* Por Dieter Rencken - Autosport.com
É um dilema comum de uma noite de sexta-feira: comida italiana ou chinesa. Mas essa também pode ser uma questão que estaria atormentando a cabeça de Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, com relação ao futuro de sua equipe de F1?
Durante a sua visita ao Wrooom em janeiro, ele sugeriu que o próximo diretor esportivo da Scuderia pode vir do leste – e não, não estou falando de alguém da costa do Adriático.
“Você pode dizer a [Stefano]Domenicali que o seu sucessor já foi identificado. Ele virá da China...”, disse o dirigente, com seu sorriso mais enigmático que o normal, e com os resultados decepcionantes da Ferrari em 2011, sem dúvida, na raiz do seu comentário.
Enquanto os jornalistas estrangeiros que estavam na 22ª edição da semana de ski em Madonna di Campiglio riram, os italianos escreveram furiosamente.
“Ele estava sorrindo quando disse isso, mas um de nossos famosos [comediantes] diz que existe uma maneira de saber que ele está sério quando está brincando”, explicou Alberto Antonini, editor de F1 da Autosprint, durante uma conversa depois, obviamente ao ler os sinais.
“De um lado, isso mostra que Stefano está sob pressão, de outro, que não existe um substituto para ele dentro da Ferrari, a não ser alguém que venha alguém da Fiat, sem experiência.”
No dia seguinte, depois que Montezemolo fez o seu comentário, Piero Ferrari, em sua primeira visita ao Wrooom, deixou claro que a Ferrari precisa voltar aos seus dias vitoriosos. “Estamos correndo para vencer, não apenas para estarmos no grid. Este é o meu desejo”, disse o filho de Enzo, que possui 10% das ações da Ferrari.
Quatro anos se passaram desde que Kimi Raikkonen conquistou o título na última etapa de 2007. No dia primeiro de janeiro do ano seguinte, a Ferrari promoveu Domenicali de diretor esportivo para chefe da Gestione Sportiva, assumindo o lugar de Jean Todt.
Para ser honesto, no ano de Kimi, Stefano foi de fato o chefe esportivo e certamente liderou a equipe durante uma das temporadas mais politicamente carregadas – lembre do “Spygate” – enquanto a Ferrari quase não brilhou com Todt em 2005 e 2006.
Mas agora a Ferrari ocupa a terceira posição no ranking numérico da F1 depois de uma temporada em que seu carro foi superado em quase todos os aspectos. A temporada anterior foi perdida em um erro de estratégia, e antes dessa foi outro desastre por causa principalmente da falta de desempenho do carro.
Se pensarmos que por cinco anos, entre 2000 e 2004, a Ferrari liderada por Todt dominou a F1, perder por quatro anos seguidos com certeza significa que a cabeça de Domenicali está a perigo caso a equipe não levante um ou (de preferência) os dois títulos este ano.
Mas, na Ferrari, raramente as coisas são tão vermelhas e brancas, curtas e secas. O mesmo se aplica à Itália, que no ano passado celebrou o 150º aniversário de sua unificação enquanto assistia as suas notas de classificação para investimento internacional caírem mais rápido que a própria Ferrari no mesmo período.
Então, quem é melhor para comentar a situação de Domenicali do que a mídia italiana, que sabe o que acontece dentro da Scuderia, entende a psique do país, e, mais do que tudo, desfruta de um profundo relacionamento tanto com Domenicali quanto com Montezemolo?
Existiram momentos em que a Itália e que a Ferrari venceu e que a Itália perdeu em cada ocasião em que a Scuderia foi derrotada – algo que foi regular durante 21 anos -, mas nossas fontes acreditam que a Ferrari e a Itália não são mais sinônimas, pelo menos porque a audiência da F1 mudou radicalmente nos últimos anos. O país tem outras prioridades mais importantes do que o desempenho de uma equipe de corrida, mesmo sendo com um cavalo no bico.
