terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O trabalho nos testes*

* Por Luiz Fernando Ramos

O sujeito passa o dia mergulhado no trabalho e entra depois na Internet para ver o resultado dos testes em Barcelona. Fica sabendo que Kamui Kobayashi, da Sauber, fez o melhor tempo da semana. Pastor Maldonado, da Williams, foi o mais veloz do penúltimo dia com o segundo melhor tempo em geral. E a Force Índia também liderou uma sessão, com Nico Hülkenberg.

As grandes equipes? Bem, Sebastian Vettel fez o quinto melhor tempo da semana com a Red Bull, Fernando Alonso ficou em sétimo com a Ferrari e Jenson Button em oitavo com a McLaren. Animado, o sujeito esfrega as mãos em antecipação a uma temporada que promete surpresa e emoção. Sabemos todos que ele vai se decepcionar bastante quando chegar o GP da Austrália, já que os sinais dados pela folha de tempos de um teste são os menos confiáveis possíveis.

No final das contas, todo mundo tem a consciência de que comparações baseadas em testes são impossíveis já que cada um trabalha num programa diferente. Mas no que consiste esses programas? É mais simples do que parece.

Com um carro novo, o primeiro trabalho é conferir se a montagem daquelas milhares de peças foi bem feita. É o que chamam de “voltas de instalação”, feitas em ritmo de passeio. O carro volta rapidamente aos boxes e os engenheiros e mecânicos verificam se há algum tipo de vazamento e se os sensores de transmissão de dados estão funcionando corretamente.

O passo seguinte é o de verificação de dados. Trocam-se peças aerodinâmicas ou mecânicas e o piloto vai à pista com um nível razoável de gasolina e andando sem forçar. O objetivo é ver se os dados obtidos na pista batem com os dos simuladores e/ou do túnel de vento. É um trabalho maçante para o piloto, já que ele sai, dá umas poucas voltas e retorna aos boxes, esperando que mudem a configuração do carro para sair de novo. Não é à toa que os principais pilotos das principais equipes evitaram ser escalados para os primeiros dias em Jerez, deixando ao companheiro a “primazia” de fazer esta função.

O restante do trabalho da primeira semana de testes se concentrou mais em coletar o maior número de dados possíveis sobre o carro e a aprender como ele reage à mudanças no acerto. Isto é feito também com um volume considerável de combustível, já que a principal prioridade, claro, é sempre a de ter um carro veloz em corrida.

Nesta segunda semana de testes em Barcelona, vimos o foco das equipes concentrado em dois fatores: avaliação dos compostos de pneus e simulações de corrida. Claro que eles andam de mãos dadas e um exemplo disso foi dado na quinta-feira. Às 14h30 locais, a Red Bull e a Mercedes colocaram Mark Webber e Michael Schumacher na pista para simular uma prova. Cada um fez três paradas, mas enquanto o alemão largou com pneus macios e colocou duros em cada turno seguinte, o australiano variou: macios, duros, médios e macios novamente no final.

É claro que usar três compostos distintos não é permitido numa corrida para valer, mas a Red Bull conseguiu assim observar o desgaste de diferentes tipos de pneus em diferentes volumes de combustível. Uma lição fundamental para se chegar bem preparado na Austrália. E, quem acompanhou de perto o trabalho de cada equipe e as conversas de bastidores (como Felipe Massa), concluiu que, neste momento, a Red Bull realmente parece ter o melhor carro - ou seja, aquele que consegue imprimir um ritmo competitivo durante várias voltas ao mesmo tempo em que adia ao máximo a curva de desgaste do pneu. McLaren está mais perto, seguido de Ferrari e, depois, da Mercedes. Como terminou o ano passado, basicamente.

Para encerrar, vale registrar que já em Barcelona equipes como Williams e Sauber experimentaram o carro com pneus super-macios e pouco combustível, buscando entender o limite de performance de seus carros para a classificação. As grandes ainda não fizeram isso, mas não foi para esconder o jogo - ainda. Sem ter muito o que se preocupar com eventuais idas ao Q3, a prioridade delas é explorar ao máximo o potencial do carro em ritmo de corrida.

Nesta semana, novamente em Barcelona, as grandes deverão fazer suas primeiras experiências nessa área. Mas certamente vão brincar com o combustível, sem jamais ir para a pista no limite mínimo de gasolina. Afinal, informação na F-1 é ouro. E ninguém vai querer entregar o ouro ao bandido antes da primeira corrida.