terça-feira, 29 de maio de 2012

O gênio das Astúrias*

* Por Rafael Lopes


A julgar pelo mau desempenho do carro da Ferrari nos testes e nas primeiras corridas da temporada, parecia que 2012 seria um ano perdido para Fernando Alonso. Os problemas do carro pareciam indicar poucas ambições para o espanhol neste ano. Mas o bicampeão da Fórmula 1 continuou a acreditar. Conseguiu um bom quinto lugar na Austrália. Na Malásia, fez mágica e venceu, após dar aula de estratégia ao escolher o momento correto de trocar os pneus. Ficou em nono na China e em sétimo no Bahrein, mas voltou a andar na frente na Espanha, com o segundo lugar, atrás apenas de Pastor Maldonado. E brilhou na escolha da tática em Mônaco para chegar em terceiro. Resultado: a liderança isolada do Mundial de Pilotos, três pontos à frente do alemão Sebastian Vettel e do australiano Mark Webber, a dupla da RBR. Uma temporada impressionante.

Em Mônaco, Alonso se manteve entre os primeiros em todos os treinos, mas deu azar com a temperatura alta do asfalto na classificação, que minimizou o bom desempenho da Ferrari no principado. Na corrida, com o tempo mais nublado e menos calor na pista, foi genial. Ganhou a quarta posição na largada, após escapar do acidente com Romain Grosjean, da Lotus, e Michael Schumacher, da Mercedes. Ficou atrás de Lewis Hamilton, o terceiro, mas notou rapidamente que pressionar o inglês da McLaren seria uma perda de tempo, já que o circuito de Monte Carlo não tem pontos de ultrapassagem. Poupou os pneus supermacios, aguentou a pressão do companheiro Felipe Massa e, pouco antes de sua parada, começou a dar voltas em ritmo de classificação. Com o pit stop feito no momento correto, superou Hamilton e assegurou uma vaguinha no pódio.



Alonso e a Ferrari repetiram o enredo da Malásia, onde o espanhol tinha largado em oitavo. Com a chegada da chuva, o espanhol entrou nos boxes no momento exato para trocar os pneus, foi para as primeiras posições. A corrida foi interrompida pouco depois. Após o reinício, ele escolheu novamente o ponto exato para fazer um novo pit stop. E esta precisão na estratégia o jogou para a ponta. Com a pista úmida, o bicampeão foi o mais rápido durante boa parte da corrida. Perdeu terreno nas voltas finais para o segundo colocado Sergio Pérez, é verdade, mas contou com a inexperiência do piloto da Sauber e se deu bem com o erro do mexicano.

Um desempenho de gênio, diria. Pouca vezes vi um piloto fazer tanta diferença no desempenho de um carro. Acho que este início de temporada de Fernando Alonso só é comparável ao de Ayrton Senna em 1993. Para quem não lembra, na ocasião, a Honda tinha saído da Fórmula 1 e a McLaren viu-se obrigada a usar os fracos motores Ford HB, menos potentes que os Ford Zetec da Benetton – equipe oficial da marca naquele ano – e que os Renault da Williams. Mesmo assim, Senna fez mágica: ganhou debaixo de chuva no Brasil e em Donington Park e, até a metade do ano, pelo menos, brigou de igual para igual com Alain Prost, da Williams. O francês seria tetracampeão, mas muitos consideram 1993 como o melhor de Senna na F-1. Eu, inclusive.

E Alonso está me fazendo lembrar daquela temporada de 1993. Se terá chances de ser campeão, só o tempo dirá. Mas estar na liderança do campeonato neste momento e com o carro que tem diz muita coisa sobre sua habilidade. Se o desempenho neste ano lembra Senna em 1993, o estilo de pilotagem do espanhol emula Prost. O bicampeão, durante as corridas, é frio, calculista. Sabe exatamente os momentos em que tem de agir ou ficar quieto. E ele também lembra o “Professor” com a enorme habilidade de lidar com o lado político fora das pistas. Alonso tem hoje toda a equipe italiana ao seu lado. E alguém aí ainda duvida do talento de Fernando Alonso?

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