terça-feira, 4 de junho de 2013

GP do Canadá promete ser bem agitado, dentro e fora das pistas*

* Por Lívio Oricchio


Depois da etapa de abertura do campeonato, dia 17 de março na Austrália, a prova que reúne maior interesse nesse primeiro terço da temporada é o GP do Canadá, sétimo do calendário, a ser diputado no próximo fim de semana no circuito Gilles Villeneuve, em Montreal. Serão debatidas questões relevantes de toda natureza, esportiva, política, técnica e até financeira, não necessariamente dentro do melhor padrão de educação.

“Sebastian não pode abrir uma diferença (na classificação do Mundial) maior da que já tem. Se isso acontecer começará a ficar difícil superá-lo”, disse Fernando Alonso, da Ferrari, em Mônaco. Com o segundo lugar no Principado o tricampeão do mundo ampliou a vantagem que possuía na liderança da competição. Sebastian Vettel, da Red Bull, soma agora 107 pontos diante de 86 de Kimi Raikkonen, Lotus, e 78 de Alonso.

“São diferenças importantes, mas ainda possíveis de serem revertidas”, comentou Raikkonen. Vettel está 21 pontos na frente do finlandês e 29 da do espanhol. O vencedor na Fórmula 1 recebe 25 pontos, o segundo colocado 18 e o terceiro, 15. Os dez primeiros marcam pontos.

Curiosidades: apesar de ter vencido os três últimos campeonatos de pilotos e construtores, a Red Bull nunca ganhou a corrida de Montreal. A Lotus F1, nome do ex-time da Renault, disputou o GP do Canadá somente em 2012: Romain Grosjen terminou em segundo e Raikkonen, oitavo. E a Ferrari não celebra a vitória na pista da Ilha de Notre Dame desde 2004, com Michael Schumacher.

Ainda no âmbito esportivo, as 70 voltas no traçado de 4.361 metros de Montreal representam grande oportunidade para a McLaren expor aos adversários que está de volta à luta pelas primeiras colocações. “Espero, sim, na próxima corrida poder fazer o que não foi possível até agora este ano”, comentou Jenson Button, em Mônaco.

E a razão é simples: a McLaren vem de três vitórias seguidas no GP do Canadá, sendo ainda que venceu em 2007, com Lewis Hamilton, e em 2005, Raikkonen. Em outras palavras, a escuderia hoje de Button e Sergio Perez foi primeira em cinco das sete últimas provas em Montreal. Este ano, seu melhor resultado foi o quinto lugar de Button na China.

Outra pergunta que todos buscam resposta é se a vitória da Mercedes, em Mônaco, com Nico Rosberg, deve ser vista como um episódio isolado ou a organização dirigida por Toto Wolff atenuou suas dificuldades na administração dos pneus Pirelli. Se for o caso, a Fórmula 1 vai ganhar em emoção. Rosberg está em grande fase, a ponto de mostrar-se superior a um piloto que muitos veem como genial, Lewis Hamilton, seu parceiro.

As notícias esportivas, no entanto, vão ganhar no fim de semana menos destaque que a novela do teste privado da Mercedes em Barcelona, depois do GP da Espanha. Para esquentar o tema, a FIA solicitou os detalhes do ensaio não apenas da equipe alemã, mas da Ferrari também, por ter realizado algo semelhante após o GP de Bahrein, embora tivesse utilizado o carro de 2011, o modelo F150, e não o da temporada, como fez a Mercedes.

Mais: a Fia também pediu a Pirelli, fornecedora de pneus da Fórmula 1, o máximo de informações dos dois testes, pois ambos foram requeridos pela empresa italiana, para desenvolver seus pneus.

No caso da Mercedes, como houve protesto formal contra o ensaio, por parte da Red Bull, o Tribunal da FIA irá julgar a legalidade tanto do uso do modelo atual como do próprio teste. Será no fim de julho. É provável que também a Ferrari sente no banco dos réus. O assunto vai circular com desenvoltura pelo paddock do circuito canadense. Será possível assistir a nova série de acusações de privilégios especiais e dirigentes ameaçarem os colegas.

