terça-feira, 20 de novembro de 2012
Críticas justas?*
* Por Luis Fernando Ramos
Tomei um susto quando cheguei na Ferrari de número 6 ao final de uma divertida caminhada pelo grid do Circuito das Américas. Vi Felipe Massa já colocando a balaclava e em processo de vestir o capacete, o que impediria qualquer chance de entrevistá-lo. Vi ele também com uma expressão séria, sobrancelhas cerradas, cara de poucos amigos.
Me lembrei na hora do Felipe Massa que costumo encontrar nos outros grids da vida. Concentrado sim, mas tranquilo e pronto para abrir uma risada numa entrevista ou na conversa com seus engenheiros. Em Austin, era claro que ele estava incensado pela decisão da Ferrari em quebrar o lacre do câmbio de seu carro. Entrei no seu campo de visão e fiz um sinal assertivo com a cabeça. Ele respondeu batendo no peito. Como havia feito no pódio em Interlagos/2008. Era um sujeito indo para a guerra.
O que se seguiu foi a melhor pilotagem de Felipe Massa em muito tempo. Uma prova em que teve de trabalhar duro para recuperar terreno. E em que terminou muito perto do favorecido Fernando Alonso - que contou com pista livre a maior parte do tempo. A ultrapassagem de Massa sobre Kimi, por fora na curva 2, foi um exemplo claro do espírito de luta do brasileiro.
Depois da corrida, ficou claro que o que eu tinha visto antes e durante dela eram sinais de um dia de extrema tensão entre o piloto e a equipe. Enquanto Massa dava entrevistas, seu empresário e grande amigo pessoal Nicolas Todt apareceu na área reservada para isso, o que nunca acontece. Com os olhos marejados. Os dois se deram um forte abraço, não tinha sido um dia fácil para ninguém.
É importante que os torcedores entendam qual era o estado de espírito do piloto no domingo. Porque a frustração de muita gente com a falta de “fair play” (embora não de legalidade) da decisão estratégica da Ferrari acaba recaindo sobre o brasileiro e não sobre a equipe. Capacho e submisso são alguns dos adjetivos que os torcedores lhe imputam. Como se ele tivesse algum controle sobre a situação. Como se pudesse simplesmente não aceitar a ideia da equipe e receber um “então tá bom, continua como está” como resposta. Desculpe tirá-los do mundo da fantasia, mas a Fórmula 1 não funciona assim.
O que os torcedores poderiam cobrar de Massa era sua saída do time no final deste ano para não ter que se submeter à este tipo de situação. Pergunto: o saguão do aeroporto ficaria lotado para receber o herói nacional que deu um basta às politicagens da Ferrari? A audiência da categoria menor que ele iria correr explodiria com sua presença, enquanto a da Fórmula 1, este esporte vil, se reduziria à minúsculos traços? Sabemos que não.
O que este tipo de pensamento não percebe é que ninguém na Fórmula 1 corre por amor à pátria nem em primeira e nem em segunda instância. Nem Ayrton Senna, com toda sua apoteose da bandeira, corria. Mesmo que eles valorizem muito sua nacionalidade, se emocionam com o hino ou com a vibração da torcida em Interlagos. Mas correm, em primeira linha, por si mesmos, são esportistas, competitivos e têm o maior prazer em se sentar no carro de corrida mais avançado que existe.
O torcedor está certo em se irritar com Massa por algumas corridas péssimas que ele fez no início do ano, andando num ritmo infinitamente inferior ao do companheiro de equipe. Mas o que ele poderia fazer além de ficar absolutamente puto e tentar argumentar com o time até onde foi possível que não seria justa a decisão tomada em Austin? Era mesmo o máximo. Pelo menos, ele deixou claro que ficou chateado, mas acatou (teve de acatar) a ideia da Ferrari. Fazer um escândalo público ou pedir as contas e ir para casa não eram alternativas. Qualquer uma das duas deixaria o piloto sem fazer o que mais gosta na vida, andar de Fórmula 1. E aí, a decisão é só dele.
“Ah, mas o Senna, o Schumacher, o Alonso, etc, jamais se sujeitariam a isso”, alguém vai argumentar. Não se sujeitariam pois eram mais velozes que seus companheiros de equipe. O único “pecado” do Massa, no fundo, é não conseguir superar o espanhol do outro lado da garagem - justamente aquele considerado o mais completo do grid hoje em dia. Mas talvez o episódio de Austin tenha incendiado o brasileiro. Lá, ele andou num ritmo até melhor que o de Alonso. Foi mal?
