* Por Ivan Capelli
Michael Schumacher voltou aos holofotes na última semana. Não que tenha vencido novamente ou conquistado algum grande resultado, bem pelo contrário. Punido por bater em Bruno Senna na Espanha, vai largar cinco posições atrás da classificação que conquistar no grid em Mônaco. E, além disso, o diretor da Mercedes Nick Fry andou dando dicas de que o heptacampeão deve se aposentar ao final da temporada. E aí surge a questão: valeu a pena o seu retorno às pistas?
No que diz respeito à realização ou satisfação pessoal, não cabe a nós avaliar. Se voltou a correr porque gosta, se está feliz com o que faz, se está mais divertido viajar o mundo correndo atrás de nada do que ficar em casa de pijamas, ótimo para ele. Mas, do ponto de vista esportivo, de forma fria e objetiva, sua volta à F1 não agregou nada a ninguém.
A Mercedes cresceu com ele? Não. Schumacher entrou na equipe junto com a montadora alemã, que comprou a então campeã Brawn. Esperava-se um supertime e nada disso se confirmou. Em três anos, apenas uma vitória, recentemente na Malásia com Rosberg, e que até aqui parece ter sido somente um resultado ocasional de uma equipe que naquele dia encontrou algo em seu carro que lhe deu vantagem sobre os demais. A participação de Schumacher nisso? Zero, vazio, niente.
A F1 teve interesse renovado por causa dele? Talvez na primeira ou na segunda corrida após o retorno, em 2010. Depois, Schumacher virou apenas mais um no meio do pelotão. Por toda sua história é um piloto ilustre, um sujeito que sempre chama a atenção, mas apesar de algumas boas corridas – como no Canadá no ano passado -, não foi capaz de virar centro das atenções. Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Fernando Alonso e até o recém-quase-aposentado Kimi Raikkonen possuem posições consolidadas como estrelas da categoria e são suficientes para atrair mídia, fãs e publicidade. Schumacher tornou-se um coadjuvante de luxo.
E sua carreira, ganhou algo com isso? Até aqui, não. Antigo dono da invejável reputação de ser o cara que nunca apanhou de nenhum companheiro de equipe, desde 2010 é recorrentemente ofuscado por Nico Rosberg. Larga atrás, chega atrás, e poucas vezes conseguiu bater o jovem compatriota. Desde que venceu pela primeira vez, há 20 anos, em 1992, Schumacher sempre tinha ganho ao menos uma corrida por ano. Agora já amarga um jejum de três temporadas e o pior: nem pódio conquistou. Mantendo-se a tendência atual, o máximo que conseguirá agregar ao seu rol de recordes é o maior número de GPs disputados, mas para isso precisará renovar com a Mercedes e disputar mais uma temporada. Atualmente, algo que parece um tanto improvável.
Porém, seu retorno abaixo da expectativa também não chega a manchar sua trajetória profissional. Ninguém ganha sete títulos mundiais e quase uma centena de corridas por acaso, Schumacher é e sempre será um dos maiores nomes da história. E já possui manchas bem piores no currículo, como ter jogado o carro em cima de adversários para tentar conquistar dois títulos ou ter aceito a vitória na marmelada da Áustria. Não serão cinquenta corridas ruins já depois dos 40 anos que o tirarão do olimpo dos grandes campeões.
Schumacher é dos bons e se quando pendurar o boné disser apenas que voltou para saldar uma dívida de gratidão, já que a Mercedes bancou sua formação e sua entrada na F1 sem que nunca tenha participado diretamente de nenhuma das suas conquistas, já terá valido a pena. E terá colocado um ponto final digno em sua carreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário