* Por Victor Martins
A comunicação via rádio no automobilismo foi criada essencialmente para que piloto e equipe pudessem trocar informações a respeito da funcionalidade do carro e andamento da corrida, respectivamente, além de ser um meio mais fácil do que as placas postas na reta dos boxes — meramente parte do show e úteis em caso de dificuldade na transmissão. Com o tempo, e com o aperfeiçoamento dos detalhes e dos equipamentos, o rádio se tornou parte imprescindível para o resultado de uma prova, acionado precisamente para definição das estratégias. E num mundo de espetacularização, a revelação das conversas, ainda que em trechos, trouxe um componente interessantíssimo para o público da TV.
Neste cenário, Massa tornou-se protagonista na F1. E numa temporada cujo fim virtual se dará neste próximo fim de semana, a grande chama veio na revelação feita pela própria categoria dos melhores momentos do GP de Cingapura, em que o engenheiro Rob Smedley (“Fernando is faster than you”) pede para que Felipe “destrua a corrida” de Hamilton, seguida de uma frase de incentivo, “vamos lá, meu garoto”.
Vamos lá, meu garoto. O objetivo da Ferrari foi alcançado. Ainda que Hamilton tivesse habilidade e capacidade para recuperar-se na prova, não conseguiu chegar em Alonso para tirar do espanhol o quarto lugar, ou ainda brigar com o espanhol durante parte da corrida. Também, por mais que a ordem tenha sido dada, não foi Massa quem a executou: Hamilton afobou-se e, castigo dos deuses, destruiu a corrida de Massa. O pedido em si, quase uma declaração beligerante dentro da espera esportiva (esportiva?), não ameniza nem tira do inglês a culpa. E por mais que esteja numa fase de cair vaca e boi na cabeça, é exagero que peçam a sua durante as próximas reuniões de pilotos antes das etapas.
Ao garoto Massa. Bom garoto, já disse aqui, um rapaz de personalidade, íntegro e que não se deixou levar pelo ufanismo e pela fuzarca nacionalista. Bom piloto também, mas não mais que isso, se analisada sua carreira como um todo. Defenestrado da Sauber de início, por se opor a ordens de equipes, encontrou na Ferrari sua redenção, treinou, voltou à Sauber e foi preparado pelo time italiano para ser seu primeiro pupilo lá desenvolvido. Substituiu Barrichello e não foi a pedra no sapato que havia sido o compatriota, sendo tratado como irmão por Schumacher. Pegou Raikkonen como companheiro. Com um ano de casa, e em tempos que a Red Bull ainda não era grande, foi o único dos grandes a não disputar o título em 2007. No ano seguinte, Kimi enfraqueceu-se, e Massa foi o homem da Ferrari a brigar com Hamilton pela taça. Não vinha mal em 2009 até sofrer o acidente na Hungria. Em 2010 e até agora, tem sido um esboço de piloto.
Então, Massa só foi competitivo, de verdade, em 2008. Merecia aquele título, olhando por um prisma holístico. Não foi, caprichos da vida e, especificamente, daquela corrida memorável em Interlagos, toca-se o barco.
Mas o rádio, de todas aquelas funções, revela um Massa dominado pela Ferrari, que deve se submeter aos pedidos de quaisquer natureza, desde abrir passagem para o companheiro em tempos que teoricamente as ordens de equipe estão proibidas até mesmo acabar com a corrida de um rival. No ano passado, Felipe não fez só um mau danado à F1 e ao esporte ao se deixar levar pela voz que insistia orelhas adentro, mas ao não vencer na Alemanha, num momento particular difícil, fez da sua vida enquanto esportista algo mais difícil ainda. A frase de Smedley, em inglês ou em português, virou chacota mundial e de tempos em tempos rotula o brasileiro. Sem se impor, Massa virou o boneco de ventríloquo da Ferrari.
A nova conversa via rádio infelizmente corrobora. Massa, com menos de metade dos pontos de todos os seus concorrentes diretos, passou a ser visto como um secretário do mês em prol de um companheiro quase que sempre mais rápido em classificação e sempre melhor em corrida. A Ferrari faz lá sua tática para Alonso, e Massa que se vire para ajudá-lo. É claro que não se espera de Felipe que vá jogar Hamilton no muro e que o “destrua” seja mais forte do que possa significar, mas a grita que o próprio Massa fez há três anos por causa de Nelsinho e… Alonso… na armação em Cingapura se torna vazia e inócua diante do que ele poderia fazer na corrida. Massa é o que Nelsinho foi, um mero suporte para o brilho do parceiro de garagem, e se chegou a se ponto, se achou ridículo a atitude e o comportamento do compatriota, deveria se inserir no contexto para ver qual é o tipo de papel que está desempenho na prática.
As ondas do rádio estão ajudando a revelar que não só corridas podem ser destruídas, assim, a torto e a direito. Carreiras, também.
3 comentários:
isso é oque acontece quando se troca``HOMBRIDADE´´ por dinheiro...tomara que o B.SENNA nunca se sente nessa ``CADEIRA ELETRICA´´ chamada FERRARI.
Opinião de 10 entre 10 torcedores.
Não tô defendendo o Massa não, mas tá cada vez mais difícil tem hombridade nessa F-1 mercenária de hoje.
esse sempre foi e será o "modus operandi" ferrari... nenhuma novidade!!!
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