quinta-feira, 6 de junho de 2013

Falta comando*

* Por Julianne Cerasoli


A polêmica dos testes feitos pela Mercedes a pedido da Pirelli em Barcelona escancarou o esgotamento de um modelo de não-gestão da Fórmula 1 em um momento importante de sua história, às vésperas de uma mudança de regulamento que busca aproximar a categoria da realidade de um mundo cada vez menos voltado à exploração de limites e mais ligado à eficiência.

Não-gestão porque a categoria hoje virou terra de ninguém. Não há um Pacto da Concórdia em vigor e a Federação Internacional se finge se morta. Sem encontrar uma via comum para negociações por meio de sua associação, a FOTA, as equipes perderam a chance de ter pulso firme em dois pontos que, se não forem revistos, podem tornar o negócio insustentável em alguns anos: o corte efetivo de gastos e a divisão do dinheiro gerado pelos acordos estabelecidos com organizadores e TVs pelo promotor Bernie Ecclestone. A CVC Capital, empresa a qual Bernie representa, fica com boa parte da grana e fechou escusos contratos individuais com cada time. Não é difícil imaginar quem tenha levado vantagem. Em outras palavras, a Fórmula 1 é rentável, mas esse dinheiro não volta a quem faz o espetáculo.

Em meio a esse clima de falta de comando e jogo de interesses, algo simples, como a necessidade da restrição aos testes de pista ser aliviada para a próxima temporada devido à extensa mudança de regulamento vira um rebuliço.

A diminuição dos testes foi bem-vinda quando as montadoras bateram em retirada e foi bem absorvida pelas equipes desde sua implementação, em 2009, em grande parte porque, de lá para cá, o regulamento técnico se manteve razoavelmente estático. A história muda de figura agora, tanto para as próprias equipes, que terão de mudar radicalmente os sistemas de seus carros para adaptá-los à nova unidade de potência com motor turbo V6 e uma unidade de ERS muito mais eficiente, quanto para a fornecedora de pneus, que terá de lidar com carros que geram muito mais torque.

Para piorar a situação, a Fórmula 1 não tem uma fornecedora de pneus sob contrato para o ano que vem. A Pirelli vem pressionando para que uma decisão seja tomada rapidamente, e os italianos têm lá seus motivos financeiros e políticos para isso, mas não deixam de estar certos: é preciso que as diretrizes técnicas para 2014 sejam definidas o quanto antes, caso contrário ninguém poderá reclamar se o pneu durar por seis voltas na primeira corrida da próxima temporada. Afinal, vimos principalmente nos últimos dois anos o quanto a atual conjuntura, com a Pirelli testando com carros datados, pode gerar surpresas – muitas vezes agradáveis para nós, mas aterrorizantes para as equipes.

A questão em torno do teste da Mercedes, portanto, não é da possível vantagem que o time alemão ganhou ou deixou de ganhar. O problema é a falta de comando político e a desunião entre as equipes, que, ao invés de trabalhar juntas neste momento delicado, ficam trocando farpas.

A Fórmula 1 precisa urgentemente rever a política de testes para que evitar que estas situações “clandestinas” se tornem corriqueiras porque, em comparação aos últimos anos, a necessidade de colocar os carros na pista será exponencialmente maior em 2014 – para as equipes e para quem for responsável pelos pneus. Isso é óbvio. Porém, para chegar lá, é preciso que alguém assuma o comando. Por enquanto, ele está na mão de Bernie e do caos que ele gosta de criar para fomentar seus lucros. As equipes e, principalmente, a FIA, precisam endurecer o jogo.

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