“Claro que Domenicali está sob pressão, pois a Ferrari do ano passado não foi uma Ferrari normal. Depois de Raikkonen, eles falharam em todos os campeonatos. Os carros dos últimos cinco seis anos não tiveram força aerodinâmica”, acredita Pino Allievi, decano do jornalismo italiano de F1 com vários livros publicados sobre o assunto, e um homem que conhecia pessoalmente Enzo Ferrari.
“Mas não existe a grande pressão na Ferrari que as pessoas fora da Itália pensam e que todos os italianos são fãs da Ferrari, isso não é verdade. Temos muitos outros problemas econômicos, temos uma crise econômica, temos problemas políticos, então, o interesse na Ferrar e na F1 não é o mesmo de dez anos atrás. Ou seja, se a Ferrari vence, é melhor, mas se a Ferrari não vence, ninguém liga.”
Ainda assim, Piero diz que a Ferrari existe para vencer no automobilismo. Com certeza uma seca de quatro anos não faz bem, apesar dos problemas na Itália.
Antonino acredita que a Ferrari precisa vencer este ano, ou, pelo menos, perder por pouco: “Não estou absolutamente convencido que a Ferrari irá vencer o campeonato este ano. Espero que eles tenham uma temporada mais decente, significativa, que possam conquistar algumas vitórias, estarem sempre na briga pela pole position e pelas corridas. Mas isso é muito difícil, e não devemos esperar por milagres.”
Paulo Ianieri, colega de Allievi, tem a visão de que grandes mudanças irão acontecer se a Ferrari falhar novamente: “Montezemolo disse isso, Domenicali repetiu isso. Ou eles vencem e têm sucesso, ou acontecerão muitas mudanças novamente na Ferrari. Acho que Stefano é o primeiro que está em risco, pois ele é o chefe da equipe, e ele é quem tem mais responsabilidade de fazer um bom trabalho.”
Do lado da televisão, Stella Bruno, responsável por cobrir o pitlane pela Rai Sports, tem uma opinião um pouco diferente sobre a questão Ferrari-Itália, com uma compreensível visão da perspectiva da audiência de massa de uma televisão, diferente de jornalistas especializados do imprenso, mas concorda que Domenicali está sob pressão: “É um pouco diferente de um time de futebol, mas o problema é que no último período a Ferrari não mostrou o seu coração ao povo italiano.”
“Tenho certeza que Stefano está sob pressão, pois a Ferrari não está lá para competir, está para vencer. E faz tempo que eles não vencem. Na Itália, também existe uma grande pressão por isso, pois as pessoas estão acostumadas com uma Ferrari competitiva”, disse a repórter antes de apontar que a TV tem uma audiência menos sofisticada, o que, de certa maneira, se torna uma faca de dois gumes.
Sim, de um lado a pressão sob Domenicali é menos voraz do que a dos tifosi mais apaixonados, mas, os números adicionam um peso considerável para esta força.
“Por 20 anos eles entenderam isso, foi muito diferente, pois a audiência não era diferente, eram poucas pessoas. Mas eles eram pessoas com paixão.”
“Agora é diferente. Se você acompanha a F1 com paixão, entende melhor, você entende que pode perder e pode ganhar. Mas se você tem 10 milhões de pessoas assistindo na televisão, então é necessário que você vença. É muito difícil para este tipo de espectador entender a quantidade de problemas que eles têm.”
De qualquer maneira, isso com certeza não deve fazer nenhum mal à Itália – particularmente nestes tempos difíceis. A equipe é, afinal, sediada no coração industrial da Itália e continua a sua operação de fabricar um carro inteiro, desde o rascunho, no mesmo complexo – e bem mais de 60% de seus funcionários nasceram comendo pasta, normalmente com molho Bolognese.
“Nós enfrentamos hoje problemas muito mais sérios do que vencer na F1”, acredita Antonini. “Mas o sucesso com certeza significaria um impulso para a nossa moral, pois todos somos influenciados por medalhas e coisas. Pode ser um grande impulso para a nossa indústria também. Seria uma grande satisfação para a maioria das pessoas na Itália.”
