* Por Edd Straw - Autosport.com
Kimi Raikkoen completou apenas 192 voltas em um F1 em seu retorno com a Lotus, mas o chefe da equipe de Enstone, Eric Boullier, aponta que o campeão mundial de 2007 já mostrou a que veio. Kimi é rápido, já sabíamos isso, mas ele também provou que pode ser o líder que todo time de F1 precisa.
Para a Lotus (ex-Renault), o retorno de Raikkonen acontece e um momento oportuno. Existiu um tempo em que eles tinham um homem de ferro no cockpit com Robert Kubica, piloto que impôs a sua personalidade na equipe e não deixava ninguém com dúvidas sobre o que ele queria... e exigia. Ele não era exatamente uma pessoa fácil para se trabalhar, mas ele era adorado pela equipe porque fazia o trabalho atrás do volante e movia qualquer pedra do caminho na busca por resultados. Para um time que sentiu a ausência deste tipo de liderança em 2011, a chegada de Raikkonen foi bem-vinda.
Mas ao mesmo tempo que Raikkonen está assumindo o papel deixado por Kubica, ele não é um substituto igual. A sua reputação o precede entre aqueles que não tiveram a experiência de trabalhar com ele, mas o que ele tem feito até agora, - dois dias de testes em Jerez, dois no mês passado com um carro de 2010 em Valência, e duas aparições na fábrica – renderam várias fãs a ele.
Existirão testes mais duros pela frente neste casamento, que ainda está na lua de mel, mas, até agora, é o caso de “até agora está tudo bem” para Raikkonen e a Lotus.
“Depois de algumas frustrações em 2011 e a perda de um modelo que construímos em Kubica, a chegada de Kimi tem sido o segredo da galvanização da equipe. Está sendo um grande impulso”, explica Boullier.
“Todo piloto é diferente e tem a sua própria característica. Kimi está trazendo um tipo diferente de liderança da que Robert tinha. Primeiro, ele tem a sua marca. Ele foi campeão mundial, mas é muito claro e consistente sobre o que quer, ele se impôs como o líder da equipe. As pessoas querem trabalhar com ele e ajudá-lo.”
“Você conquista o respeito e a credibilidade das pessoas da equipe se você vai bem na pista. Se você mostra uma clara indicação do que quer, isso vale a pena para os dois lados.”
Quando a Lotus assinou com Raikkonen, inevitavelmente, os funcionários ficaram sabendo. E ele é um cara que tem tanto uma reputação boa – de muita velocidade, currículo maravilhoso e status de superestrela – e ruim, com acusações de falta de comprometimento, dois anos afastado da F1 e rumores de que ele não tem mais paixão pela F1.
Quando você tem uma organização como um time de F1, os pilotos são um ponto primordial. Para aqueles que se acabam no trabalho 24 horas por dia para deixar o carro um pouco mais rápido, a última coisa que você precisa para a moral é a falta de comprometimento. Mas aqueles que procuram algo de negativo em Raikkonen, ainda estão esperando. Até agora, um sentimento positivo tomou conta de Enstone.
“Com certeza é a sensação”, afirma Boullier sobre o efeito de galvanização de Raikkonen. “Você pode sentir isso quando ele está andando na fábrica. Mesmo antes do anúncio, as pessoas na equipe me paravam e perguntavam sobre Kimi. A sua reputação o precede na fábrica.”
“Quando ele os encontrou na festa de natal, ele foi amigável o bastante para ficar um tempo com as pessoas. Sabendo que temos este cara, um campeão mundial, é um grande impulso e motivação para a equipe. Você pode ver isso na maneira como as pessoas reagem.”
“Poucas pessoas na equipe conheciam Kimi, mas depois da primeira vez que ele pilotou o carro, eles começaram a entender como ele trabalhava. O carisma do cara é forte. Ele é um corredor, ele ama competição, ama a F1 e correr. O motivo dele ter voltado é que ele sentiu falta desta competição.”
“Você poderia sentir que ele é um cara que sabe o que quer desde o começo. Então, era uma questão de se ele iria mostrar na pista. E ele está. As pessoas em Enstone são de corrida e eles podem ver em Raikkonen o mesmo.”
