* Por Luis Fernando Ramos
Em Interlagos eu conversei com David Coulthard sobre o futuro incerto de Rubens Barrichello e, depois de fazer muitos elogios ao amigo e, durante muitos anos, adversário, o escocês fez quase uma súplica. “Se ele terminar o inverno sem uma vaga, espero que ele apareça em Melbourne para que nós do paddock, um ambiente onde ele é tão popular, possamos dar a despedida que ele merece”.
É uma ideia para a qual eu dou todo meu apoio. Quase todos os seus patrões estarão por lá: Eddie Jordan, Jackie Stewart, Jean Todt, Ross Brawn, muito possivelmente Frank Williams. Seus bons amigos e até alguns desafetos de pista, também: Michael Schumacher, o próprio Coulthard, Felipe Massa, Sebastian Vettel, Fernando Alonso, enfim, tanta gente muito boa que tem apreço de sobra ao piloto brasileiro (com uma óbvia exceção). Seria uma festa muito bacana.
Muita gente se pergunta porque Barrichello não fez como o próprio Coulthard: em 2008, quando ficou óbvio que a Red Bull o trocaria pelo promissor Sebastian Vettel, o escocês combinou com o time e anunciou sua saída das pistas durante uma coletiva de imprensa em Silverstone. Na despedida em Interlagos teve bolo, mecânicos vestiram kilts e ele bateu numa confusão na primeira curva. Tchau, David.
Se Barrichello tivesse feito o mesmo, talvez atendesse o desejo de muitos de seus fãs e de seus detratores. Mas não teria sido fiel a si mesmo. Ele queria correr, ora, havia uma chance. Tanto que, há poucas semanas, os “medidores de negociação” da imprensa mundial chegaram a colocá-lo como favorito à vaga (e aqui eu abro um parênteses: estão vendo como isso não é notícia e não serve para nada?). Não deu, mas o tempo vai tratar de encontrar uma outra forma para que ele continue dando vazão ao seu amor pela velocidade e pela competição.
Tenho certeza que, quando foi informado que não fora o escolhido, Rubens chorou. Não por desespero, porque seu mundo havia caído ou como uma criança desamparada. Chorou simplesmente porque se emocionou ao perceber que sua longa e bonita relação com a Fórmula 1 havia chegado ao final. Com altos e baixos, como toda a relação.
Esta capacidade de ter os sentimentos o tempo inteiro à flor da pele é a maior virtude de Rubens Barrichello. Sim, virtude, embora muita gente ache que o choro sincero e honesto seja um defeito. Tudo isso tornava entrevistá-lo um exercício dos mais bacanas, especialmente nas primeiras palavras no calor de uma corrida.
Muitas vezes a expressão do rosto de um piloto diz mais do que o discurso politicamente correto que eles costumam empregar. Com Barrichello, você tinha as duas coisas: quando ele estava chateado com alguma coisa, dava voz à isso. Para nós da imprensa, era um alento lidar com um piloto sem subterfúgios, no estilo “what you see is what you get”. Com sua saída da F-1, só sobrou Sebastian Vettel - que, ainda assim, mede bem suas palavras na hora de criticar.
As entrevistas mais “frias”, no motorhome, também eram especiais. Na quinta-feira, quando temos mais tempo já que o piloto não está na correria de reuniões com os engenheiros, os papos com Barrichello sempre duravam mais de dez minutos porque a gente sabia que ele respondia à todas as perguntas. E nos acostumamos a se aproveitar disso para fazê-las: dúvidas técnicas, questões políticas, análises esportivas. Ali dava para ouvir a experiência de quem ficou por tanto tempo na Fórmula 1. E aprender muito sobre o funcionamento dela.
Algo que foi muito falado ontem foi de como será estranho pensar na Fórmula 1 sem a sua presença. Acreditem, o paddock vai sentir tanta falta dele quanto ele vai sentir falta do paddock. Quando o brasileiro bateu a marca de GPs de disputado de Riccardo Patrese, o motorhome da Honda em Istambul lotou para uma grande festa. Mas nada se compara ao que aconteceu sob o teto da Williams em Spa-Francorchamps, por conta dos 300 GPs, que ficou completamente tomado. Era inacreditável o tamanho do sorriso nos rostos de gente normalmente sisuda celebrando a companhia de um cara de quem elas realmente gostavam. Nunca vi nada que chegasse perto disso em todos estes anos cobrindo a Fórmula 1.
Ainda não falei com Barrichello depois do anúncio. Embora ele tenha escrito no twitter que tinha “o futuro aberto”, tenho claro que isto não inclui mais a F-1. Muitos torcedores que gostam muito dele me perguntam se ainda não tem chance dele ir para outra equipe. Gente, só tem vaga na HRT. Ele não vai para a HRT. Ele não vai correr mais na F-1.
O futuro só ficou aberto justamente porque a categoria não pôde fazer uma despedida à altura para o brasileiro, como bem colocou David Coulthard. Seja em Melbourne ou em Interlagos, quiçá com ele dando umas voltas pela pista com algum carro que tenha marcado sua carreira. Mas ela tem que acontecer. Quando for o caso, os olhos dele vão marejar. E todos, no paddock, nas arquibancadas ou na frente da televisão, vão agradecê-lo por isto.
4 comentários:
Besteira esse lance de despedida da F1, ele ja devia estar c/ as malas prontas e agendando testes nos EUA..
``quiçá com ele dando umas voltas pela pista com algum carro que tenha marcado sua carreira´´. sei não galera mas acho meio dificil a Ferrari ceder aquele carro de 2002usado na corrida da AUSTRIA...
ele perdeu a chance de se despedir em interlagos/2011... F1 agora já era, o negócio é olhar pra frente!!!
Olha pra frente, pra cima tb!
Olha ali, pra cima do México, nos EUA...tem a Indy lá....demorô!
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