Stanford, Williams, dentre outros. Sou da mesma opinião.
Sobre Sergio Perez. Esperava mais dele no ano passado e fiquei em dúvida a respeito se era o que vimos nas categorias de formação. Nesta temporada estamos assistindo a um piloto mais maduro e de impressionante regularidade, além de boa velocidade. Que trabalho notável em Sepang! Aos 22 anos, vai crescer na Fórmula 1.
E ainda com Sérgio destaco outro tema gerador de debates: irá ou não substituir Massa? Penso que é o maior candidato. Mas em 2013, não durante a temporada. O próprio assessor de imprensa da Ferrari, Luca Colajanni, me pediu para não entrar nessa discussão por não haver hipótese de a escuderia trocar de piloto durante o Mundial. Colajanni não me disse. Eu acrescento: a não ser que seja algo muito gritante, performances de Massa como a da Austrália. O que não penso que será o caso na maior parte das provas.
Sobre Massa, ainda. A Ferrari está dando uma enorme mancada. Massa transformou-se, em alguns momentos, em piloto de testes. Como é proibido treino particular, Massa realizou experiências com novos componentes e de acerto nas duas etapas até agora. E alguns desses testes havia tão pouca pressão aerodinâmica no carro que explicam, totalmente, suas dificuldades de condução.
Podemos até tentar compreender que, em função de Alonso ser o piloto com possibilidades muito maiores de resultados, a equipe italiana escale Massa, em alguns treinos, para testar a validade de certas soluções que, se aprovadas, venham a ser aproveitadas pelos dois pilotos. Mas não deixar isso claro, como está ocorrendo, apenas corrobora para a já profundamente desgastada imagem de Massa tornar-se quase insustentável diante da opinião pública.
Agora Alonso. Escrevo e pago por isso: o considero o mais completo em atividade. Hoje fez o que podemos definir como a arte de pilotar. Num exercício onde é exigida habilidade extrema no piso úmido, depois molhado, úmido de novo e seco, dentre outros exames, Alonso não cometeu um único erro.
E essa variação nas condições do clima reduziram a importância geral da máquina no peso do resultado, formando o cenário perfeito para a competência de Alonso se manifestar, mascarando as profundas deficiências do modelo F2012.
Posso imaginar o que vai gerar esta afirmação: a não ser Michael Schumacher nos seus melhores dias, antes de parar de correr, não vejo nenhum dos atuais pilotos em atividade com capacidade para realizar o que fez Alonso hoje no circuito de Sepang. Até o piloto que para mim é o mais talentoso, depois de Alonso, o inglês Lewis Hamilton, conseguiria. Em algum momento provavelmente cometeria algum deslize. Com uma McLaren que é infinitamente mais eficiente que a Ferrari ele não conseguiu…
Sebastian Vettel, aos 24 anos, já faz parte das estatísticas dos mais eficazes da Fórmula 1. Mas a exemplo do que se esperava, ainda lhe falta maior constância quando larga mais para atrás no grid e tem de ganhar posições ao longo da corrida. É um pilotaço, porém tem ainda o que evoluir nesse aspecto. Hoje vimos de novo. Karthikeyan foi punido por tocar no carro da Red Bull. Minha leitura é que o próprio Vettel poderia ter evitado o encostão que gerou o furo no pneu, o pit stop extra e a perda da quarta colocação.
A perda do escapamento aerodinâmico realmente tirou desempenho da Red Bull. Mais do que imaginava. Acredito que a partir do GP da Espanha, depois dos testes de Mugello, de 1.º a 3 de maio, a versão do modelo RB8 da Red Bull será mais rápida que a atual, a ponto de permitir a seus pilotos lutar pelas vitórias. Por enquanto, como afirmou Vettel, o quarto lugar era o máximo que poderia pretender na Malásia.
Está comprovado, para mim, que não teremos uma temporada com um escuderia dominando a maior parte das conquistas. Saudável e necessário para a Fórmula 1.
Que fiasco a performance da Mercedes em corrida, hein? Excelente na classificação com o terceiro lugar de Schumacher, sumida ao longo das 56 voltas da corrida. Independente da rodada de Schumacher no início, depois do toque com Grosjean, ele mesmo reconheceu não possuir ritmo para acompanhar McLaren, Red Bull, Ferrari e, em Sepang, a deliciosa surpresa da Sauber, com Sergio Perez.
Até mais rápido do que se supunha, Kimi Raikkonen vai retomando o seu melhor. “Nunca pilotei com os pneus Pirelli de chuva ou intermediário. Hoje foi a primeira vez e numa corrida”, nos disse. Bom quinto lugar do finlandês de quem sou fã confesso.
Deixei para o fim. Na primeira volta, Bruno Senna caiu para último, depois de tocar em Pastor Maldonado, na curva 5. “Ele não me viu”, afirmou Bruno, defendendo o companheiro de Williams. No fim, Bruno recebeu a bandeirada em sexto, dando 8 pontos à Williams, mais dos 5 que obteve em 2011 em 19 etapas. “Eu me diverti, ultrapassei uma porção de gente”, nos contou Bruno.
O clima na Williams está tão bom que Bruno e Pastor criaram uma competição entre os técnicos: “Quem descobrir alguma coisa que torne o carro mais rápido ganhará os nossos capacetes”, disse Bruno. Depois da prova em Melbourne, em que Maldonado foi bem mais eficaz que Bruno, esse sexto lugar é de extrema importância para ele porque a Williams viu que também Bruno pode conquistar bons resultados.
Quanto às negociações a respeito da extensão do Acordo da Concordia, vamos esperar mais um tempinho. Há problemas e não simples de serem resolvidos. O fato de Ferrari e Red Bull poderem vir a se tornar sócias da CVC, empresa dona dos direitos comerciais da Fórmula 1, como ouvi no circuito de Sepang, me leva a pensar como os outros times encarariam. Seria surpreendente, por exemplo, a Mercedes participar de uma competição onde a Ferrari é adversária e dona do evento.
Tudo é possível, lógico, mas não acredito.
Abraços!
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