* Matéria publicada no IG Esportes
Tony Kanaan foi o vencedor das 500 milhas de Indianapolis da Fórmula Indy; Felipe Massa corre na Ferrari, mais tradicional equipe da Fórmula 1. Cenas de sucesso do automobilismo brasileiro que podem estar com dias – ou anos – contados. Isso porque, a curto prazo, a previsão não é nada promissora. A falta de investimento financeiro em categorias de base colocou o esporte a motor no Brasil em situação delicada.
Na Indy, além de Kanaan, corre também Hélio Castroneves. Ambos têm 38 anos. Na F1, Massa, de 32, é o sobrevivente. Felipe Nasr, de 20 e hoje na GP2, é a única esperança para o futuro. Pouco para um país que é dono de oito títulos na mais nobre categoria do automobilismo mundial.
“A gente tem ficado cada vez em menor número nas categorias top e vê poucos subindo da base. É preocupante. É difícil analisar, mas hoje não tem investimento”, afirmou Bia Figueiredo, que correu somente nas primeiras cinco etapas da Indy em 2013 e parou por falta de recursos. “Obviamente, em relações financeiras, que é onde tem o apoio, hoje não só a Fórmula 1 como a própria Indy estão passando por situações de reestruturação”, concordou Castroneves.
“É triste, mas é uma tendência. A gente, ao longo dos anos, foi perdendo as categorias de acesso e isso tem feito os jovens, por falta de opção, ir para categorias de turismo, que raramente levam o piloto a participar de uma categoria top”, explicou Ricardo Tedeschi, "olheiro" e empresário que ajudou a colocar Rubens Barrichello e Massa na F1.
O Brasil contou até os anos 1990 com categorias de base, como a Fórmula V, Fórmula Ford ou Fórmula Chevrolet. Estas serviam como celeiros para talentos que despontavam no kart. Recentemente, Felipe Massa investiu para criar a Fórmula Futuro, que não deu retorno financeiro e foi abandonada.
“O Felipe fez uma tentativa super louvável, a intenção estava lá. Mas o próprio mercado brasileiro não reagiu favoravelmente e ele decidiu parar. Depois de certo ponto, a categoria precisa de autossustentar e nesse ponto falhou. Quando ele decidiu parar não teve ninguém que pegasse e falasse ‘vamos fazer outra coisa’”, completou Tedeschi.
Grande parcela do problema reside na falta de iniciativa da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), que não tem condições de bancar categorias de formação. Esse papel sempre coube a empresas privadas.
“A CBA nunca foi o grande maestro disso, mas deveria ser. Só que pra que isso aconteça, ela precisa ter recursos. Ela tem um viés politizado e depende muito das federações locais, que dependem dos clubes. A CBA pode até ter as intenções, mas ela própria precisa cobrar taxas para sobreviver e poder depois autorizar ou organizar essas categorias. Então, como faz? Quem paga a conta? É meio utópico. Não tem um fundo para novas categorias ou para apoiar determinado piloto”, disse Tedeschi.
Primeiro passo na carreira dos pilotos, o kart passou por uma crise que também contribui para o atual cenário. Por conta de seu alto custo e outras questões estruturais, a quantidade de competidores caiu muito nos últimos anos.
“O kart era nosso grande caldeirão. A gente botava aquele monte de coisa para ferver e depois ia pinçando umas coisas ótimas. O kart passou por uma grande crise anos atrás e de uma certa maneira se reinventou também. Estamos muito aquém do que era. O caldeirão continua vazio e esse é um dos grandes problemas. Mas a comissão de kart da CBA foi mais incisiva em tentar baixar os custos. Hoje já existe um certo ressurgimento do kart”, falou o empresário.
O bicampeão mundial de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi prefere manter o discurso otimista: “O Brasil tem sempre futuro. Tem uma geração nova chegando”.
O iG Esporte tentou contato com Cleyton Pinteiro, presidente da CBA, mas não obteve sucesso.
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