A chave para este sucesso inicial de Raikkonen na Lotus é o fato de ele ter sido rápido logo que saiu do box. Enquanto a tabela de tempos não vale muito neste estágio dos testes, o que chamou a atenção no primeiro dia nos teste em Jerez da forma como o finlandês mostrava o desejo de colocar o carro na pista e começar a entender o que ele podia fazer.
Claramente, ele está sendo obrigado a se adaptar ao carro muito rápido, apesar de não existir nada no programa concebido para lidar com o fato de que, de toda a sua nobre história, ele foi um piloto de rali de sucesso moderado nos últimos dois anos. É óbvio que ele estaria enferrujado, mas Boullier está confiante de que Raikkonen já está bastante adiantado neste caminho de voltar ao seu melhor.
“Para ser honesto, não temos nenhuma estratégia especial de testes para ele”, afirma Boullier. “O fato é que no domingo, demos algumas voltas para um dia de filmagens promocionais e então tivemos sorte de que o nosso carro era confiável e pôde completar várias voltas no primeiro dia de teste e este é o motivo de ele ter sido rápido logo de cara na terça-feira. Mas não existe um programa especial exceto de termos que dar a ele alguma quilometragem o mais cedo possível.”
“A questão de estar enferrujado está terminada. Kimi está aqui. Ele pode precisar de algum tempo durante as primeiras corridas para recuperar completamente a velocidade com um final de semana completo, mas, em termos de ritmo, ele está se adaptando ao carro, ele já fazendo isso.”
“Sabemos que nenhuma pessoa do esporte que parou de treinar por algum tempo irá tomar um tempo para voltar ao seu auge. No caso de Kimi, talvez ele possa fazer isso ainda mais rápido, mas ele já nos convenceu completamente com a sua velocidade e a forma como se adaptou ao carro.”
“Você não pode tirar conclusões dos tempos de volta sobre o ritmo do carro. Mas quando você coloca o carro na pista e ele está equilibrado e mostra que você pode trabalhar com ele, isso prova que a base é boa. Como vamos desenvolver a partir daqui, é uma história diferente.”
Existe muito em jogo para a Lotus, que vê este ano como crucial para a sua ambição de voltar a ter o status de equipe de ponta. A maneira como a combinação Raikkonen/Lotus irá atuar nesta temporada será importante para se saber se o time poderá alcançar o seu objetivo declarado de ser uma equipe de ponta em 2014.
Para conseguir isso, a Lotus precisa alcançar a Red Bull, McLaren e a Ferrari, três times que, hoje, são claramente maiores. Mas sucesso gera sucesso e os resultados na pista são o que a equipe precisa para relizar as suas ambições de se tornar uma desafiante ao título novamente.
“Não somos iguais [à McLaren, Red Bull e Ferrari]”, admite Boullier “Ainda não temos os recursos destas equipes maiores. Mas isso é o que queremos nos tornar. Queremos ser uma equipe de ponta a partir de 2013 ou 2014. Temos agora dois bons pilotos [o campeão da GP2 Romain Grosjean estará no outro carro], o potencial para trazer mais patrocinadores e no futuro precisaremos construir mais recursos.”
“Nós contratamos pessoas nos últimos meses. Isso toma tempo e não podemos fazer tudo de uma vez. Vamos dar um passo de cada vez e queremos nos estabelecer como uma equipe de ponta.”
Então, está com você, Kimi. Não existe dúvida de que a Lotus assumiu um risco de assinar com ele. Seria ridículo sugerir que não existe o elemento do risco em trazer um piloto que está longe há dois anos. Mas dadas as alternativas, foi um risco justificado, que, até agora, está indo bem.
Raikkonen terá muitos testes pela frente, mas, por enquanto, ele tem dado à Lotus exatamente o que ela espera de um piloto que com 18 vitórias um título mundial.
“Da minha experiência pessoal, você pode sentir isso quando o piloto tem a qualidade e esse é o caso com Kimi”, diz Boullier. “Se ele tem o carro, com certeza ele pode fazer o trabalho. Ele é um campeão mundial e você pode ver isso logo de cara.”
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