* Por Felipe Motta
Em menos de 24 horas na Itália, em Madonna di Campiglio, no evento Wrooom, organizado pela Ferrari, fica mais do que claro como está definida a hierarquia na escuderia.
O texto do colega Luis Fernando Ramos mostra bem como anda a coisa com um exemplo prático.
Eu poderia seguir a linha do Ico, como o jornalista é conhecido, mas irei me ater mais ao novo papel do brasileiro (desde a consolidação de Alonso na equipe, após algumas provas em 2010).
A trajetória de Massa é muito particular na F-1. O piloto chegou cedo e imaturo, cometeu muitos erros e perdeu o emprego logo após o primeiro ano, em 2002. Ali, muitos pensavam que sua carreira tinha acabado. Retornou em 2004, com muito ainda a aprender, mas sempre deixou claro sua velocidade e curva de evolução. Pagava, no entanto, seu começo ruim e muitos jamais o consideraram um piloto capaz de vencer corridas.
Em 2006, seguiu para a Ferrari para ocupar a vaga de Rubens Barrichello. E aqui traço um paralelo dos cenários vividos pelos dois brasileiros. Rubinho chegou na Ferrari com um papel bem definido. Seu companheiro, Michael Schumacher, era o dono do time, aliás, da F-1 quase toda. Era um piloto que se projetava acima de todos do grid. Cabia a Barrichello acompanhá-lo e, quando desse, superá-lo.
Para Rubinho ficava aquela motivação de um dia conseguir a possibilidade, que nenhuma outra equipe havia lhe dado, de estar na briga por vitórias. De resto, esperaria abandonos, falta de sorte ou até mesmo acidentes, como Eddie Irvine pode aproveitar, do companheiro famoso. Nada disso aconteceu e a ele somente foi dada a chance, que poucos têm, de ser um coadjuvante de bom destaque,.o que ele fez com competência.
A situação de Massa foi bem diferente. O piloto assumiu a vaga ao lado de Schumacher sabendo que o prazo de validade do alemão estava próximo de acabar. Schumi não era mais tão jovem. Assim, para Massa, era apenas aprender, crescer e esperar um momento oportuno, algo que demorou apenas uma temporada. E no lugar dele chegou Kimi Raikkonen, um piloto veloz como poucos, mas longe de querer liderar um time.
Em três temporadas juntos (duas e meia, se considerarmos o acidente de Felipe em Budapeste), Massa foi superado no primeiro ano, e deu o troco no ano e meio seguinte. Quando perdeu, o finlandês foi campeão por um ponto. Quando venceu, o brasileiro perdeu o campeonato por um ponto. Cruel, mas a vida na F-1 é assim.
Além de bons resultados, com poles e vitórias, Massa assumiu o papel de liderar a equipe, algo que não faz parte da essência de Kimi. O brasileiro ditava rumos no desenvolvimento do carro, era atendido em suas solicitações, querido pelos funcionários do time, do alto ao baixo escalão, e conseguiu estar entre os ponteiros.
Essa situação injeta em um profissional uma confiança incrível, que interfere na performance em todos os sentidos. Não apenas no esporte, mas em qualquer empresa em geral.
Com a chegada de Alonso, o papel de líder virou-se a ele, e coube a Massa voltar a ocupar uma posição que ele esperava ter deixado para trás e não viver mais. Por mais que o brasileiro se esforce, é impossível não ser tomado por um certo abatimento, além de se desdobrar em dois para alcançar o nível do companheiro. Nesta caminhada os erros se tornam ainda mais frequentes e a diferença cresce em níveis maiores do que o normal.
Concordo com o Ico que talvez fosse melhorar ignorar um pouco Alonso e cuidar apenas do seu, sem se cobrar permanentemente chegar ao nível do espanhol. Talvez sem esse peso, rendesse mais.
Ao mesmo tempo, reconheço que não deve ser fácil. "Mandar" em um time e ter de voltar um degrau deve ser algo duro. No meio jornalístico o exemplo é comum. Quantos locutores e repórteres esportivos de rádio e TV eram considerados os titulares, após anos de luta e trabalho duro, para depois voltar a ocupar um papel coadjuvante, que fosse ser o segundo na empresa. É impossível o profissional não sentir um abalo, por menor que seja.
Geralmente, para voltar a render o que se espera, é necessário mudar de ares. Sair do canal A e recomeçar no B. Mas na F-1, o mercado é menor, e sair de uma Ferrari pode representar nunca mais andar entre os dez primeiros. Decidir, então, é tarefa ingrata, além de fugir completamente de apenas escolhas pessoais dos pilotos. Existem mil fatores que movem as peças no grid para cá ou lá, e esta difícil imaginar para que lado Massa irá em 2013.
2 comentários:
irá para casa cuidar da mulher e do filho..ha..e da grana.
ex-piloto em atividade!!!
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