segunda-feira, 6 de julho de 2009

A FÓRMULA 1 NO DIVÃ*

* Por Luis Fernando Ramo, o Ico

Foram meses vivendo um confronto político aborrecido, confuso e cuja
resolução reside apenas nas aparências. Afinal, Max Mosley ainda ameaça
permanecer por mais um mandato na presidência da FIA, o regulamento para o ano que vem não está finalizado e times novos, como a Manor, ainda não confirmaram se correm numa categoria sem teto orçamentário. Aliás, não faltam acusações contra esse time no processo de escolha promovido pela FIA: existem alegações de que Alan Donelly, o braço-direito de Mosley e chefe dos comissários de prova a cada corrida, teria participação na equipe. Sem falar que Nick Wirth, o nome mais forte no projeto de F-1 da Manor, tem uma ligação tremenda com o atual presidente da FIA. Desde que nasceu.

Para completar o quadro, tivemos as infelizes declarações de Bernie Ecclestone ao “Times”. Ao fazer uma apologia das benesses de uma liderança autoritária, o diminuto citou Adolf Hitler, Sadam Hussein, Margareth Thatcher e o Talibã. Vamos deixar claro que ele não elogiou diretamente a política nazista que resultou no holocausto. Mas entrou na vala comum de citar que o governo de Hitler acabou com o desemprego na Alemanha como um feito positivo. O que dá mais ou menos no mesmo, já que a massa estava empregada para alimentar uma indústria militar com anseios de expansão territorial e destruição dos judeus – e em cima de uma política econômica que fatalmente quebraria o país, acontecesse ou não a II Guerra Mundial. Antes de subir ao poder, Hitler detalhou num livro o seu modo de pensar, por isso é ridículo vir o senhor Ecclestone agora dizer que o ditador pode ter sido persuadido a fazer coisas erradas. Um sinal claro de que ele não tem a menor idéia do que estava falando.

Esta série de manchetes negativas para o esporte são sintomas claros justamente disso: como as pessoas que têm o poder na Fórmula 1 perderam completamente a noção da realidade – e é preciso incluir nessa leva também uma boa parte dos manda-chuvas das equipes. Ficam todos trancados em seus motorhomes envidraçados, costurando a divisão de um bolo que era absolutamente rentável, mas que acabou completamente embolorado em meio à crise econômica.

Porque não há modalidade esportiva que (se) perdeu tanto com esta recessão como a Fórmula 1. Em parte, claro, por sua própria constituição, por ser um importante instrumento de marketing e de pesquisa da rica indústria do automóvel. Mas eu garanto também que está faltando visão para as pessoas que tomam as decisões, justamente por elas andarem viajando na maionese nesta insuportável briga de egos.

O curioso é ver que uma boa saída para a Fórmula 1 reencontrar o seu “eu” interior está bem debaixo do nariz deste povo. Afinal, foram eles mesmos que reafirmaram o desejo de levar os custos “para os níveis que existiam no início dos anos 90”. Para isso, caros Bernie, Max, equipes e patrocinadores, o caminho é claro como cristal:

- Esquecer corridas em lugares exóticos e sem tradição no esporte.
- Permitir que organizadores de GPs tradicionais paguem preços justos e realistas, o que refletiria em preços de ingressos também justos e realistas para os torcedores, uma garantia de arquibancadas lotadas.
- Tirar a mordaça de relações-públicas dos pilotos, deixarem eles terem idéias próprias, dizer o que realmente pensam, enfim, ganhar em carisma e personalidade.
- Criar um regulamento que seja estável e simples, uma fórmula que dá certo há anos no futebol, no tênis, etc. Ninguém quer saber de Kers, de troca de motores e câmbios, de cálculos matemáticos difíceis sobre volume de combustível versus delta do tempo no Q2 e no Q3 dividido por consumo de combustível por volta. O mais rápido larga na pole; e o que fizer o melhor trabalho no domingo ganha a corrida. Ponto final.

Era assim no início dos anos 90 e é esta a melhor maneira da categoria criar uma boa base para garantir seu futuro muito além dos tempos bicudos atuais. Investindo no seu maior bem: o interesse de uma audiência que vai muito além dos absolutamente malucos pelo automobilismo. Tendo uma cara de competição esportiva: simples, direta, fácil de acompanhar. Os que gostam de política e economia, é óbvio, lêem outros cadernos do jornal. Está na hora dos que ditam os rumos da Fórmula 1 começarem a ler a sessão de esportes.

Assinamos onde, Ico?

2 comentários:

Marcos - Blog da GGOO disse...

Depois quando a gente fica falando da época tal, mostrando vídeos das corridas mais antigas e suspirando, ficam chamando a gente de dinossauro. Mas eram épocas mágicas, apaixonantes, onde a essência da verdadeira F-1 ainda existia. E isso começou a se perder, na minha ótica, no começo da década de 90.
A geração internet, aquela que acha que Schumacher é gênio (sem desmerecer suas conquistas) que me desculpe, mas não viu e não sabe o que é F-1 de verdade.
Não adianta voltar o orçamento daquela década, tem que voltar a essência, aquela que fez milhões de pessoas se apaixonarem pela categoria, caso contrário, o tão famoso "racha" que quase aconteceu, vai ser pouco.
Sobre o texto, nós mesmos já falamos muita coisa parecida por aqui, só que mais superficial, mas o Ico foi bem demais, tudo muito detalhadinho pra qualquer um entender.
Duca esse texto, Ico, eu assino!!

Igor * @fizomeu disse...

é isso ae... tragam prost, piquet, mansell e senna (os originais) de volta que teremos uma F1 tão boa como no final dos anos 80 e início dos anos 90!!!