Meus 50 cents.
Tomei um susto quando cheguei na Ferrari de número 6 ao final de uma divertida caminhada pelo grid do Circuito das Américas. Vi Felipe Massa já colocando a balaclava e em processo de vestir o capacete, o que impediria qualquer chance de entrevistá-lo. Vi ele também com uma expressão séria, sobrancelhas cerradas, cara de poucos amigos.
Me lembrei na hora do Felipe Massa que costumo encontrar nos outros grids da vida. Concentrado sim, mas tranquilo e pronto para abrir uma risada numa entrevista ou na conversa com seus engenheiros. Em Austin, era claro que ele estava incensado pela decisão da Ferrari em quebrar o lacre do câmbio de seu carro. Entrei no seu campo de visão e fiz um sinal assertivo com a cabeça. Ele respondeu batendo no peito. Como havia feito no pódio em Interlagos/2008. Era um sujeito indo para a guerra.
O que se seguiu foi a melhor pilotagem de Felipe Massa em muito tempo. Uma prova em que teve de trabalhar duro para recuperar terreno. E em que terminou muito perto do favorecido Fernando Alonso - que contou com pista livre a maior parte do tempo. A ultrapassagem de Massa sobre Kimi, por fora na curva 2, foi um exemplo claro do espírito de luta do brasileiro.
Depois da corrida, ficou claro que o que eu tinha visto antes e durante dela eram sinais de um dia de extrema tensão entre o piloto e a equipe. Enquanto Massa dava entrevistas, seu empresário e grande amigo pessoal Nicolas Todt apareceu na área reservada para isso, o que nunca acontece. Com os olhos marejados. Os dois se deram um forte abraço, não tinha sido um dia fácil para ninguém.
É importante que os torcedores entendam qual era o estado de espírito do piloto no domingo. Porque a frustração de muita gente com a falta de “fair play” (embora não de legalidade) da decisão estratégica da Ferrari acaba recaindo sobre o brasileiro e não sobre a equipe. Capacho e submisso são alguns dos adjetivos que os torcedores lhe imputam. Como se ele tivesse algum controle sobre a situação. Como se pudesse simplesmente não aceitar a ideia da equipe e receber um “então tá bom, continua como está” como resposta. Desculpe tirá-los do mundo da fantasia, mas a Fórmula 1 não funciona assim.
O que os torcedores poderiam cobrar de Massa era sua saída do time no final deste ano para não ter que se submeter à este tipo de situação. Pergunto: o saguão do aeroporto ficaria lotado para receber o herói nacional que deu um basta às politicagens da Ferrari? A audiência da categoria menor que ele iria correr explodiria com sua presença, enquanto a da Fórmula 1, este esporte vil, se reduziria à minúsculos traços? Sabemos que não.
O que este tipo de pensamento não percebe é que ninguém na Fórmula 1 corre por amor à pátria nem em primeira e nem em segunda instância. Nem Ayrton Senna, com toda sua apoteose da bandeira, corria. Mesmo que eles valorizem muito sua nacionalidade, se emocionam com o hino ou com a vibração da torcida em Interlagos. Mas correm, em primeira linha, por si mesmos, são esportistas, competitivos e têm o maior prazer em se sentar no carro de corrida mais avançado que existe.
O torcedor está certo em se irritar com Massa por algumas corridas péssimas que ele fez no início do ano, andando num ritmo infinitamente inferior ao do companheiro de equipe. Mas o que ele poderia fazer além de ficar absolutamente puto e tentar argumentar com o time até onde foi possível que não seria justa a decisão tomada em Austin? Era mesmo o máximo. Pelo menos, ele deixou claro que ficou chateado, mas acatou (teve de acatar) a ideia da Ferrari. Fazer um escândalo público ou pedir as contas e ir para casa não eram alternativas. Qualquer uma das duas deixaria o piloto sem fazer o que mais gosta na vida, andar de Fórmula 1. E aí, a decisão é só dele.
“Ah, mas o Senna, o Schumacher, o Alonso, etc, jamais se sujeitariam a isso”, alguém vai argumentar. Não se sujeitariam pois eram mais velozes que seus companheiros de equipe. O único “pecado” do Massa, no fundo, é não conseguir superar o espanhol do outro lado da garagem - justamente aquele considerado o mais completo do grid hoje em dia. Mas talvez o episódio de Austin tenha incendiado o brasileiro. Lá, ele andou num ritmo até melhor que o de Alonso. Foi mal?
Meus 50 cents.
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