Sim, mas a Ferrari é essencialmente italiana? Durante a Era Todt, a equipe era totalmente cosmopolita – chefe francês, diretor técnico inglês, projetista sul-africano, um alemão como o principal piloto, um irlandês e um brasileiro como número dois, diretor de motores japonês. Então, dois anos atrás, Montezemolo falou em ter uma equipe totalmente latina para vencer o campeonato. Todos os presentes no lançamento do carro de 2010 falavam italiano fluente – incluindo os pilotos Fernando Alonso e Felipe Massa.
Historicamente a equipe não foi bem sucedida quando seguiu essa ideia, e agora parece que as mudanças serão em um sentindo de contratações de “estrangeiros”, como a do novo diretor técnico Pat Fry, vindo da McLaren, e Hirohide Hamashima (ex-Bridgestone) que irá ajudar no desenvolvimento de pneus e suspensão.
“Eles tentaram ter um chefe [da área técnica] italiano, Aldo Costa, e algo não deu certo, mais do lado político do que do prático”, disse Allievi. “Domenicali continua a mudar os homens que estão em posições importantes. Em 2011, ele mudou cinco, seis pessoas. E muitas das mudanças são em áreas que você não vê, pois eles não são pessoas públicas. Ele está sob pressão, pois precisa mostrar resultados.”
Então, como o próprio homem se sente, ele está sob pressão para mostrar resultados este ano? “Bem”, disse Stefano durante o Wrooom ao responder as questões inevitáveis, “enfrentar uma temporada com ansiedade não ajuda, então, é inútil ficar estressado. No entanto, nós sabemos que esta temporada será importante e delicada por muitos motivos, mas isso faz parte do esporte no geral, e especialmente nesta situação é parte do contexto em que a Ferrari sempre trabalhou.”
“Claramente existem expectativas”, continuou, “temos que administrar isso da melhor foram possível e o lado emocional é importante, especialmente em uma equipe como a nossa, e no contexto em que vivemos. Então, minha abordagem é a que sempre tive, manter a calma, relaxado, determinado, sem ficas desmotivado se as coisas não acontecerem da melhor forma no começo, mas também sem ficar muito otimista se forem bem.”
Surpreendentemente, ninguém do nosso quarteto acredita que a equipe precisa ser totalmente italiana, latina. Na verdade, Bruno vê como um elogio que pessoas experientes da F1 estão preparadas para se mudar para Itália para trabalhar na Ferrari, enquanto Antonini diz que é simplesmente uma realidade que as equipes estão ficando cada vez mais cosmopolitas.
“Não é um problema, é uma realidade, a verdade é que o projeto de ter uma geração de técnicos italianos falhou. De outros lado, Aldo Costa foi contratado pela Mercedes, então, você poderia dizer que ele não foi simplesmente descartado”, disse.
Pelo menos Dominicale não está sob uma pressão pública dupla, não só por não vencer títulos pela Ferrari, mas por ter uma equipe totalmente italiana. Porém, com certeza, uma questão mais espinhosa é de quem pode substituir o filho de banqueiros – uma regra de ouro do das corporações é de nunca promover ou demitir alguém ao menos que tenha um substituto a mão. Neste caso, não existe nenhum candidato interno óbvio.
“Deve ser alguém de fora”, acredita Antonini, “pois eu não imaginar alguém do time que tenha a habilidade e o conhecimento para substituí-lo. Ele está no time há algum tempo, mas de outro lado, se ele tem que abrir espaço para alguém, não sabemos quem pode ser, e não acho que a Ferrari pode ser também.”
Poderia, no entanto, chegar a esse ponto? “Depende da maneira como você perde o campeonato. Se eles tiverem uma temporada como a do ano passado, a posição e o papel de Domenicali podem ser discutidos. Sem dúvida”, acredita Allievi. Sem rumores chineses, então.
3 comentários:
é lindo ver a ferrari perder... GGOO MCLAREN!!!
Idem!!
Idem!!!(2)
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