Ainda com relação a Pirelli, os pilotos vão dispor na sexta-feira, em Montreal, dos novos pneus traseiros, concebidos para não soltar lâminas de borracha, como aconteceu em alguns casos este ano. Sua estrutura é confeccionada, agora, em kevlar, material compósito, como no ano passado, e não em aço. É provável, contudo, que os novos pneus sejam um pouco mais duros, o que deve aumentar um pouco sua vida útil e reduzir um pit stop nas corridas.

Nas que seriam quatro paradas com os pneus atuais, a exemplo do GP da Grã-Bretanha, dia 30, em Silverstone, deverão ser apenas três. A Pirelli também não concorda com quatro pit stops, como na Espanha, dia 12 de maio. Esses novos pneus vão estrear em Silverstone.

O clima entre alguns pilotos esquentou no GP de Mônaco. “Perez merecia um soco na cara”, afirmou Raikkonen. No fim da prova no Principado, o mexicano da McLaren tocou no pneu traseiro de Raikkonen, levando-o a fazer um pit stop não programado. Com isso, caiu de quinto para décimo e viu Vettel abrir boa vantagem de pontos. O mexicano se indispôs também com Alonso, que afirmou: “Apenas a McLaren vê qualidades em Perez”.

Quando o tema é colisões, ninguém supera o francês Romain Grosjean, da Lotus. O piloto da Lotus vai para o Canadá sabendo que começará a corrida dez posições atrás da que obtiver na definição do grid, sábado. Motivo: bateu com violência na traseira de Daniel Ricciardo, da Toro Rosso, na freada da chicane.

Como Grosjen já foi suspenso por uma etapa, em 2012, Monza, por provocar um múltiplo acidente na largada do GP da Bélgica, se no fim de semana for o responsável por acidentes de alguma relevância será suspenso de novo, talvez por duas etapas, agora, o que tornaria sua permanência da Lotus difícil.

Pastor Maldonado, da Williams, reclamou muito de Max Chilton, da Marussia, em Mônaco. “Estou ainda com dores no corpo”, comentou o venezuelano. O inglês fechou a porta na reta que antecede a curva da Tabacaria, jogando-o contra a barreira de proteção. O choque foi tão violento que as barreiras deslocaram-se para o meio da pista causando a paralisação da prova.

Todo esse desgaste nas relações entre pilotos pode se agravar na etapa de Montreal em função das características do traçado: estreito e quase sem áreas de escape. A competição tem histórico rico da entrada do safety car e até mesmo de interrupção. Em 2011, Button ganhou com McLaren a etapa mais longa de todos os tempos na Fórmula 1: 4 horas e 4 minutos. A chuva paralisou a prova.

A Williams de Maldonado tem novo comandante geral no GP do Canadá. É Mike O’Driscoll, substituto de Alex Burns. A mudança é estratégica. O melhor time dos anos 90 ocupa hoje apenas a antepenúltima posição entre os construtores, sem ponto algum. E seu orçamento e infraestrura são bem superiores, por exemplo, ao da Force India, quinta colocada, com 44.

Em março de 2011 a Williams abriu seu capital na Bolsa de Valores de Frankfurt. Desempenhos como o atual são desastrosos no campo esportivo e dos negócios. A troca de comando visa a trazer a organização de volta a boa temporada do ano passado, por exemplo, quando chegou até mesmo a vencer o GP da Espanha, com Maldonado.

Montreal está uma hora a menos em relação a de Brasília. Assim, o primeiro treino livre do GP do Canadá começará às 11 horas de sexta-feira, enquanto a classificação, sábado, às 14 horas, e a corrida, domingo, às 15 horas, sempre horário de Brasília. O público costuma ser um dos melhores da temporada, mesmo sem um canadense no grid.

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