segunda-feira, 1 de abril de 2013
A hora da atitude*
* Por Fábio Seixas
“A paz acabou na equipe campeã do mundo (…) A disputa começa a fugir do controle. A prova de ontem foi uma corrida de riscos desnecessários. Os dois andaram no limite do possível.”
O relato é de Mario Andrada e Silva, um dos melhores repórteres de F-1 deste país, e foi publicado nesta Folha em 24 de abril de 1989.
Tratava do GP de San Marino, disputado na véspera, em Imola. A corrida em que a cordialidade entre Prost e Senna foi para o vinagre.
Havia, ali, um acordo de cavalheiros entre os dois: não atacar na curva Tosa na primeira volta. Ambos concordaram que o risco seria grande. Era a segunda corrida do calendário, o campeonato apenas se esboçava, não valia a pena cometer loucuras.
Houve duas largadas. Na primeira, Senna manteve a ponta, mas a prova foi suspensa na quarta volta, depois que Berger arrebentou a Ferrari na Tamburello. Na segunda, Prost pulou à frente logo nos primeiros metros. Veio a Tosa. E acho que aqueles que não viram ou não se recordam podem agora imaginar o que Senna fez.
Foi a declaração de guerra, o estopim para a deflagração de uma das mais agressivas rivalidades do esporte. Prost levaria aquele campeonato 13 corridas depois, jogando seu carro sobre o do companheiro, em Suzuka. O brasileiro daria o troco no ano seguinte. Até o final da vida de Senna, ambos se odiariam e protagonizariam duelos épicos, para sorte do torcedor.
A gênese não é muito diferente do que aconteceu em Sepang, no domingo. Segunda corrida do campeonato longo, equipe dominante nos últimos anos, o piloto mais abusado desrespeitando um acordo, partindo para cima do mais cerebral, vencendo.
Vettel merece críticas pela deslealdade, mas também compreensão por ter feito valer o instinto de competidor. Mais críticas merece a Red Bull, por tentar suspender a disputa, o esporte. Como a Mercedes. Como a Ferrari, tantas vezes criticada pelo mesmo motivo neste espaço.
Mas o ponto é: e o Webber? Vai reagir? Vai endurecer? Vai chutar o balde e se tornar um adversário para Vettel?
Seria sensacional. O australiano não tem muito a perder. Aos 36 e na 12ª temporada na F-1, já começou o Mundial sabendo que provavelmente seria o último.
Desde 2010, quando começou o reinado da Red Bull, foram 60 GPs. Em 18, ou 30%, a primeira fila foi da equipe. É tentador imaginar o que poderia ter acontecido se não houvesse ordens via rádio.
Que Webber se rebele. Que decida não entrar na história como mais um subserviente. Que confronte publicamente a equipe _e a marca Red Bull_ com o irrefutável argumento do espírito esportivo.
Aqueles que não aguentam mais interferências do pitwall agradeceremos aliviados.
“A paz acabou na equipe campeã do mundo (…) A disputa começa a fugir do controle. A prova de ontem foi uma corrida de riscos desnecessários. Os dois andaram no limite do possível.”
O relato é de Mario Andrada e Silva, um dos melhores repórteres de F-1 deste país, e foi publicado nesta Folha em 24 de abril de 1989.
Tratava do GP de San Marino, disputado na véspera, em Imola. A corrida em que a cordialidade entre Prost e Senna foi para o vinagre.
Havia, ali, um acordo de cavalheiros entre os dois: não atacar na curva Tosa na primeira volta. Ambos concordaram que o risco seria grande. Era a segunda corrida do calendário, o campeonato apenas se esboçava, não valia a pena cometer loucuras.
Houve duas largadas. Na primeira, Senna manteve a ponta, mas a prova foi suspensa na quarta volta, depois que Berger arrebentou a Ferrari na Tamburello. Na segunda, Prost pulou à frente logo nos primeiros metros. Veio a Tosa. E acho que aqueles que não viram ou não se recordam podem agora imaginar o que Senna fez.
Foi a declaração de guerra, o estopim para a deflagração de uma das mais agressivas rivalidades do esporte. Prost levaria aquele campeonato 13 corridas depois, jogando seu carro sobre o do companheiro, em Suzuka. O brasileiro daria o troco no ano seguinte. Até o final da vida de Senna, ambos se odiariam e protagonizariam duelos épicos, para sorte do torcedor.
A gênese não é muito diferente do que aconteceu em Sepang, no domingo. Segunda corrida do campeonato longo, equipe dominante nos últimos anos, o piloto mais abusado desrespeitando um acordo, partindo para cima do mais cerebral, vencendo.
Vettel merece críticas pela deslealdade, mas também compreensão por ter feito valer o instinto de competidor. Mais críticas merece a Red Bull, por tentar suspender a disputa, o esporte. Como a Mercedes. Como a Ferrari, tantas vezes criticada pelo mesmo motivo neste espaço.
Mas o ponto é: e o Webber? Vai reagir? Vai endurecer? Vai chutar o balde e se tornar um adversário para Vettel?
Seria sensacional. O australiano não tem muito a perder. Aos 36 e na 12ª temporada na F-1, já começou o Mundial sabendo que provavelmente seria o último.
Desde 2010, quando começou o reinado da Red Bull, foram 60 GPs. Em 18, ou 30%, a primeira fila foi da equipe. É tentador imaginar o que poderia ter acontecido se não houvesse ordens via rádio.
Que Webber se rebele. Que decida não entrar na história como mais um subserviente. Que confronte publicamente a equipe _e a marca Red Bull_ com o irrefutável argumento do espírito esportivo.
Aqueles que não aguentam mais interferências do pitwall agradeceremos aliviados.
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