* Por Victor Martins
Foi um GP absurdamente tático, este da China, que proveu uma série de ultrapassagens, mas pouquíssimas brigas reais. A única que poderia ter acontecido de forma natural era Räikkönen-Hamilton pelo segundo lugar. Os dois andaram a corrida inteira juntos, variando aqui e ali na diferença das voltas em que pararam. Na primeira parte, Lewis andou na frente; na outra, Kimi, que conseguiu nos pits a ultrapassagem sobre o rival. Só que, apesar de ter chegado, o inglês não ameaçou o finlandês. E se a corrida tivesse mais uma voltinha, perderia o pódio para Vettel, que voava com os pneus macios postos no fim – na estratégia inversa da Red Bull; e só assim para passar.
Enquanto isso, Alonso reinava. Não teve muita dificuldade para se livrar de Hamilton depois de três voltas e poucos contos de réis. Fez uma prova à parte, tranquila e soberba, e até parecia que poderia andar mais forte. Um sintoma disso foi seu engenheiro ter pedido para que não forçasse no fim da prova quando estava andando rápido demais, que ouviu de volta: “Mas nem tô forçando”. A Ferrari tem um carro muito bem acertado para corridas. E pensando além, Vettel vai ter uma dificuldade imensa neste ano para conquistar o tetra. Os italianos acharam o caminho, a verdade, a vida.
E Alonso tem outro ponto a favor: essa Red Bull esquisita com uma guerra interna. Justamente no fim de semana em que eclodiu a animosidade explícita entre os dois pilotos, a equipe teve sua pior performance em anos. Teve de rebolar para achar um acerto minimanente decente nos treinos e, cônscia de que era uma Toro Rosso melhorada na classificação, agiu como time pequeno e pensou na corrida. Vettel mal conseguiu acompanhar o líder Hülkenberg no primeiro trecho da prova quando ambos partiram de pneus duros e dava dó – mentira – de como era ultrapassado sem piedade pelos demais no vaivém dos boxes. No fim das contas, o quarto lugar ficou de bom tamanho para manter o alemão na ponta do campeonato com 52 pontos, três à frente de Kimi – que já dá pinta de fazer uma temporada deveras constante como a de 2012.
Button foi o quinto com a McLaren que seguiu os passos da Red Bull: isto é, com ato de equipe mediana para tentar algo mais eficiente na corrida por saber que o carro não vai. E a impressão que passa é que Jenson tira mais do que pode deste limítrofe modelo, até vendo pelo que Pérez não tira. Aliás, Xangai acentuou as diferenças entre os companheiros de equipe. Webber fazia uma corrida discreta até bater bisonhamente com o primo Vergne, Rosberg não acompanhava a toada de Hamilton e logo abandonou, Grosjean e Pérez contentaram-se em brigar lá no pelotão do deusmelivre e Massa só foi bem na primeira parte, depois sumiu.
É onde esse avançado Massa precisa trabalhar melhor agora, a corrida. Na Austrália, andou na frente de Alonso, mas uma vez pra trás, empacou atrás de Sutil e Vettel. Não acompanhou em nenhum momento o ritmo de Red Bull e Mercedes na Malásia. E agora na China, estava no encalço de Alonso até a primeira parada e terminou a prova ameaçado pela Toro Rosso de Ricciardo-wow, que foi wow, mesmo. Alegou que os pneus estavam dando sinal de arrego – ora, o pneu é o mesmo para todos, e os de Alonso estavam bem, obrigado. A não ser que o acerto do carro não fosse dos melhores, o que se pode entender é que Felipe não trata os Pirelli da forma correta.
Di Resta, na dele, foi oitavo em um fim de semana ligeiramente melhor que Sutil. Grosjean completou a corrida, nada mais que isso, e Hülk, igual a Massa, caiu demais com o passar das voltas. Para quem andou tranquilamente à frente de Vettel, era possível imaginá-lo ali entre quarto ou quinto. Mas em décimo, serviu para me dar 50 lindos pontos no BRV.
Três etapas de naturezas distintas e resultados diversos. No tempo ameno da Austrália, a Lotus se deu bem sem ter o melhor carro na classificação – onde a Red Bull sobrou – e na corrida. A Ferrari foi claramente lenta na definição do grid e teve desempenho inverso na prova. Os taurinos foram discretos durante as 56 voltas em Melbourne, pouca coisa à frente da Mercedes no geral. Na quentíssima Malásia, um circuito de longas retas que requer muito do acerto do carro, a Red Bull se impôs no sábado e no domingo. Logo depois veio a Mercedes. A Lotus ficou relegada ao segundo pelotão. Quanto à Ferrari, só pelo desempenho de Massa, o negócio não foi bom, mas seria importantíssimo entender onde Alonso poderia chegar se não tivesse abandonado. E agora, na China de temperaturas acima do esperado, foi a vez da Red Bull sofrer uma queda acentuada no desempenho, perdendo terreno para Mercedes, Ferrari e Lotus em volta rápida. E Alonso mostrou que a Ferrari tem um carro absolutamente bem acertado para uma corrida, deixando os prateados e os aurinegros num mesmo patamar.
Se fosse para colocar numa ordem, seria a seguinte: em classificações, Red Bull – Mercedes – Ferrari – Lotus; em corridas, Ferrari – Red Bull – Lotus – Mercedes. Falta só a última vencer neste ano. O Bahrein tá logo aí na semana que vem.
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